O troço entre o Barranco do Velho e Salir, no concelho de Loulé foi o segundo da Via Algarviana que percorri, para me inteirar dos segredos, paisagens e histórias da região. O primeiro desafio aconteceu no concelho de Alcoutim, entre Balurcos e Furnazinhas — e que também vale bem a pena desbravar.
Acompanha-me nesta caminhada o João Ministro, um verdadeiro conhecedor da zona e que por aqui já passou inúmeras vezes com dezenas de caminhantes ao longo dos anos. Também ele já no passado percorreu a Grande Rota (GR13) de uma ponta à outra — de Alcoutim ao Cabo de São Vicente, em Sagres.
Tendo eu já explorado vários trilhos no Algarve, como os Sete Vales Suspensos ou o Trilho de São Lourenço na Ria Formosa, sei que em qualquer local as expectativas são elevadas. No entanto, cada caminhada que faço na região acaba por me surpreender. Se nos trilhos do litoral, as falésias e o mar são um chamativo para muita gente, a verdade é que nestes troços mais escondidos no interior algarvio, há outros factores que são valorizados.
Um pouco a exemplo do troço do concelho de Alcoutim, que havia percorrido dias antes, os sabores gastronómicos são imediatamente aprovados por qualquer paladar.
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Cultura e tradições
E a Via Algarviana, porém, tem este tempero adicional: é uma rota que nos abre o horizonte para os sabores gastronómicos, para a cultura e tradições de uma região que ainda está um pouco esquecida. Talvez por isso tenha mantido uma grande parte da sua traça característica. E é também agora esta preservação que seduz quem, como eu, por ali caminha.
Neste troço entre o Barranco do Velho e Salir, vemos ainda uma paisagem que embora pertença a proprietários privados (para extração de cortiça, por exemplo), se mantém em muitos locais quase intocada. E onde o aroma das plantas aromáticas nos puxa e empurra ainda mais para o interior e nos obriga a serpentar as estradas de pó da Serra do Caldeirão.
Quando passamos pelos (ainda resistentes) pedaços de estrada entre muros medievais, quase conseguimos imaginar o dia-a-dia dos camponeses e dos seus animais (ou as bestas como também eram chamados) usados para lavrar as terras. A chegada a Salir, é também a entrada num território rico em história e onde os traços árabes ainda estão presentes.
A cada troço percorrido desta grande rota, do Guadiana ao Atlântico, o cansaço e o desgaste físico vão sendo superados pela recepção calorosa das gentes que se encontra, da mesa posta com o melhor da região, com o ar puro que se inala a cada passo. E troço após troço, só apetece seguir viagem para descobrir ainda mais.
Informação prática sobre o trilho Barranco do Velho-Salir (Grande Rota — GR13)
Este trilho pedestre, no interior do Algarve, tem início na localidade de Barranco do Velho, num cruzamento junto à estrada N2 (37°14’28.0″N 7°56’23.3″W). Este é o sexto sector, de um total de 14 que compõem a Via Algarviana ou a Grande Rota (GR).
A Via Algarviana liga Alcoutim ao Cabo de São Vicente, em Sagres. Este longo trajecto estende-se por cerca de 300 km pelo interior do Algarve, até desembocar nas águas do Atlântico.
O trilho entre Barranco do Velho e Salir tem um início plano, embora num local elevado, de onde podemos de imediato vislumbrar amplas vistas da Serra do Caldeirão. Ao fim de poucos minutos chegamos ao moinho de vento Eira de Agosto de onde a vista se estende até ao mar. Aí avistam-se desde logo vários locais como Salir ou Albufeira.
A paisagem é compacta, em alguns locais, com destaque para as manchas de sobreiros, azinheiras, medronheiros e até alfarrobeiras, além de variadas espécies de plantas. Ao longo do percurso até chegar à Ribeira do Rio Seco, será sempre entre o alto e o baixo do terreno, embora sem grandes exigências físicas.
Após a ribeira (onde se recomenda uma pausa), começará a vislumbrar uma mudança da paisagem, pois entra-se no chamado Barrocal. Este caracteriza-se pela presença de várias elevações calcárias de forma irregular, e aqui revela-se uma maior presença humana, desde logo com espaços abertos, várias hortas e campos agrícolas.
