Passo a voar pelo Belize continental. Não planeei gastar qualquer tempo em cidades ou pequenas terriolas na zona continental do Belize. Antes de entrar neste país da América Central pouco ou nada sabia. Tinha como conhecimento básico que a capital era Belmopan e não a Cidade do Belize (Belize City).
Não queria sequer visitar as ruínas Maia do Belize – Caracol ou Xunantunich (El Castillo). O Belize era o meu terceiro ponto numa longa viagem que tinha começado semanas antes em Xalapa, no México. Desde aí, já tinha percorrido uma grande parte do México e da Guatemala.
E já havia visitado várias incríveis ruínas Maia – como Palenque, Chichén Itzá ou a minha ruína Maia predilecta – Tikal. Por isso, tinha deixado de fora do meu roteiro pelo Belize, os sítios arqueológicos.
Quando planeei a viagem até ao Belize, a ideia sempre foi que acrescentasse mais ao percurso, algo distinto. Por isso, as ruínas Maia foram excluídas – não porque não fossem interessantes ou menos bonitas que outras. Apenas por uma questão de tempo e prioridade.
Do pouco que sabia do Belize, havia um dado que tinha assumido como adquirido – as melhores oportunidades fotográficas e beleza estavam no mar – visto de fora e, principalmente, visto por dentro.
As imagens das águas azuis irresistíveis, das ilhas onde os carros não circulam, onde os ponteiros rodam com passividade, onde os ritmos caribenhos comandam a vida.
Embora mais de 60 por cento do território do Belize esteja coberto por floresta, o pequeno país latino-caribenho é rico em fauna e flora marinhas.
É um marco essencial no Corredor Biológico Mesoamericano e possui a segunda maior Barreira de Corais do mundo – apenas atrás da Grande Barreira de Corais, em Queensland, na Austrália. A importância da Barreira de Corais do Belie é tal que a UNESCO a reconheceu como Património da Humanidade.
As últimas estimativas apontam para mais de 500 espécies de peixes e 100 tipos de coral. No entanto, calcula-se que 90% da Barreira de Corais do Belize esteja por explorar.
Onde está a capital do Belize?
Com pouco mais de 387 mil habitantes, o Belize, é um pequeno país costeiro da América Central, delimitado pela Guatemala e México – é o país com menor densidade populacional desta região do globo.
Se a expressão se aplica a Portugal para um rectângulo à beira-mar plantado, então para o Belize isso é ainda mais verdadeiro, pois de Norte a Sul a distância é de apenas 280 km, enquanto de Este a Oeste é de 100 km.
Com raras excepções, as cidades capitais dos países são locais de destaque, imponentes, onde se concentra o investimento, onde afluem todos os locais e visitantes estrangeiros. Fazem-no, uns para procurar qualidade de vida, e outros para visitar atracções como museus, parques ou admirar arquitectura.
Ainda que na própria América Latina existam cidades com pouco ou nada de relevante para visitar – como a Cidade da Guatemala – continuam a ser centros de afluência.
Resultado de mais divisão de terra por parte de colonizadores, o Belize é uma nação confusa entre o passado colonial e a ligação à monarquia inglesa, mas também entre e o presente e futuro mais inspirados nas nações vizinhas.
Oiço falar espanhol e inglês, vejo brancos, mestiços e crioulos – influências das lutas entre potências e do tráfico de escravos negros. Também por isso é considerado um país da América Central e das Caraíbas.
A independência do Reino Unido apenas aconteceu em 1981, depois de 141 anos sob domínio britânico. Antes disso já havia a pequena nação sido alvo de disputa entre ingleses e espanhóis. Apenas em 1973, as Honduras Britânicas foram de novo rebaptizadas como Belize.
Apercebo-me, apenas com a ajuda de um mapa de papel, que estou a passar nos arredores de Belmopan – a capital do Belize. Belmopan é capital desde 1970, tendo sucedido à Cidade do Belize. A mudança do governo para essa cidade deveu-se ao furacão Hattie que, em 1961, arrasou a anterior capital.
