Já fiz várias caminhadas no Algarve, sobretudo no Litoral, mas fui deixando o interior do Algarve para outros momentos. Todavia, este ano decidi finalmente explorar a Via Algarviana e caminhar por alguns dos percursos para descobrir segredos, paisagens e histórias da região.
Neste trilho sou guiado pela Anabela e a Carina, da Almargem, a associação que criou e tem dinamizado esta longa travessia terrestre entre Alcoutim e o Cabo de São Vicente, em Sagres.
Por motivos óbvios, este troço nunca poderá competir, em termos paisagísticos, com outras caminhadas como os Sete Vales Suspensos ou o Trilho de São Lourenço na Ria Formosa.
Porém, o silêncio da serra, a tranquilidade da paisagem, a distância do turismo de massas, a simpatia e disponibilidade das gentes locais, o cheiro aromático das estevas, do rosmaninho e outras plantas. Os sabores gastronómicos, com base em enchidos e queijos, mas também produtos do rio e de caça seduzem-nos facilmente.
Além disso, as águas refrescantes da Ribeira da Foupana dão vida a várias espécies de plantas e animais e conferem cor à paisagem. Lentamente, esta vai-nos conquistando a cada curva, em cada íngreme encosta, porque a vegetação é variada, mesmo quando não aparenta sê-lo.
Ao caminhar no interior do Algarve, sentimo-nos (e estamos) longe do caos turístico do litoral. Mesmo quando é preciso encontrar forças para resistir à subida do termómetro e buscar uma sombra temporária para fugir às ondas de calor sufocante do interior do Algarve.
Talvez um motivo para ter gostado deste sector da Via Algarviana seja afinal que “este” Algarve cheira (e sabe) a Alentejo — a minha região de origem. Aqui deixamos que nos abram as portas e janelas de casa, que nos encham a alma com conversas simples e nos sirvam os inimitáveis sabores do interior algarvio — do rio à serra. Só mesmo o caminhar com 30 graus, me fez (ainda que brevemente) pensar no mar — e que afinal nem está assim tão longe.
A Via Algarviana tem potencial para se tornar numa referência do turismo de natureza.
Informação prática sobre o trilho Balurcos – Furnazinhas (Grande Rota — GR13)
Este trilho pedestre, no interior do Algarve, tem início na localidade de Balurcos de Baixo, no cruzamento junto à estrada N122 (N37º25’31.65’’ W7º30’27.25’’). Este é o segundo sector, de um total de 14 que compõem a Via Algarviana ou a Grande Rota (GR13).
A Via Algarviana liga Alcoutim ao Cabo de São Vicente, em Sagres. Este longo trajecto estende-se por cerca de 300 km pelo interior do Algarve, até desembocar nas águas do Atlântico.
O trilho entre Balurcos e Furnazinhas é marcado, inicialmente, por terreno plano, com caminhos rurais, onde se encontram muros de pedra e também uma velha relíquia do parque automóvel: um Citroën 2 cavalos.
No entanto, cedo se começa a ver a paisagem verdejante da serra algarvia. As partes mais exigentes do percursos estão antes e depois da Ribeira da Foupana. Antes de chegar à ribeira é preciso caminhar um pouco pelo asfalto, passar por cima do viaduto do IC27 e continuar a subir.
Pouco depois, volta a descer-se até ao nível do curso de água. E é depois da ribeira que somos confrontados com a fase mais exigente da etapa. São cerca de 2 km de subida contínua, contornando a serra, num movimento lento e circular que parece não ter fim.
Aproveite para fazer algumas pausas, beber um pouco de água, tirar umas fotos panorâmicas e apreciar as belas vistas serranas. Depois desta subida não terá mais nenhuma dificuldade até chegar às Furnazinhas, já que o percurso se torna plano.
- Designação: Balurcos — Furnazinhas
- Localização: Concelho de Alcoutim (Algarve)
- Início e final do trilho: Balurcos de Baixo (N 37 25.525 W 7 30.457) e final nas Furnazinhas
- Distância: 14,3km
- Duração: 4 horas
- Tipo de trilho: linear
- Dificuldade: fácil
- Sinalização: sinalizado em toda a extensão do caminho
O que levar para o trilho Balurcos – Furnazinhas (Grande Rota — GR13)
- Garrafa de água reutilizável (não existem pontos de água potável) — Comprei esta garrafa de água e recomendo-a
- Calçado normal adequado para caminhada (o terreno é acidentado)
- Chapéu de sol
- Óculos de sol
- Máquina fotográfica
- Protector solar
- Mapas em papel ou aplicação no telemóvel
- Saco para o lixo (não há contentores de lixo ao longo do caminho, excepto nas localidades de Palmeira e Corte Velha)
Perguntas frequentes sobre o sector Balurcos-Furnazinhas
Quanto custa fazer esta caminhada?
Esta caminhada é de acesso livre. Não existe qualquer pagamento devido.
Qual é a melhor altura para fazer a caminhada?
Esta zona é muito quente e árida no Verão. Escolha um dia mais fresco ou comece por volta das 7 da manhã se quiser fazer a caminhada nos meses mais quentes, o que mesmo assim nem recomendo.