Outra característica interessante é a presença de trilhos amurados — alguns dos quais bastante pitorescos — ladeados por várias espécies de árvores que lhe dão uma aparência de bosque medieval, em estilo Robin Hood.
- Designação: Barranco do Velho — Salir
- Localização: Concelho de Loulé (Algarve)
- Início e final do trilho: Barranco do Velho (N37º14’27.96’’ W7º56’23.29’’) e final em Salir
- Distância: 14,9km
- Duração: 5 horas
- Tipo de trilho: linear
- Dificuldade: fácil
- Sinalização: sinalizado em toda a extensão do caminho
O que levar para o trilho Barranco do Velho-Salir (Grande Rota — GR13)
- Garrafa de água reutilizável (não existem pontos de água potável) — Comprei esta garrafa de água e recomendo-a
- Calçado normal adequado para caminhada (o terreno é acidentado)
- Chapéu de sol
- Óculos de sol
- Máquina fotográfica
- Protector solar
- Mapas em papel ou com aplicação no telemóvel
- Saco para o lixo
Perguntas frequentes sobre interior do Algarve
Quanto custa fazer esta caminhada?
Esta caminhada é de acesso livre. Não existe qualquer pagamento devido.
Qual é a melhor altura para fazer a caminhada?
Esta zona é muito quente no Verão, embora disponha de sombras em várias partes do caminho. Escolha um dia mais fresco ou comece por volta das 7 da manhã se quiser fazer a caminhada nos meses mais quentes.
No dia em que iniciei a caminhada, em meados de Maio, a temperatura máxima para o dia era de 28 graus e era tolerável, sobretudo porque há várias zonas do trilho, na Serra do Caldeirão, onde se pode refugir do sol, devido às boas sombras de sobreiros e azinheiras.
Recomendo esta caminhada na Primavera, porque há imensas flores e aves para observar e o cenário paisagístico é bem mais atraente do que no Verão. Além disso, é bastante mais confortável e menos exigente caminhar com 18 ou 19 graus do que com 27 ou 28 (ou até mais).
De uma forma geral, diria que os melhores meses para caminhar entre o Barranco do Velho e Salir é entre Setembro e o início de Maio. Porém, independentemente da altura do ano que vai caminhar, não se esqueça de ter bastante água consigo (veja outras dicas importantes mais abaixo).
Onde começar a caminhada?
Trata-se de um percurso linear, com início junto à EN2. Pode igualmente começar este troço da Via Algarviana no sentido oposto, em Salir. Eu optei por iniciar o percurso em Barranco do Velho — o ponto de partida oficial deste sector de caminhada.
Quanto tempo preciso para fazer a caminhada?
O percurso total é de cerca de 15 km. Dadas as subidas e descidas que vai encontrar pelo caminho, com uma pausa recomendada junto da Ribeira do Rio Seco, eu diria que entre 5 e 6 horas é o tempo necessário para caminhar toda a extensão deste sector da Grande Rota.
Como é o terreno ao longo do trilho Barranco do Velho — Salir?
O trilho é quase todo em terra batida, com subidas e descidas acentuadas em alguns momentos. Além disso, uma parte do percurso é em feito em estrada asfaltada.
Em termos físicos, necessita de alguma preparação física para percorrer esta rota pedestre. É considerada uma etapa fácil, mas a extensão (15 km), as subidas e descidas provocam desgaste — além da temperatura elevada nesta zona algarvia.
Há locais para descansar ou restaurantes?
Não existem estruturas de apoio ao longo deste trilho pedestre até Salir. No entanto, existem imensas zonas de sombra para parar ao longo do caminho. Pode fazer uma pausa na ribeira do Rio Seco e aproveitar para ganhar fôlego para a maior subida do percurso, enquanto observa a bela paisagem serrana. Aproveite também para espreitar alguns bons hotéis no Algarve.
Não existem restaurantes no percurso. No entanto, na zona recomendo que almoce ou jante na Tia Bia, onde me foi servida uma fantástica refeição (voltei a Barranco do Velho após ter terminado a etapa).
A tábua com enchidos é irrecusável, assim como as migas de bacalhau e o galo de cabidela. Deixe algum espaço para as sobremesas algarvias, com destaque para a torta de alfarroba e a tarte de amêndoa. Acompanhe com vinho algarvio da Quinta da Tôr.
