O céu está azul, limpo e claro. Os níveis de poluição são reduzidos, o ruído é baixo. O trânsito flui, os transportes públicos funcionam. Sempre que ouvi falar de Pequim, a cidade era invariavelmente associada à imagem de milhares de pessoas nas ruas com máscaras anti-poluição.
Talvez tenha sido antes – e ainda é em vários dias de cada mês – mas a capital chinesa está agora mais limpa, segura e organizada do que nunca. Medidas como a circulação alternada – com base nos números das matrículas – investimento em energias renováveis e a aposta em veículos eléctricos permitiram reduzir os níveis de poluição.
Em Pequim, grande parte dos automóveis já são eléctricos e o governo chinês pretende acabar de vez – num curto espaço de tempo – com a circulação de carros movidos a combustíveis fósseis. Quando na Europa se passam anos a discutir medidas para combater os níveis de poluição e as alterações climáticas, na China (pelo que percebi) depressa se passa das palavras aos actos.
Obviamente, ainda existem muitos problemas por debelar e o país asiático continua a ser um dos maiores poluentes. Isto nota-se, sobretudo, fora de Pequim – onde proliferam indústrias e centrais de energia.
A imagem que muitos de nós tem da China não podia ser mais errada. Pensa-se num país fechado, pobre, oposto ao progresso. Para perceber a China é preciso vê-la, percebê-la, visitá-la e vivê-la. Não chega ler e ouvir o que nos contam. A verdade estará algures entre as duas versões. A que se passa na China e a que nos contam através das notícias nos jornais, rádios e canais de televisão internacionais.
Em termos tecnológicos, a China está na vanguarda. Poder-se-á sempre discutir se a tecnologia é usada para facilitar a vida dos cidadãos ou apenas para garantir o controlo de acções e movimentos. O exemplo mais flagrante é a aplicação Wechat, que qualquer cidadão chinês tem de ter. E digo-o no sentido mais literal, pois esta aplicação serve não apenas para trocar imagens, mensagens e conversar com amigos, mas vai muito além de ser uma rede social – é uma ferramenta indispensável na China.
Com o Wechat, qualquer pessoa com conta bancária chinesa tem acesso a uma vasta rede de serviços: desde comprar bilhetes de comboio, a pagar entradas em museus, até à comprar 1 kg de maçãs numa banca de rua, encomendar uma refeição ou ler a informação sobre uma estátua numa praça de qualquer cidade. Basta ligar a aplicação e fazer a leitura do código QR.
Por isso é impensável sair de casa sem o telemóvel ou ficar sem bateria. Aliás, isto é quase impossível, pois em restaurantes, supermercados, lojas de conveniência, museus, existem “power banks” para recarregar o telemóvel. Qualquer pessoa pode levá-lo e devolvê-lo noutro local, dispensando assim o inconveniente de ficar “desligado”.
Também pela necessidade constante de ter ligação à internet – no metro, nos comboios, nos parques nacionais, em túneis de montanha, em qualquer lado – a cobertura e ligação à internet é garantida. Novos e mais velhos todos a usam, é indispensável e o dinheiro é quase uma miragem.
Por enquanto, os pagamentos estão barrados a quem não disponha de conta bancária num banco local. Dado que tudo passa por esta aplicação, é por isso uma fonte vital de informação para marketing e governos. Se a isto for associado o uso de câmaras de vigilância, é muito mais fácil ter acesso a todos os movimentos de qualquer cidadão.
Se para quem viaja do continente europeu, uma aplicação deste género seria vista como uma (grave) intrusão à privacidade, na China todos (com quem falei) a encaram como uma enorme conveniência. O telemóvel deixou de ser um objecto de luxo, para ser um bem essencial.
É com esse mesmo telemóvel que muitos cidadãos em Pequim (e noutros locais da China) colocam música a tocar nos parques, nas ruas, nos becos ou em qualquer local que lhes apeteça. É aí – com ajuda de um altifalante bluetooth ou apenas um velho rádio – que a música toca e mulheres e homens se exercitam e dançam.
Este é um dos modos de se manterem activos antes e depois de estarem reformados. É assim que encaram a vida pós-laboral. Não se resignam ao facto de terem 60, 70, 80 ou mais anos e de pensarem que a vida está a acabar. Pelo contrário, os progenitores parecem ter mais energia que filhos e netos.
Numa dessas noites, numa praça de Pequim, à meia-luz, homens e mulheres – sem se conhecerem – vão chegando e dançando uns com os outros. No final de cada música trocam de par. Enquanto uns chegam, outros fazem o caminho contrário e pegam na bicicleta e seguem à sua vida, sem preconceitos, sem despedidas, sem qualquer outra intenção que não seja relaxar. Sem qualquer olhar de condenação.
Para isto e qualquer outra actividade, mais ou menos comum, mais ou menos curiosa, pouco ou demasiado ortodoxa, os chineses fazem-no porque lhes apetece, porque gostam, porque querem. E pouco se importam se alguém parar para observar (e desaprovar).
É, talvez, um dos sentimentos que mais retenho enquanto estou na China. Cada pessoa, cada grupo de cidadãos faz o que deseja, sem pensar no que terceiros poderão pensar de estar a dançar com desconhecidos numa rua meio-escura à hora de jantar. Ou do que o vizinho poderia dizer por estar a cantar sentado no banco do jardim, a tocar flauta ou outro instrumento musical.
E ao contrário dos músicos que vemos em cidades europeias não esperam – nem sequer aceitam – que alguém lhes dê alguma compensação financeira. Fazem-no, não para receber algo em troca ou agradar a visitantes ou turistas, mas para seu próprio prazer. Fazem-no porque sim.
Num parque, talvez deva dizer ginásio ao ar livre, o avô de 70 e tal anos não só explica ao neto como fazer a espargata como a faz com a maior das facilidades. Ao lado, idosos entre os 60 e 80 anos ocupam as máquinas de ginásio no interior do Templo do Céu.
Que contraste este com países como Portugal onde apesar de proliferarem lojas de desporto, os números de praticantes deixam bastante a desejar. E são poucos os municípios que investem neste tipo de equipamentos que – quando existem – são utilizados por mais jovens e raramente pelos mais velhos. Estes ficam em casa a ver os aborrecidos programas de televisão, sentados nos bancos do jardim ou nos degraus à porta de casa a ver o tempo passar.
Quantas vezes já ouvi idosos que – com menos ou mais saúde – esperam, dizem-me, pela morte. Na China, muitos dos homens e mulheres com a mesma idade vivem cada dia até à última gota de suor, como se fosse o último. Mas esperam que não o seja, porque estão mais vivos do que nunca.
Homens e mulheres dançam, pulam, cantam, esbracejam, correm, nadam, caminham e fazem mais acrobacias aos 70 do que haviam feito nos 50 anos anteriores. Se pudesse escolher, gostaria de envelhecer como os chineses. Ou talvez deva dizer, rejuvenescer como a maioria deles.
De Portugal a Macau – crónica #25
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