No dia em que iniciei a caminhada, em meados de Maio, a temperatura máxima para o dia era de 31 graus. Caminhar nesta parte de Portugal com temperaturas de 30 graus centígrados torna-se insuportável, quando se está no meio da vegetação onde muitas vezes o vento não sopra e onde há poucas sombras.
De uma forma geral, diria que os melhores meses para fazer esta caminhada em Alcoutim são entre Setembro e o início de Maio.
No Verão não recomendo esta caminhada por dois motivos: o primeiro é que o calor é muito elevado e poderá representar um perigo para a sua saúde. O segundo, é que a paisagem no Verão tem pouco brilho, não há praticamente zonas verdes e as flores já há muito desapareceram. Sem dúvida que os meses de final de Inverno e de Primavera são os mais apelativos em termos de paisagem.
Qualquer que seja a altura do ano que vai caminhar, não se esqueça de ter bastante água consigo (veja outras dicas importantes mais abaixo).
Onde começar a caminhada?
Trata-se de um percurso linear, com início em Balurcos de Baixo. Pode igualmente começar este troço da Via Algarviana no sentido oposto, começando nas Furnazinhas. Eu optei por começar o percurso em Balurcos — o início oficial deste sector de caminhada.
Quanto tempo preciso para fazer a caminhada?
O percurso total é de cerca de 14 km. Dadas as subidas e descidas que vai encontrar pelo caminho, com uma pausa recomendada junto da Ribeira da Foupana, eu diria que entre 4 e 5 horas é o tempo necessário para caminhar toda a extensão deste sector da Grande Rota.
Como é o terreno ao longo do trilho Balurcos — Furnazinhas?
O trilho é quase todo em terra batida, com subidas e descidas acentuadas em alguns momentos. Além disso, uma parte do percurso é em feito em estrada asfaltada.
Em termos físicos, necessita de preparação física para percorrer esta rota pedestre. É considerada uma etapa fácil, mas a extensão (14 km), as subidas e descidas provocam desgaste — além da temperatura elevada nesta zona algarvia.
Há locais para descansar ou restaurantes?
Não existem estruturas de apoio ao longo deste trilho pedestre no interior do Algarve. Para mim (e para as guias que me acompanharam) foi uma zona de sombra à beira da Ribeira da Foupana que nos salvou das altas temperaturas durante uns minutos. Aí aproveitámos também para um breve piquenique e para ganhar fôlego para a maior subida do percurso.
Não existem restaurantes no percurso. No entanto, na zona recomendo que almoce ou jante na Taberna do Ramos, onde me foi servida uma fantástica refeição no final da etapa (voltei a Balurcos de carro depois de ter terminado nas Furnazinhas). Há um pequeno café nas Furnazinhas, mas estava encerrado no dia que caminhei.
A tábua com enchidos, queijo e torresmos deu o mote. E ainda se seguiram outras iguarias como a tradicional cenoura algarvia, o coelho frito e migas com carne de porco preto. Se ainda tiver espaço no estômago prove uma das sobremesas.
Este percurso pedestre em Alcoutim pode ser feito com crianças?
Não. Este é um percurso muito longo com terreno acidentado, com subidas e descidas acentuadas. Eventualmente, poderá ser apto para adolescentes, desde que tenham alguma preparação física.
No entanto, devido à morfologia do terreno (com várias subidas e descidas mais exigentes) vão ficar muito cansados.
É necessário um mapa?
Não creio que seja necessário um mapa para fazer esta caminhada nesta parte do Algarve. O caminho está sinalizado e é fácil seguir as setas. Se quiser uma pequena ajuda para saber quantos quilómetros faltam ou já percorreu, recomendo a aplicação gratuita que uso sempre: Maps.me.
Pontos de interesse no trilho pedestre de Alcoutim
Gentes locais
Não há muitos pontos de interesse neste sector, além da fauna e flora. No entanto, destacaria a passagem por algumas localidades, como Palmeira, onde se pode trocar um dedo de conversa com os cidadãos locais, alguns isolados e que apreciam bastante a nossa atenção ainda que por breves minutos.
A Via Algarviana é também uma viagem cultural.
Paisagem rural
Pelo caminho pode ainda encontrar fornos comunitários, alguns poços e noras, o tal Citroën 2 cavalos e um moinho de vento (em ruínas).
Cursos de água
Ali não muito longe passa o grande rio do sul — o Rio Guadiana. No entanto, não é possível avistá-lo deste sector da Grande Rota, entre Balurcos e Furnazinhas.
No entanto, irá passar pela Ribeira da Foupana, que nasce na Serra do Caldeirão, perto da localidade de Cortiçadas, sendo este um dos principais cursos de água do concelho de Alcoutim e que atravessa todas as freguesias.
Fauna e Flora
A paisagem é diversificada e a fauna e flora mediterrânica estão presentes em todo o lado. Espécies de plantas como a esteva, loendros, funcho, ou trovisco. Podem encontrar-se ainda ervas aromáticas, sobretudo em redor da Foupana, como o poejo (óptimo para alguns pratos tradicionais e licor), alecrim ou rosmaninho.