Este percurso pedestre em Loulé pode ser feito com crianças?
Não. Lamento dizer-lhe, mas creio que não é apropriado para crianças. Por um lado são muitos quilómetros para uma criança percorrer, por outro o terreno acidentado, com pedras soltas, subidas e descidas acentuadas não é propício para miúdos. Para adolescentes é um percurso fácil, desde que tenham alguma resistência física.
No entanto, devido à morfologia do terreno (com várias subidas e descidas mais exigentes) vão, por certo, ficar cansados.
É necessário um mapa?
Não creio que seja necessário um mapa para percorrer este sector entre o Barranco do Velho e Salir. O caminho está sinalizado e é fácil seguir as setas. Se quiser uma pequena ajuda para saber quantos quilómetros faltam ou já percorreu, recomendo a aplicação gratuita Maps.me.
Pontos de interesse no trilho pedestre de Loulé
Arquitectura
Logo no ponto de partida da caminhada pode encontrar e visitar a (quase) abandonada Igreja de Nossa Senhora da Conceição ou Igreja do Barranco do Velho. Pouco depois irá encontrar o moinho de vento Eira de Agosto, também este um importante ponto noutros tempos, mas que agora é visitado sobretudo pelas vistas amplas.
Tradições
Ainda no Barranco do Velho há produção local de medronho da Serra do Caldeirão. Esta poderá ser uma forma interessante ou diferente de terminar (ou até quem sabe começar) a caminhada. Poderá ver como é feita a destilação e provar um pouco desta forte bebida da região. Eu visitei a pequena destilaria do Medronho Mourinha.
Além disso, o local apresenta objectos de outros tempos, como rádios antigos, utensílios, panelas em barro, cortiça, etc, como se fosse um mini-museu. A Via Algarviana é também uma viagem cultural.
Fauna e Flora
A fauna e flora estão presentes em todo o lado. Enquanto se caminha sente-se o cheiros das plantas e observa-se tanta variedade que é quase impossível identificá-las a todas. Por exemplo, orquídeas, alecrim, giesta, loendro ou o rosmaninho.
Podem encontrar-se ainda ervas aromáticas, sobretudo em redor da Foupana, como o poejo (óptimo para alguns pratos tradicionais e licor), alecrim ou rosmaninho.
Enquanto caminhava via alguns coelhos-bravos, além de várias aves. É possível encontrar alguma fauna local, como sapos, raposas, javalis, lagartos, borboletas ou pássaros com o melro, tentilhão ou o bonito papa-figos
Salir
Salir é a maior freguesia do concelho de Loulé e assinala o ponto de chegada do sector 6 da Via Algarviana. À chegada a esta vila algarvia, os principais sinais apontam para o Castelo de Salir.
No entanto, recomendo uma visita ao largo da Igreja Matriz de Salir, de onde poderá ter uma vista desafogada para o Cerro Negro ou para a Rocha da Pena, dois pontos de referência da paisagem louletana. Repare também nos vários versos em azulejo instalados no local. No largo existe um restaurante com uma excelente esplanada.
Ar puro
Somente à chegada a Salir se volta a encontrar a presença humana neste percurso. Nos restantes quilómetros de caminhada, terá tempo para respirar o mais puro ar da Serra do Caldeirão, para admirar fauna e flora e até fazer uma viagem introspectiva.
Além do ar puro, o silêncio da serra algarvia é fenomenal. Pare uns minutos, feche os olhos e deixe-se levitar. A tranquilidade e o sossego são imbatíveis. Se, depois, quiser ir para perto do mar, pode espreitar as 6 melhores praias do concelho de Loulé.
Informação extra
Dica Extra
Se tiver tempo e estiver com fome depois da caminhada, dê um salto para almoçar ou jantar num dos melhores restaurantes da região — a Tia Bia. A comida é óptima e as doses bastante generosas.
O galo de cabidela, as migas de bacalhau ou as migas com bochechas são as minhas recomendações. Acompanhe com vinho tinto da Quinta da Tôr (Algarve).
É prudente ligar a marcar, sobretudo ao fim-de-semana. O restaurante fecha para jantares às segundas.
