A Via Algarviana é uma grande rota de percursos pedestres que une o interior ao litoral — de Alcoutim a Sagres. Em 2021, tive a possibilidade de percorrer vários troços — entre Balurcos e Furnazinhas, em Alcoutim, entre o Barranco do Velho e Salir, no concelho de Loulé e entre Vila do Bispo e Sagres. Pouco mais de um ano depois, volto a trilhar alguns troços adjacentes à Via Algarviana, no concelho de Monchique. São cinco novos trilhos nesta região do interior algarvio que proporcionam momentos, paisagens e experiências distintas.
E, igualmente importante, reforçam a necessidade da aposta no turismo de natureza e, sobretudo, longe do turismo de massas. Caso percorra alguns dos trilhos no litoral, em Lagoa ou Loulé, por exemplo, irá encontrar números, por vezes, elevados de turistas. O acesso é fácil e a proximidade com algumas das zonas mais turísticas também contribui para isso.
Os novos percursos foram desenvolvidos também como resposta à catástrofe natural que, frequentemente, assola Monchique: incêndios — em particular os devastadores fogos de 2018. Implementados no âmbito do programa “Revitalizar Monchique — O turismo como catalisador”, os novos troços pretendem levar turistas a Monchique e ajudar, de forma directa ou indirecta, à recuperação da Serra de Monchique.
Preparo-me para percorrer três dos cinco novos troços: PR9 MCQ – Entre o Vale e o Castelo, PR7 MCQ – Percurso das Hortas e PR8 MCQ – Pelos caminhos de Alferce. Chego a Monchique e, antes sequer da primeira caminhada, almoço num dos restaurantes da vila. Enquanto aguardo pela chegada da refeição, deparo-me com um dilúvio como há muito tempo não via. Não é exactamento o tipo de clima mais convidativo para percorrer caminhos pedestres pela serra.
A previsão não era, também, favorável, para os dias seguintes, mas acabou por se alterar e permitiu que todas as caminhadas previstas fossem efectuadas sem qualquer problema. A chuva esbate-se, para meu alívio, em poucas horas.
Nos dias que caminho por Monchique sou abordado por moradores locais para provar o néctar da região: o medronho. Não posso, mediante circunstância alguma, recusar o convite das pessoas que, de forma genuína, espontânea e amável, me convidam.
Nem posso rejeitar o medronho da Serra de Monchique — fazê-lo seria um pecado grave. Claro que não é impossível aceitar todos os convites e mesmo cair nessa tentação, os copos de medronho vão-se acumulando ao longo do dia.
Portanto, é preciso por vezes fintar os convites. Claro que, se estivesse a conduzir, teria de rejeitá-los a todos. Medronho e condução automóvel não é uma mistura saudável ou segura.
Informação prática sobre os trilhos em Monchique
Estes trilhos pedestres, no interior do Algarve, são pequenas rotas no concelho de Monchique. Têm cerca de 8 km cada (ida e volta) e permitem desbravar quase todo o concelho a pé. Os três trilhos estão bem sinalizados em toda a extensão.
Os cinco novos percursos são:
- PR7 MCQ – Percurso das Hortas (8,2 km)
- PR8 MCQ – Pelos Caminhos de Alferce (7,8 km)
- PR9 MCQ – Entre o Vale e o Castelo (7,2 km)
- Ligação 10 – Via Algarviana (Monchique) a Alferce (11,7 km)
- Ligação 11 – Alferce à Via Algarviana (Monchique) (11,5 km)
Dos cinco, percorri os três primeiros e todos são de baixa dificuldade. O Percurso das Hortas é, na minha opinião, o menos interessante em termos paisagísticos. No entanto, é aquele que permite o maior contacto com a população local e também foi aí que fui tentado a entrar em casas de quem ali vive, de saborear o medronho de Monchique, de ser convidado a pisar o solo das hortas e provar os produtos biológicos — como o saboroso pêro-de-Monchique.
A caminhada foi alimentada por um combustível denominado medronho: na forma sólida (o fruto maduro arrancado das árvores nas encostas da serra) e na forma líquida, ou seja, o licor de medronho.
PR7 MCQ – Percurso das Hortas
Trata-se de um trilho círcular de 8,2 km, que demora cerca de três horas a percorrer, e nos leva por pequenas hortas, bosques e pomares em redor da sede de concelho. O percurso inicia-se e termina junto ao Posto de Turismo de Monchique e ao miradouro no centro da vila algarvia.
PR8 MCQ – Pelos caminhos de Alferce (Monchique)
O percurso de 7,8 km começa na aldeia de Alferce, no concelho de Monchique, e atravessa vales, pontilhados com bosques e riachos. A caminhada começa e termina junto à Igreja Matriz de São Romão, no centro de Alferce.
É comum avistar aves de rapina, como a águia-perdigueira (Aquila fasciata), a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e, na primavera, a águia-cobreira (Circaetus gallicus). Mas pode-se também encontrar o fabuloso papa-figos (Oriolus oriolus).
