Ainda mal tinha percorrido 100 metros e avistava os primeiros animais selvagens. É esta uma das razões porque adoro fazer um safari no Etosha.
Um desses animais era uma girafa que, do alto da sua elegância, ia mastigando as folhas das acácias, num movimento monótono e incessante. A variedade e quantidade de espécies que habita o mais importante de vida selvagem da Namíbia é excepcional.
Este não foi o meu primeiro safari no Etosha, já lá tinha estado anteriormente e sabia, quase de memória, os locais que queria ver, onde queria ficar (e onde não ir ou não ficar). No entanto, queria também explorar outras zonas do parque, como na zona de Namutoni, no lado Leste do Parque Nacional Etosha.
Em todos os parques de campismo existem cadernos de registo que, por cordialidade e simpatia, os turistas vão preenchendo todos os dias. Estes registos de avistamentos de vida selvagem motivam-me para sair de novo para a estrada para encontrar mais espécies.
No entanto, confesso que por vezes me deixam frustrado quando faço centenas de quilómetros — das 6h00 da manhã às 6h00 da tarde – e não encontro os animais mais desejados: como leões, leopardos ou chitas.
“Vi uma chita com duas crias, na estrada, junto à entrada”
“Vi uma manada com 20 elefantes, três quilómetros a sul”
“8 leões e 3 crias, 10 quilómetros a leste da entrada”
“1 elefante em cima de uma árvore…” (Uma piada!)
Mas, quando fizer um safari no Etosha, irá notar um aviso comum em letras gordas (ao estilo Trump) – PLEASE DO NOT REGISTER RHINO SIGHTINGS!
A justificação para este pedido aos turistas é a protecção dos rinocerontes, em particular os rinocerontes negros, que habitam o Etosha. Nos últimos anos, o abate de rinocerontes por caçadores furtivos aumentou bastante e torna-se cada vez mais complicado avistá-los durante um safari no Etosha.
Em 2015, por exemplo, mais de 80 rinocerontes foram abatidos na Namíbia, para retirar o marfim e vender para o mercado asiático. Por ignorância, lucro financeiro ou estupidez, pensa-se que o marfim tem benefícios medicinais.
A Namíbia tem uma população de cerca de 1750 rinocerontes negros, representando mais de um terço da população mundial da espécie. Os rinocerontes negros da Namíbia são únicos e capazes de sobreviver sem água durante vários dias.
Na década de 70, existiam mais de 70 mil exemplares em todo mundo e apenas 80 na Namíbia. Felizmente, esforços de conservação contrariaram a quase extinção da espécie.
Na visita anterior ao Etosha já tinha avistado rinocerontes negros e brancos e desta vez volto a ser bafejado pela sorte. De dia e de noite consigo avistá-los e fotografá-los.
Gostaria de dizer-lhe onde os avistei para que os pudesse ver na próxima visita, mas para os proteger dos caçadores furtivos vou ocultar essa informação.
Nunca irei perceber quem caça animais selvagens desta forma bárbara (ou de outra forma). A única forma louvável de caçar animais que conheço é caçá-los visualmente: a olho nu, com binóculos ou máquina fotográfica. E nada como fazer um safari no Etosha.
De gorro, luvas e polar no Etosha
Viajo, como quase sempre faço, de forma independente e também organizo o safari no Etosha da mesma forma. Já o tinha feito antes e tinha toda a informação que necessitava para me aventurar de novo pelas estradas poeirentas do parque.
Isto não é uma crítica às estradas, porque, aliás, prefiro pó e lama ao asfalto que se encontra noutros parques.
Acredito que assim se mantém um certo encanto ou espírito fiel às origens do parque e espécies. Correndo o risco de exagerar nesta minha comparação, talvez uma estrada asfaltada transformasse o Etosha num gigante jardim zoológico.
O Etosha é um dos melhores locais em África para fazer um safari e embora possa fazê-lo numa viatura normal, recomendo que alugue um 4×4. As duas principais vantagens são: menos furos e melhor ponto de vista.
A diferença de altura entre um carro e uma carrinha 4×4 é substancial e esses centímetros extra podem ser fulcrais no avistamento dos animais na densa savana africana.
Por outro lado, as estradas do Etosha (e em grande parte da Namíbia) são de gravilha ou terra batida com gravilha e os furos são frequentes e bastante mais comuns em carros do que em 4×4.
Nesta minha nova visita, decidi de antemão que iria participar num safari, de algumas horas, organizado pelo parque. Os preços são acessíveis e podia escolher entre um passeio antes do nascer do sol, a meio do dia, ao pôr-do-sol ou à noite.
À noite apenas é possível sair para observar vida selvagem em passeios organizados pelo parque. Todos os visitantes têm de regressar com as suas viaturas aos locais de alojamento ou sair do parque nacional ao pôr-do-sol.