Avisos importantes antes de iniciar a caminhada
- Tenha cuidados redobrados se tiver chovido e em épocas de muita chuva tenha especial cuidado ao atravessar a Ribeira do Rio Seco
- Não tente fazer esta caminhada durante o período de maior calor no Verão. Parta por volta das 7h00 (ou antes) quando o sol tem (ainda) pouca força
- Consulte o risco de incêndio na zona
- Beba pequenas quantidades de água com frequência para evitar a desidratação. Se sentir náuseas ou tonturas procure um local fresco para arrefecer a temperatura corporal
- Não tente fazer esta caminhada com chinelos, pois o terreno é muito acidentado. Diga sim aos ténis ou botas de caminhada e não aos chinelos
O bom e o mau da caminhada
Positivo
As paisagens e vistas panorâmicas da Serra do Caldeirão são arrebatadoras, o percurso está bem marcado, existem imensas sombras, não há lixo e não se encontra praticamente ninguém nesta zona.
Negativo
Infelizmente, num ou outro local o traçado apresenta demasiada intervenção humana. Por exemplo, já perto da chegada a Salir, algumas partes foram cobertas com gravilha branca, que além de ser pouco interessante esteticamente, também causa um enorme desconforto e ruído ao caminhar.
Ainda se conseguem ver locais onde não houve intervenção e em que o traçado está coberto não por gravilha, mas por folhas secas, o que é bastante mais bonito e confortável para percorrer.
Contactos essenciais
Almargem (Associação responsável pela Via Algarviana) | 289 412 959
Agência Portuguesa do Ambiente | 218 430 000 / 289 889 000
Câmara Municipal de Loulé | 289 400 600
Delegado de Saúde regional | 289 889 516
Bombeiros Voluntários de Loulé | 289 400 560
Serviço Municipal de Proteção Civil | 962 864 914
Emergência | 112
Incêndios | 117
Internet e Wi-fi
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Dinheiro
Eu uso o cartão Wise e o cartão Revolut para evitar taxas e comissões bancárias. Viajo sempre com ambos.
Como chegar ao Barranco do Velho
Não existem transportes públicos para chegar ao Barranco do Velho, por isso a única alternativa é alugar um carro no Algarve. Com isso ganha em flexibilidade e conforto. Pode facilmente alugar um carro para chegar ao Algarve (ou alugar no Algarve) se não dispuser de viatura própria.
Se, por exemplo, voar para Faro ou chegar de comboio à capital algarvia, pode alugar um carro no aeroporto.
Alugar um carro
Se tiver viatura própria é muito mais fácil. Opte por alugar um carro com a Rentalcars ou Discovercars. Estes sites permitem comparar os preços e, em muitos casos, pode-se cancelar o aluguer sem custos até 48h antes da partida.
Ter uma viatura à sua mercê é a melhor forma de explorar o Algarve e até aproveitar para conhecer muitas mais zonas, além de poder ficar até mais tarde na praia — para assistir ao pôr-do-sol.
Na verdade, percorrer a Via Algarviana implica, quase sempre dispor de dois carros (um em cada ponto do trilho) ou em alternativa, a utilização de transferes privados ou de uma agência de turismo como a Proactivetur.
Hotel em Loulé (Barranco do Velho)
Partindo do pressuposto que vai apenas percorrer um sector da Via Algarviana, pode escolher ficar em qualquer lugar do concelho de Loulé.
Eu optei por ficar na Casa Brava, um dos melhores alojamentos onde já fiquei hospedado. Situado numa zona pacata de Loulé, a cerca de 25 minutos do Barranco do Velho, dispõe de piscina, um terraço, silêncio, decoração incrível e simpatia da família que gere o B&B. As refeições (o jantar e pequeno-almoço 100% vegan são deliciosos).
Mas depois há outras excelentes opções, entre Loulé e São Brás de Alportel.
- Panoramic Paradise (9.8)
- Farmhouse Of The Palms (9.8)
- Quinta dos Valados (9.6)
- The White House – Boutique Villa (9.5)
- Loulé Jardim Hotel (9.2)
- B&B Casa Encantada (9.2)
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
Já estive em 60 países, por isso se tiver uma viagem em mente com um grupo de amigos, familiares ou colegas de trabalho, contacte-me e terei todo o prazer em planear, organizar e liderar a viagem que deseja. O roteiro poderá ser desenhado à medida, assim como o orçamento e actividades.
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