PR9 MCQ – Entre o vale e o castelo
Dos três percursos que conheci em Monchique, este pareceu-me o mais fantástico em termos paisagísticos. A caminhada ziguezagueia pelas encostas da Serra de Monchique e vai-nos mostrando vales e encostas verdejantes. E, depois, culmina com a cereja no topo do bolo: o castelo islâmico de Alferce. Daí, terá vistas panorâmicas para o vale e para as barragens de Odelouca e do Arade.
O que levar para os trilhos em Monchique
- Garrafa de água reutilizável (não existem pontos de água potável) — Comprei esta garrafa de água e recomendo-a
- Calçado normal adequado para caminhada (o terreno é acidentado)
- Chapéu de sol
- Óculos de sol
- Máquina fotográfica
- Protector solar
- Mapas em papel ou com aplicação no telemóvel
- Saco para o lixo (há contentores de lixo apenas quando se cruzam as localidades, o que é normalmente no início e final das caminhadas, por exemplo no Alferce e Monchique)
Perguntas frequentes sobre as novas rotas em Monchique
Quanto custa fazer estas caminhadas?
Estas caminhadas são de acesso livre.
Qual é a melhor altura para fazer a caminhada?
Esta zona é muito quente no Verão, embora disponha de sombras em várias partes do caminho. Além disso, é fundamental estar atento ao nível de risco de incêndio e consultar o site da Proteção Civil. Escolha um dia mais fresco ou comece por volta das 7 da manhã se quiser fazer a caminhada nos meses mais quentes.
No dia em que iniciei a caminhada, em meados de Outubro, a temperatura era agradável para caminhar. Aliás, tanto o Outono como a Primavera são alturas excelentes para apreciar a paisagem. No Inverno, também poderá caminhar em Monchique, mas terá terrenos mais lamacentos e escorregadios.
Recomendo esta caminhada no Outono, porque o cenário paisagístico é bem mais atraente do que no Verão e ainda poderá provar o fruto maduro do medronho (pode provar o licor de medronho em qualquer altura, mas se desejar assistir ao processo da destila, terá de o fazer em Janeiro ou Fevereiro).
Independentemente da altura do ano que vai caminhar, não se esqueça de ter bastante água consigo (veja outras dicas importantes mais abaixo).
Quanto tempo preciso para fazer as caminhadas?
Os três percursos que percorri têm duração de cerca de três horas cada. Dadas as subidas e descidas que vai encontrar pelo caminho e eventuais pausas para descalçar e calçar ao atravessar algumas ribeiras e riachos, poderá demorar-se um pouco mais.
Como é o terreno ao longo dos trilhos em Monchique?
Os trilhos são quase todos em terra batida, com subidas e descidas acentuadas em alguns momentos. Em termos físicos, não creio que necessite de grande preparação para percorrer estas rotas pedestres. Todas estão classificadas como fáceis. Por vezes é preciso pular sobre algumas árvores queimadas e caídas, mas nenhuma destas é grande obstáculo.
Há locais para descansar ou restaurantes?
Não existem estruturas de apoio ao longo destes trilhos pedestres, com excepção das localidades onde se iniciam as caminhadas, nomeadamente em Monchique. No entanto, existem imensas zonas de sombra para parar ao longo do caminho. Pode fazer uma pausa para apreciar a paisagem e comer alguma da merenda que tenha consigo. Se quiser ter um piquenique organizado, contacte a empresa Alecrim Tours.
No entanto, quando estiver nesta zona de Monchique, estes são os restaurantes que aconselho:
- Foz do Banho
- Luar da Fóia
- A Charrette
- Jardim das Oliveiras
Este percurso pedestre em Monchique pode ser feito com crianças?
Sim. Apesar de haver uma ou outra subida, não vejo grandes dificuldades (além da distância e duração da caminhada). Para adolescentes é um percurso fácil, desde que tenham alguma resistência física. No entanto, devido à morfologia do terreno (com várias subidas e descidas mais exigentes) vão, por certo, ficar cansados.
É necessário um mapa?
Aconselho ter consigo um mapa ou a aplicação da Via Algarviana. Está disponível para iOS e Android.
Na app da Via Algarviana tem todas as informações e ferramentas essenciais em cinco idiomas (português, inglês, francês, alemão e holandês). Através do telemóvel poderá consultar as descrições e fichas técnicas dos percursos. Também pode aceder à navegação offline e ter o mapa do percurso mesmo quando não tem cobertura de rede móvel.
Em alternativa, se quiser uma pequena ajuda para saber quantos quilómetros faltam ou já percorreu, recomendo a aplicação gratuita que uso sempre: Maps.me.