As horas são anunciadas com antecedência e até existem relógios no portões de saída com essa indicação.Escolhi o passeio da manhã e apresentei-me junto da recepção do parque de Namutoni pouco depois das cinco da manhã. Sou o primeiro a chegar, mas não tardam a chegar outros 11 ou 12 turistas.
No grupo reconheço os meus “vizinhos” campistas, que minutos antes, tinha visto a preparar-se para sair da tenda – no topo do tejadilho. Antecipei um pouco a minha chegada ao ponto de encontro assinalado, porque queria escolher um lugar no jipe onde melhor pudesse fotografar os animais que avistasse.
“Não há garantias. Boa sorte”. As palavras anunciadas pela funcionária da recepção no dia antes, seriam repetidas pelo guia/condutor que nos acompanha nesta saída madrugadora. Sorte é o que precisaríamos, porque a vegetação está densa e a noite muito escura.
Munido de uma enorme lanterna com um alcance incomum, o guia conduz a 10 kmh/. Vestido com um casaco polar, luvas e gorro, vai parando e tentando avistar algum animal. Na maioria das vezes é apenas ilusão de óptica.
Uns centímetros acima, neste jipe adaptado para safaris, os visitantes vestem uma espécie de gabardine polar fornecida pelo parque, já que as noites são bastante frias nesta altura do ano.
Duas turistas alemãs, talvez surpreendidas pela temperatura, vestem calções e t-shirts e sofrem com a descida dos termómetros. Enquanto aquelas duas raparigas batem o dente, neste jipe descoberto, um metro à frente, vejo o guia a ligar o aquecimento.
Pára repentinamente e aponta a lanterna para o lado direito do veículo: “Vaca-do-mato”, exclama. É um antílope com pele avermelhada, muito bonito.
Porque são os elefantes do Etosha dos maiores do mundo, mas têm as presas mais pequenas?
Avistar leões num safari no Etosha, ou em qualquer outro lugar de África, é o objectivo maior de qualquer visitante. No entanto, no Etosha, os leões rivalizam com os rinocerontes e elefantes nesta luta pela popularidade.
Os elefantes de Etosha são dos maiores do mundo e o Parque Nacional Etosha contém cerca de 2500. Mesmo assim, avistá-los não é tão vulgar como se imagina. Os elefantes adultos macho podem atingir 5000 kg e quatro metros de altura, embora tenha havido indivíduos que pesavam quase 10000 kg.
O elefante africano é o maior animal selvagem do Etosha e o maior animal terrestre do mundo. No entanto, uma característica peculiar é a dimensão reduzida das presas de marfim. Já tinha pensado perguntar ao guia qual a razão desta, quase, anomalia mas encontro a explicação por acidente.
Num dos poucos locais especificados para sair em segurança da viatura, enquanto espero pelos outros turistas que foram a correr para o WC, aproveito para saciar este meu apetite pelo conhecimento da maior espécie selvagem do Etosha.
Diz o gigante painel, que essas anomalias são causadas por traços hereditários e por deficiência mineral na alimentação, o que faz com que as suas presas se partam facilmente.
Talvez tenha sido essa deficiência física que lhes tenha valido, já que o pouco marfim que lhes cresce no rosto os torna em alvos poucos apetecíveis para os caçadores furtivos.
Agora que já sei quase tudo sobre os elefantes do Etosha, gostava mesmo era de ter a companhia de um (ou vários) por alguns minutos – penso para mim.
O guia aponta para um rinoceronte ao fundo no horizonte, do lado esquerdo, a uma distância tão grande, que mesmo espreitando pelos binóculos se torna difícil perceber a sua forma.
Do lado direito, vejo um vulto nos arbustos e preparo a máquina fotográfica, enquanto dou a indicação ao guia. Num safari, todos partilhamos avistamentos e é um trabalho de equipa, porque 20 olhos vêem mais e melhor que dois.
De trás da alta vegetação sai, provavelmente, o maior elefante que já vi durante os safaris que já fiz em África – na Namíbia e Botswana. Arrasta-se em passo lento e prepara-se para atravessar a estrada poeirenta, enquanto o guia escolhe o melhor local para imobilizar o veículo, sem lhe obstruir o caminho, o que a acontecer seria muito perigoso.
Não disponho de medidas oficiais, mas este elefante mediria bem acima de três metros. Os elefantes tomam banhos regulares de lama para baixar a temperatura e se protegerem do sol e das altas temperaturas, que ascendem aos 40° C.
Devido ao solo branco, os elefantes do Etosha ficam com uma aparência esbranquiçada, quase assombrosa.
É o ponto alto deste passeio organizado pelo NWR – a organização pública da Namíbia – que gere os parques de campismo do país e os parques nacionais.
Durante a manhã, enquanto o sol já queima, avistamos ainda outras espécies durante o passeio de cerca de três horas, mas sem a presença de animais carnívoros por perto.