Passo por Belmopan quase sem dar por isso. Nos subúrbios, mulheres e homens belizenses abrigam-se do sol nas varandas. Muitas casas, de madeira, pintadas com cores vibrantes e ao estilo caribenho
Viajo pelo Belize sem GPS e nas povoações, nas estradas, existe pouca ou nenhuma sinalização. Peço direcções a um homem que circula a pé pela estrada, com uma mochila às costas. Cumprimento-o em inglês, responde-me em espanhol.
Falamos então em espanhol – aliás fala ele, pois quem necessitava das instruções para chegar ao porto da Cidade do Belize era eu.
Nas pisadas de Madonna
Quantos de nós, mesmo os piores dançarinos, já vibraram com os ritmos de La Isla Bonita de Madonna. Madonna encontrou inspiração neste pedaço de paraíso para um dos seus maiores sucessos. Seguindo-lhe as pisadas, viajo também eu para a ilha de Ambergris Caye e para San Pedro.
No terminal marítimo da Cidade do Belize, inúmeros turistas preparam-se para esta incursão pelo Mar das Caraíbas, para seguir no barco de alta velocidade até San Pedro. Mesmo quem não resiste aos balanços e saltos – e é afectado pelas náuseas – encontra encanto nas belas águas que atravessamos.
A cor azul turquesa intensifica-se a cada salto, a cada movimento brusco. Durante 45 minutos, assisto ao desconforto de alguns passageiros e ao espanto de outros.
Ao ferry segue-se um táxi aquático para chegar ao resort onde vou pernoitar – um luxo numa viagem de várias semanas. À minha espera, um pedaço de areia esbranquiçado, com palmeiras e coqueiros. À beira-mar, vários caiaques esperam por clientes, mas são as cálidas águas das Caraíbas que me chamam.
Dançar com os tubarões em La Isla Bonita
Deixo as malas no resort e corro para o centro de mergulho – a menos de dois minutos a pé. Apesar da hora já ser um pouco tardia para um passeio até à zona de corais, eu e os meus dois companheiros de viagem, a Ana e o António, conseguimos convencer o Miguel a ir connosco para mais uma sessão de snorkelling em alto-mar.
Na verdade, o guia-capitão do speed-boat parece ainda mais entusiasmado do que nós.
Ao chegar à zona de coral vemos – ainda desde o barco – várias espécies lá em baixo, sem, no entanto, conseguir discernir quais. No interior do barco, Miguel tem duas geleiras – uma com fruta e outra com pequenos peixes.
Abre esta última e atira vários peixes para o mar. Pede-nos para fazer o mesmo e atirar peixes em redor do barco. Segundos depois cria-se um enorme alvoroço dentro de água – quase uma dezena de tubarões, várias raias e centenas de peixes atropelam-se. Os tubarões, claro, mais poderosos chegam primeiro.
Miguel já nos tinha dito antes para saltar para o mar, mas recusámos porque ele próprio parecia reticente. Estava, percebemos agora, a desafiar-nos. “Os tubarões são amigáveis aqui, mas é melhor alimentá-los primeiro”, advertiu, acrescentando enquanto saltava que já era “seguro” ir.
Ficámos alguns segundos a contemplá-lo no fundo do oceano e a rir de forma nervosa. Até que perdemos o medo e também saltámos (ou deslizámos lentamente) para a água, mas… para o lado oposto onde os tubarões dançavam.
Os meus companheiros de viagem são mais aventureiros e atiram-se primeiro. Ultrapassado o receio, salto também e ainda hoje recordo esta experiência como uma das mais fantásticas que vivenciei. Ignoro o passar dos minutos, das horas, ignoro o pôr-do-sol. Estou em êxtase. Partilhar o oceano, desta forma íntima, com estas espécies é quase indescritível.