Enquanto caminha é possível que encontre alguma fauna local, como o papa-figos, coelho-bravo, perdiz e talvez consiga observar algumas aves de rapina como a águia-perdigueira — uma ave discreta, mas muito eficaz nas caçadas de lebres ou perdizes.
Tranquilidade e recato
Nesta altura, quase todos procuram sossego e tranquilidade. Este não é um ponto único de interesse, mas é um dos motivos para fazer esta caminhada. Provavelmente não irá encontrar mais ninguém enquanto percorre os 14 km do trilho. A serenidade da paisagem é irresistível.
Informação extra
Dica extra — festival de caminhadas de Alcoutim
Desde 2014, Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana (no outro lado do Guadiana, em Espanha) organizam um festival de caminhadas. Realizado em Março de cada ano, este é um dos três festivais do tipo nesta região do interior do Algarve.
O festival de caminhadas de Alcoutim — além dos percursos pedestres dá a conhecer a cultura e gastronomia da região. Em alguns dos percursos pode provar produtos locais como mel, pão e frutos.
Avisos importantes antes de iniciar a caminhada
- Em épocas de muita chuva deverá tentar saber junto da população local qual o estado do caudal da Ribeira da Foupana
- Como alguém que nasceu e viveu no Alentejo com mais de 40 graus durante o Verão, devo sublinhar que o calor neste percurso pedestre não deve ser subestimado. Não tente fazer esta caminhada durante o período de maior calor no Verão. Faça-se ao caminho por volta das 7h00 (ou antes) quando o sol tem (ainda) pouca força
- Consulte o risco de incêndio na zona
- Tenha cuidados redobrados se tiver chovido
- Beba pequenas quantidades de água com frequência para evitar a desidratação. Se sentir náuseas ou tonturas procure um local fresco para arrefecer a temperatura corporal
- Não tente fazer esta caminhada com chinelos, pois o terreno é muito acidentado. Diga sim aos ténis ou botas de caminhada e não aos chinelos
O bom e o mau da caminhada
Positivo
A tranquilidade do percurso, quase sempre em silêncio (excepto as partes asfaltadas que referi anteriormente perto do IC27). A beleza da paisagem, as vistas panorâmicas para a Ribeira da Foupana e o contacto com as gentes locais.
Negativo
Não é uma questão do percurso em si, mas o facto de o ter feito já algo tardiamente na Primavera. A paisagem já tinha perdido algum do seu carisma e, também por isso, recomendo que faça este percurso a partir de Outubro até início de Maio.
Algumas partes do percurso implicam caminhar em terreno asfaltado, o que não é agradável, mas felizmente é por apenas alguns minutos.
Contactos essenciais
Almargem (Associação responsável pela Via Algarviana) | 289 412 959
Agência Portuguesa do Ambiente | 218 430 000 / 289 889 000
Câmara Municipal de Alcoutim | 281 540 500
Delegado de Saúde regional | 289 889 516
Bombeiros Voluntários de Alcoutim | 281 540 450
Serviço Municipal de Proteção Civil | 962 864 914
Emergência | 112
Incêndios | 117
Como chegar a Alcoutim
Na verdade, percorrer a Via Algarviana implica, quase sempre dispor de dois carros (um em cada ponto do trilho) ou em alternativa, a utilização de transferes privados ou de uma agência de turismo como a Proactivetur.
De autocarro
De Lisboa (e de outros pontos de Portugal) pode viajar para Castro Marim ou Vila Real de Santo António, mas também existe um autocarro para Balurcos (onde começa a caminhada). Consulte aqui os horários e preços.
Comboio
De Lisboa pode viajar para Castro Marim ou Vila Real de Santo António em cerca de 4 horas no Alfa Pendular ou no Intercidades. O comboio sai de Lisboa várias vezes por dia e só tem de mudar em Tunes para apanhar, depois, o comboio regional.
Pode comprar os bilhetes online no site da CP. Depois precisará de um autocarro ou transfere para chegar a Balurcos ou Alcoutim.
Alugar um carro
A melhor forma de chegar a Alcoutim é alugar um carro. Ganha em flexibilidade e conforto. Pode facilmente alugar um carro para chegar a Alcoutim em qualquer aeroporto de Portugal se não dispuser de viatura própria.
Se, por exemplo, voar para Faro ou chegar de comboio à capital algarvia, pode alugar um carro no aeroporto e daí seguir para Alcoutim pela EN122 e pelo IC27. De carro, desde Lisboa, são cerca de 270 kms.
Ter uma viatura à sua mercê é a melhor forma de explorar o Algarve e até aproveitar para conhecer muitas mais zonas, sobretudo no interior, onde é mais complicado chegar de transportes públicos.
Hotel em Alcoutim
Não existem muitas opções para pernoitar em Alcoutim, mas eu recomendo o Hotel D’Alcoutim. Aí fiquei alojado duas noites. As instalações são óptimas, a piscina é boa e vista para o Guadiana é excelente. O pequeno-almoço continental é bom. Em resumo, a relação qualidade-preço é adequada.
Outra opção é Alcoutim é a Pousada da Juventude.
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
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