Não me imaginava regressar a Ancara tão cedo (ou sequer regressar – leia aqui porquê). Mas ainda menos de duas semanas depois de lá ter passado, fui obrigado a voltar à capital da Turquia. E não poderia ter sido mais diferente o regresso à cidade turca.
Caminhava, de noite, pelas ruas da cidade – depois do melhor kebab de borrego de toda a viagem, num restaurante aberto desde 1963 – à procura do melhor caminho ou atalho para a estação de comboios de Ancara, sem ter que dar a volta a um imenso quarteirão, atravessar ruas e avenidas cheias de carros que nunca param nas passadeiras e, por vezes, nem nos semáforos.
Atrás de mim seguia um homem com o filho que me interpelou e me indicou um túnel onde as luzes do tecto piscavam de modo incessante. Um túnel ao estilo dos filmes que vemos no cinema, com aspecto nada apelativo e onde ocorrem os piores crimes. Mesmo assim, lá segui as instruções desse homem e caminhei por esse lugar nada convidativo.
As fachadas, negras do fumo, estavam salteadas com montras sujas e outras fechadas. Algumas diria que nessa condição há vários anos, pois alguns dos objectos ainda aí expostos acumulavam várias camadas de pó: como uma no início do túnel, especializada em roupas militares.
Se a confiança de por ali atravessar era pouca, pior seria quando vi aquele homem vir a correr na minha direcção já dentro do túnel. Afinal, as minhas suspeições eram infundadas, pois a simpatia turca – cujas doses já tinha recebido em vários locais do país – voltou a ressaltar.
Pensando ter-se equivocado ao dar-me indicações, resolveu correr com o filho para ter a certeza se eu estava a procurar o caminho para a estação de comboios ou apenas para o Metro (Ankara ray) – cuja entrada era numa porta ao lado.
Desta mesma forma, em Ancara, um outro homem fez questão de me levar até à paragem de autocarros quando eu pretendia apanhar uma ligação para outro local da Turquia. Perdeu alguns minutos antes de ir para o emprego – talvez a vontade não fosse muita e tivesse saudades de Istambul de onde era originário – para me guiar até ao local certo.
Nesse mesmo autocarro, discutiria assuntos com um vendedor farmacêutico. Primeiro, o futebol, claro.
Mostrou-me os nomes de mais de uma dezena de futebolistas portugueses que nos últimos anos actuaram na liga turca, desde Simão Sabrosa a Raul Meireles, Fernando Meira, Makukula, Edinho (o herói da vitória no Euro 2016) e, claro, o mais popular entre os turcos: Ricardo Quaresma.
Mas este viajante de negócios, estava mais interessado em saber qual a imagem da Turquia que transparece para o exterior. Respondo-lhe a imagem não é negativa, mas que ainda existe receio devido aos ataques terroristas de há poucos anos. Aliás, na minha mente ainda estão esses actos hediondos praticados na capital turca, Ancara, e também mais especial de todas as cidades do país: Istambul.
Temos esta conversa numa altura em que parecem, na Turquia, surgir ventos de mudança na política e governação do país – ou pelo menos nos desejos da população. E isso é evidente na forma como oiço muitas pessoas a discutir mais abertamente um futuro diferente – e também pela recente vitória do partido da oposição em Istambul.
Pela primeira vez em 25 anos, um partido que não o do presidente Erdogan venceu as eleições para a câmara da principal cidade turca. E a oposição controla agora os destinos das cidades que representam mais de 60 por cento do PIB da Turquia.
No entanto, basta sair para algumas zonas rurais, como fiz na região de Konya, e comprovar que Erdogan continua a ser uma figura proeminente. Disso se dá conta com mensagens de apoio ou enormes cartazes com a cara do líder turco estampadas e penduradas nas fachadas de várias habitações.
Querendo saber quanto é o ordenado em Portugal – onde tem clientes para os quais exporta produtos farmacêuticos – este vendedor questiona-me porque é Portugal um país pobre.
Refiro-lhe vários motivos, talvez haja mais, ou talvez a minha percepção não seja a correcta, mas é a minha e é esta que lhe transmito nesta nossa conversa: maus governos, péssimos governantes e políticos, empresários sem qualificações, má utilização de fundos, corrupção. “Igual à Turquia”, diz-me.
Conto-lhe o que havia visto na noite anterior no documentário Shadow World da Al Jazeera – uma investigação sobre o comércio internacional de armas baseada no livro de Andrew Feinstein.
Aí era abordado o negócio de compra e venda de armas e um dos intervenientes desses negócios contava como era fácil “domesticar” (leia-se corromper ou comprar) políticos. “Os políticos são como as prostitutas. A única diferença é que é necessário mais dinheiro para os comprar, mas o dinheiro compra tudo”.
Os países do Mediterrâneo e outros adjacentes partilham uma grande parte da cultura e costumes e, em igual medida, problemas. Será que isso vai mudar, que a corrupção vai desaparecer, que haverá evolução? Enquanto houver homens no mundo, isso é improvável. Em Ancara, percebi que Portugal e Turquia não são afinal tão diferentes.
De Portugal a Macau – crónica #12
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