Com uma pequena câmara submersa aproximo-me de tubarões-enfermeiro e raias, esqueço-me que sou humano, mergulho para contactar de perto e tocá-los.
Meses mais tarde, descobriria que naquele local tinha ocorrido um incidente com um tubarão-enfermeiro que, sentido-se ameaçado, atacou um turista. Esta espécie de tubarão é considerada inofensiva e o incidente terá sido uma raríssima excepção.
Perdi conta ao tempo que estive dentro de água e só o entardecer e pele enrugada me fez emergir. Já no barco, delicio-me com uma fatia fresca de melancia – talvez a melhor fatia que alguma vez provei. A melancia é um antídoto fascinante para os lábios salgados.
Miguel, o guia-capitão, é mexicano e há vários anos que, desde Ambergris Caye, transporta turistas para mergulhos na zona de coral do Belize. Na hora de regressar ao hotel, ainda a sorrir de tamanha excitação, pergunto-lhe:
-Hoje é domingo, não tens dias de folga ou férias?
E a resposta foi imediata…
– Olha para o cenário à tua volta. Achas que preciso de férias…?
Fiquei sem palavras e ficámos todos em silêncio. Se até a Madonna se rendeu aos encantos do Belize, quem sou eu para ficar indiferente.
Comparável a esta Beleza natural marinha do Belize, até agora, só encontrei a vida submersa de Raja Ampat, na Indonésia. Falta-me regressar ao Belize para ir até ao Blue Hole, no centro do atol Lighthouse Reef.
Informação extra
Visto para o Belize
Os cidadãos portugueses e brasileiros não precisam de visto para o Belize. É obrigatório ter passaporte válido por seis meses a partir da data viagem, passagem aérea de ida e volta, dinheiro suficiente para a estadia no Belize – cerca de 50 dólares por dia.
O período máximo de visita é de 30 dias para cidadãos portugueses e de 90 dias para cidadãos de origem brasileira.
Dinheiro
O dinheiro é o dólar do Belize (BZ $) cujo valor está associado ao dólar norte-americano: 1 dólar norte-americano equivale a dois dólares do Belize. Ambas as moedas são aceites em todo o lado.
É fácil trocar dinheiro no Belize, mas é sempre aconselhável levar dinheiro de várias formas: uma mistura de dinheiro, cartões de crédito e cartões de débito – como o Wise, que recomendo. Se tiver consigo dólares americanos ou cheques de viagem com base em dólares americanos, não precisa de trocar para dólares do Belize.
Tenha atenção aos preços, pois é comum muitos locais como hotéis, restaurantes ou empresas turísticas apresentarem preços em dólares americanos. No Belize, irá encontrar caixas ATM nas principais zonas turísticas, como a Cidade do Belize, San Pedro ou Caye Caulker, mas essas caixas de levantamento automático nem sempre funcionam.
Cuidados de saúde no Belize
Tenha especial atenção aos mosquitos no Belize, pois são portadores de doenças como Zika, dengue ou malária. Leve sempre consigo um bom repelente para mosquito, com um elevado nível de Deet. Note que a maior a concentração de Deet, não significa maior protecção, mas apenas que pode ali estar mais tempo sem aplicar o repelente.
Em muitos locais é aconselhado o uso de protector solar, mas no Belize é fundamental. E opte por um protector solar que seja amigo do ambiente e, sobretudo, que não seja maléfico para a vida marinha e os corais. Vários ingredientes dos protectores solares causam problemas nos corais e a Barreira de Corais do Belize é um ecossistema frágil que está ameaçada.
E se aplicar protector solar e repelente, aplique o protector solar primeiro e somente depois o repelente.
Equipamento essencial
Pode levar o seu equipamento de mergulho, se preferir, mas todos os centros de mergulho possuem equipamento que pode alugar, como máscaras, tubos e barbatanas. Eu utilizei os serviços do White Sands Dive, a poucos metros do hotel Las Terrazas – onde fiquei alojado. O preço foi simpático para o passeio de barco à zona de corais e o guia 5 estrelas.
