Ancara Gar – Kayseri lia-se no bilhete electrónico que tinha no meu telemóvel. Kayseri é a cidade mais próxima da Capadócia para onde se pode viajar de comboio. Poderia ter viajado de autocarro em pouco mais de três horas, mas além da paisagem ser bonita, o bilhete do comboio custava 30 liras (4,50€), ao contrário de um autocarro que iria custar o dobro. Por isso, quis abdicar de fazer o percurso pela via férrea, mesmo demorando o dobro do tempo.
A Turquia tem investido nos últimos anos milhões de liras em comboios de alta velocidade, mas a região da Capadócia ainda não foi abrangida pelo TGV turco.
As obras já avançam e, por isso, quando cheguei à estação de Ancara para apanhar o comboio (como indicava o bilhete) disseram-me que tinha de apanhar um shuttle para outro local, cujo nome e localização desconhecia por completo.
Abordo o condutor do veículo, do shuttle, que me pede, sem pressas o bilhete. Diz-me que está tudo certo e pede-me para colocar a mala dentro do compartimento do autocarro.
Fico preocupado, porque restam apenas 10 minutos até à partida partida do comboio e não o via com qualquer intenção de partir com esse transporte complementar em breve. Ainda apontei para o relógio, mas ignorando-me lá se dirigiu a outros passageiros.
Perceberia, mais tarde, que este shuttle era, efectivamente, o início da viagem entre Ancara e Kayseri… de comboio ou pelo menos parte dela de comboio. Levado de autocarro por mais de uma hora, descobriria que este transfer era, afinal, um transporte de substituição até as obras das novas ligações férreas estarem finalizadas.
Não gosto de despedidas, nem de fazer malas, mas ao preparar-me para sair de Ancara (mesmo de autocarro) senti-me aliviado. A capital da Turquia não vai deixar-me saudades e é daquelas cidades a que digo categoricamente que não desejo voltar.
Do princípio ao fim, esta cidade que nem tem muito para ver, não estava no meu itinerário de viagem De Portugal a Macau, mas por razões pessoais e pela necessidade de obter um visto para um dos países seguintes tive de visitar Ancara.
Ancara não deve receber muitos turistas estrangeiros e se todos os visitantes forem tratados como fui, talvez não valha a pena sequer pensarem em lá ir. Ser enganado por um taxista é, em qualquer parte do mundo, perfeitamente normal.
Até na Internet há sites que se dedicam ao assunto e deve ser esta uma das profissões mais detestadas – quiçá só além da classe política e dos árbitros de futebol.
Porém, quando numa cidade nos tentam enganar, do taxista ao vendedor do bilhete de autocarro, do empregado do café ao funcionário do supermercado, então começa a notar-se um certo padrão de desonestidade.
Não pretendo, com isto, de forma alguma, dizer que todas as pessoas em Ancara são desonestas, no entanto, depois de estar há quase um mês na Turquia e de ter passado por outros sítios mais e menos turísticos, fui bem acolhido em todos eles.
Em Istambul ou em Konya ofereceram-me fruta, frutos secos, bagels, em Eskinsehir até houve alguém que me guiou pela cidade e insistiu em pagar (e pagou mesmo) o jantar. Parece que tudo o que me foi dado antes, Ancara queria tirar.
Talvez por isso a mulher de um pequeno quiosque, onde todas as tardes comprei um fresco sumo de laranja natural, se tenha mostrado tão surpreendida quando ela se enganou no troco e voltei para trás para lhe devolver o troco em excesso que me havia entregado.
Em San Sebastián, a primeira paragem da minha odisseia De Portugal a Macau, falaram-me de como, nessa cidade espanhola, a honestidade é um ponto essencial da sociedade basca. Em Ancara, encontrei o mais extremo oposto.
Além de excessivamente feia, os níveis de poluição e ruído de Ancara são abismais, a agressividade dos condutores atinge um nível recorde (e eu já tinha visto como era em Konya). Poder-se-à dizer que em Ancara vivem milhões de pessoas, mas a capital tem três vezes menos habitantes que Istambul, a capital sentimental da Turquia.
Assim, este número de população não pode servir como argumento (ou desculpa) para a lição de desonestidade que recebi na capital turca. Não se trata dos montantes envolvidos, porque estamos a falar de umas meras liras aqui e ali.
Decidido a quebrar este ciclo, empenhei-me, com a ajuda de uns vídeos online a aumentar o meu vocabulário turco, permitindo-me assim passar a ser mais um novo turco a viver por ali. Até porque, pela minha aparência por várias vezes pensaram que eu era nacional da Turquia.
Com essa aparência e um pouco de vocabulário, tornava-se mais simples não ser ludibriado se soubesse mais algumas frases básicas. E embora não tenha resolvido o problema na totalidade, deu um óptimo contributo para rejeitar outros avanços desonestos.
Para complementar este cenário, a Embaixada de Portugal, onde necessitava de ir tratar de alguns papéis, reforçou esta premonição. Fui recebido, ou – para ser mais correcto – não fui recebido. Nem me foi possível aceder ao edifício para fazer qualquer pergunta.
Na rua, os seguranças pediram-me a identificação e disseram-me, em turco, para esperar cinco minutos. 20 minutos depois o telefone tocou e, na rua, lá disse à funcionária da embaixada ao que vinha. Algo tão simples como autenticar uma assinatura e enviar por fax.
A resposta: hoje não é possível. Tem de enviar um e-mail para marcar. “E amanhã pode ser?”, perguntei. A resposta foi pronta: “Não sei, não lhe consigo dizer.”
Já tinha tido anteriormente, em Londres, outra péssima prova de como os serviços de embaixadas e consulados portugueses não funcionam. Felizmente nenhum dos casos era uma emergência.
Em contraste, umas ruas abaixo, fui recebido com sorrisos, simpatia e disponibilidade pelos funcionários da embaixada desse país “malévolo” à vista de muita gente: o Irão.
O mundo virou-se ao contrário, pelo menos para mim, em Ancara. Redimiu-se a capital turca pela melhor Simit (argolas de pão turcas com sementes de sésamo) que haveria de comer na Turquia. Quente, acabada de fazer, tostada, saborosa, tão gostosa que quase perdoei a Ancara o sabor amargo que me deixou na boca.
De Portugal a Macau – crónica #10
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