Pontos de interesse nos trilhos pedestres de Monchique
Arte
A Via Algarviana distingue-se de outros percursos pela sua ligação a factores culturais e sociais. É por isso que estas pequenas rotas também são um bom ponto de partida para explorar o que se faz na região. Depois exemplos disso, são o Studio Bongard, um atelier de esculturas de Tara e Sylvain e o Atelier Leonel Telo, que exibe as obras do ceramista.
Medronho
Monchique rima com medronho e é um dos produtos essenciais na região. Ao percorrer a serra irá encontrar medronheiros e a referência ao licor com elevado teor alcoólico.
Esta poderá ser uma forma interessante ou diferente de terminar (ou até quem sabe começar) a caminhada. Poderá ver como é feita a destilação, se visitar em Janeiro ou Fevereiro, e provar um pouco desta forte bebida. Eu visitei a destilaria do produtor António Maria.
Fauna e Flora
A rica vegetação, a abundância de água e a situação geográfica contribuem para que este local seja muito rico em avifauna. Há várias espécies de aves de rapina, o colorido papa-figos, o pisco-de-peito-ruivo, o chapim-de-crista ou gaios.
Em termos de flora, é comum deparar-se com inúmeros sobreiros e carvalhos.
Monchique
Ao planear a caminhada por esta zona do Algarve, deixe algum tempo para passear pela vila de Monchique, ir ao miradouro apreciar as vistas, ou ainda encontrar algumas cascatas como a Cascata do Barbelote ou Cascata do Penedo.
Fotografias dos trilhos em Monchique
Informação extra
Dica Extra
Se tiver tempo, depois das caminhadas, dê um salto às Caldas de Monchique. Reserve um tratamento de recuperação no SPA. Aproveite a piscina, as banheiras de hidromassagem, um duche de Vichy ou de duche de jacto.
Foi assim que terminei um dos meus dias e foi uma excelente forma de recuperar do desgaste de vários dias de caminhada.
A água termal das Caldas de Monchique é indicada para vários problemas de saúde, nomeadamente respiratórios, musculo-esqueléticos, e também para tratamentos de beleza. Já agora fique alojado, como eu, no excelente Pure Monchique Hotel.
Avisos importantes antes de iniciar a caminhada
- Tenha cuidados redobrados se tiver chovido e em épocas de muita chuva tenha especial cuidado ao atravessar as ribeiras
- Não tente fazer esta caminhada durante o período de maior calor no Verão. Parta por volta das 7h00 (ou antes) quando o sol tem (ainda) pouca força
- Consulte o risco de incêndio na zona
- Beba pequenas quantidades de água com frequência para evitar a desidratação. Se sentir náuseas ou tonturas procure um local fresco para arrefecer a temperatura corporal
- Não tente fazer esta caminhada com chinelos, pois o terreno é muito acidentado. Diga sim aos ténis ou botas de caminhada e não aos chinelos
Contactos essenciais
Almargem (Associação responsável pela Via Algarviana) | 289 412 959
Agência Portuguesa do Ambiente | 218 430 000 / 289 889 000
Câmara Municipal de Monchique | 282 910 200
Bombeiros Voluntários de Monchique | 282 910 000
Serviço Municipal de Proteção Civil | 282 910 210 / 80
Emergência | 112
Incêndios | 117
Como chegar a Monchique
Não existem transportes públicos nacionais para chegar a Monchique, mas pode apanhar um autocarro ou comboio para Portimão e aí apanhar o autocarro 94 que circula entre Portimão e Monchique, com vários horários ao longo do dia. Outra alternativa é alugar um carro no Algarve. Com isso ganha em flexibilidade e conforto. Pode facilmente alugar um carro para chegar ao Algarve (ou alugar no Algarve) se não dispuser de viatura própria.
Se, por exemplo, voar para Faro ou chegar de comboio à capital algarvia, pode alugar um carro no aeroporto. Ter uma viatura à sua mercê é a melhor forma de explorar o Algarve e até aproveitar para conhecer muitas mais zonas.
Hotel em Monchique
Eu recomendo o excelente Pure Monchique Hotel. Foi aqui que fiquei alojado duas noites. Os quartos são espaçosos, modernos e confortáveis. O local é silencioso — o que se deseja para quem precisa de descansar para caminhar — e o pequeno-almoço é variado, abundante e saboroso.
Além disso, fica no complexo termal das Caldas de Monchique, o que facilita o acesso aos tratamentos termais.
Há outras boas opções de alojamento, nesta região do Algarve.
- Vilafoia (9.2)
- Alojamento S. Gabriel (9.4)
- Algarve Race Resort (8.2)
- Estalagem Abrigo da Montanha (7.4)
- Villa Termal Monchique (7.3)
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
Já estive em 60 países, por isso se tiver uma viagem em mente com um grupo de amigos, familiares ou colegas de trabalho, contacte-me e terei todo o prazer em planear, organizar e liderar a viagem que deseja. O roteiro poderá ser desenhado à medida, assim como o orçamento e actividades.
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