Se vai para o Belize é essencial ter uma câmara aquática. Eu utilizei a GoPro e recomendo, pela qualidade e portabilidade.
Onde deixar o carro no Belize
Se viajar de carro para o Belize, é muito provável que necessite de deixar o carro estacionado por alguns dias enquanto visita as ilhas. Muitos dos hotéis no Belize permitem que estacione o carro nos seus parques de estacionamento, em parques vigiados e seguros.
Melhor altura para visitar o Belize
O Belize é regularmente afectado por furacões e tempestades tropicais. O clima do país é subtropical, Janeiro a Maio é estação seca e Junho a Dezembro a estação chuvosa. A melhor época para visitar o Belize é entre Janeiro e Abril, quando é menos quente e húmido. Todavia, estes são os meses de temporada alta.
Como chegar ao Belize
Voos
Não existem voos directos para o Belize. Para voar para o Belize, as melhores opções são a British Airways ou Iberia, com escalas em Londres (ou Madrid) e Miami, de onde irá voar com a American Airlines para o Aeroporto Internacional Philip Goldson (BZE), nos arredores da Cidade do Belize.
Pode também voar para o México (Cidade do México ou Cancún) e depois daí seguir para o Belize. Utilize o Skyscanner, o motor de busca que recomendo para pesquisar os voos ao melhor preço.
Autocarro
Pode fazer como eu e atravessar para o Belize desde a Guatemala. Existem ligações de autocarro desde a Guatemala e México, por exemplo com a empresa ADO, desde Mérida, Cancún ou Playa del Carmen. De Cancún, o preço ronda os 900 pesos mexicanos, ou seja, 40€ e o tempo de viagem é de cerca de nove horas. Da Guatemala experimente as opções com a empresa Linea Dorada.
Barco para as ilhas
Para chegar às ilhas existem vários serviços marítimos a partir do terminal marítimo da Cidade do Belize. As partidas são regulares para Ambergris Caye (San Pedro) e Caye Caulker.
As temperaturas no Belize variam de acordo com a elevação e proximidade das zonas costeiras. Em média a temperatura ronda os 25 graus em Janeiro e os 27 graus em Julho.
Segurança no Belize
Em todo o tempo que estive no Belize não senti qualquer problema em termos de segurança. No entanto, o Belize tem uma taxa de crime considerável – se atentarmos ao total da população. A maior parte deste crime violento relaciona-se – como é comum nesta região do planeta – com gangs e rotas de distribuição de droga. Evite a zona sul da Cidade do Belize (Belize City).
Hotel no Belize
Não é essencial para uma viagem ao Belize escolher um hotel de luxo, mas se puder faça-o. O hotel onde fiquei alojado é perfeito: Las Terrazas. O preço é elevado, mas Las Terrazas Resort é descrito como o local “onde o paraíso natural encontra o luxo de 5 estrelas”.
O fabuloso resort é composto por habitações totalmente equipadas com um, dois e três quartos. Todas as habitações possuem ar-condicionado, enormes LCDs, cozinha e Wifi grátis. No complexo, existe uma fantástica piscina e também tem acesso a praia privada – onde pode alugar caiaques.
Outras opções para ficar no Belize incluem o Ambergris Sunset Hotel, um dos favoritos para quem tem um orçamento mais limitado. Com piscina, jardim, terraço, Wifi grátis e possibilidade de alugar bicicletas, este hotel em San Pedro é uma óptima escolha, com preços a rondar os 60€ por noite.
O Sandbar Beachfront Hostel & Restaurant é uma opção básica, mas que recebe opiniões bastante favoráveis dos hóspedes. Com preços para quartos-duplos a partir dos 40€ e camas em camaratas a partir dos 17€, é a escolha adequada para quem deseja poupar ao máximo.
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
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