Mudanças climáticas que influenciam o safari no Etosha
Dias depois de regressar do safari no Etosha e da minha nova viagem à Namíbia, fico furioso quando leio no jornal de The Times que uma grande parte do carvão que alimenta os barbecues no Reino Unido é produzido a partir de árvores abatidas na Namíbia e noutros países de África.
Além disso, o artigo também refere a poluição causada pelo uso deste combustível fóssil e como a indústria do carvão recorre, alegadamente, ao trabalho infantil.
Depois de ler essa notícia, pesquisei mais um pouco e encontrei outras referências às consequências da importação de carvão da Namíbia para o Reino Unido, incluindo parcos salários e condições de trabalho deficientes.
O clima da Namíbia é quente e seco, com chuvas escassas e imprevisíveis. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em África apenas o deserto do Saara supera a Namíbia em aridez. “92% da área terrestre é definida como hiperárida, árida ou semi-árida”, adianta a FAO.
Perante tudo isto, enfurece-me que os países mais ricos fechem os olhos ao abate de árvores (incluindo espécies protegidas) e permitam o avanço da desertificação, além das consequências paralelas que referi acima.
A época das chuvas é curta, mas fundamental, na Namíbia. Normalmente, as chuvas ocorrem de Novembro ou Dezembro até Março ou Abril. Todavia, as mudanças climáticas e o aquecimento global têm afectado os países do Sul de África e 2017 foi um ano onde a seca afectou a Namíbia ou África do Sul, por exemplo.
Em 2018, as chuvas chegaram à Namíbia bastante mais tarde e mesmo em Maio houve locais onde foi registada precipitação anormal. Diz-me um guia em Windhoek, que até houve vítimas de inundações na zona de Caprivi, no Nordeste da Namíbia, uma região banhada pelo Rio Zambeze.
Maio e Junho são os meses que prefiro para fazer um safari no Etosha. Primeiro porque as chuvas já terminaram há algum tempo e já posso avistar animais com maior facilidade, os preços são mais baixos (ainda não é época alta) e há muito menos turistas do que de Julho a Outubro.
Por isso, estranhei desde logo o aspecto semi-verdejante de grande parte da paisagem do Etosha, embora tenha avistado grande parte das espécies que habitam o parque. Com as chuvas tardias, em Maio, a vegetação está ainda muito densa e alta, existem ainda várias zonas com água, o que ajuda a que os animais se dispersem.
Claro que isto também tem factores positivos, pois a erva está macia e a variedade de espécies herbívoras é abundante. Mas, os carnívoros estão longe do alcance dos meus binóculos e lente fotográfica.
“It’s all been very quiet today”, diz o guia, no final do tour, depois de ter circulado pelos locais onde os avistamentos são mais comuns. Com guia ou de forma independente, apesar de centenas de quilómetros que percorri com o 4×4 (durante vários dias) desta vez o meu instinto não me indicou o caminho para nenhum animal carnívoro.
Desta vez não há leões, chitas ou leopardos (embora tenha tido um encontro com um leopardo em Spitzkoppe). Talvez seja o Etosha a dizer-me que tenho de marcar mais uma viagem para a Namíbia para voltar a avistá-los. A minha resposta será (sempre) positiva a essa sugestão.
E, tal como os elefantes têm excelente memória, também eu não vou esquecer mais um sensacional safari no Etosha.
Alguns dos animais selvagens avistados no Etosha
- Águia-rapace
- Avestruz
- Cabra-de-leque
- Chacal
- Elefante
- Elande
- Dik-Dik
- Gazela
- Gato Selvagem
- Girafa
- Gnu
- Hiena
- Impala-de-face-negra
- Mangusto
- Órix-austral
- Rinoceronte Negro
- Rinoceronte Branco
- Texugo do mel
- Vaca-do-mato
- Zebra
Informação extra
Mais informação sobre o Parque Nacional Etosha
Aconselho vivamente a leitura de outros artigos que escrevi para saber tudo sobre o Parque Nacional Etosha. Além de dicas, abordo questões como segurança, transportes e alojamento no maior parque de vida selvagem da Namíbia.
Visto para a Namíbia
Os cidadãos portugueses e brasileiros não necessitam de visto para entrar na Namíbia, apenas o passaporte com um mínimo 6 meses de validade. A permanência é válida por 90 dias.
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Sofia diz
Olá
Onde é o melhor local para ficar no Etosha tendo 3 noites. Vale a pena mudar de hotel ou ficar sempre no mesmo?
As diferentes zonas do parque têm diferentes animais ou é impossível de se dizer?
PS: gosto muito dos seus textos
Jorge Duarte Estevão diz
Olá Sofia. Com 3 noites no Etosha, eu optaria pelo Okakuejo e Halali, o que já permite ver bastante do parque. Ou então até ficar as 3 noites num só lugar. As diferentes zonas permitem ver vários animais, mas a maioria dos animais pode ver-se em qualquer das zonas. O parque é muito grande, mas nessas duas zonas é onde há mais charcos, logo os animais estarão aí (potencialmente) mais concentrados.