Já subi castelos, monumentos, torres de igreja, montanhas sagradas, pirâmides e ao topo de árvores. Até já subi às nuvens, mas nunca – até ter viajado para a Guatemala – tinha subido um vulcão. O vulcão Pacaya foi o primeiro da lista.
Uma mulher, de saia colorida, cabelo apanhado, sai do autocarro e atira um, dois, três sacos para o chão à chegada a Antigua Guatemala. Os velhos autocarros escolares – muitos deles rejeitados pelos EUA – são agora utilizados nas rotas locais na Guatemala. Pintados com as cores mais vivas ou vibrantes que se possa imaginar, uma escada metálica na traseira para subir ao tejadilho e aí transportar mochilas, malas, tudo e qualquer coisa.
A poluição atmosférica e sonora (e para alguns visual) não deixam ninguém indiferente. Ou, pelo menos nenhum turista. É quase uma obrigação fotografar-se ao lado de um destes autocarros e a bordo fazer curtas deslocações. São conhecidos na descrição inglesa como “chicken bus”, porque também aí se levam galinhas (agora menos) e animais domésticos.
Num país pobre, como a Guatemala, o transporte público é a única forma para muitos guatemaltecos, sobretudo de zonas rurais, de chegar às cidades e aí comprar ou vender os bens e produtos que necessitam.
Numa rua de Antigua Guatemala, não param de chegar e sair chicken buses, carregados de pessoas e respectivos bens. No passeio, dois homens e três mulheres conversam, enquanto um jovem – talvez com 12 anos – de chapéu preto na cabeça (virado para trás) e camisa aos quadrados anseia pela chegada do seu autocarro.
No chão, vejo duas caixas de papelão, duas sacas e dois sacos ainda maiores que as sacas feitas a partir de bocados de tecido e fechadas com um nó. Enquanto espero pela minha boleia para o vulcão Pacaya, questiono-me como irá transportar tudo aquilo no autocarro, mas no seu rosto não existe qualquer sinal de preocupação.
Vulcão Pacaya, onde se pode dormir… à luz do magma
Despreocupado, também eu, depois de ter conseguido uma vaga num passeio guiado que parte de Antigua até “às portas” do vulcão Pacaya. Durante mais de uma hora, em ritmo lento, numa carrinha de nove lugares, a paisagem e a estrada tornam-se mais acidentadas.
O vulcão Pacaya está situado a cerca de 50 quilómetros de Antigua Guatemala. Dezenas de populares cercam a entrada oficial do vulcão – basicamente onde se compra o bilhete para aceder à zona do parque natural. Dizem-nos que não é seguro sair ali e avançamos um pouco mais, para iniciar a caminhada de mais de duas horas até ao topo do vulcão Pacaya.
Antes de iniciar a caminhada, dois homens aproximam-se e perguntam aos membros do grupo se querem fazer o passeio de cavalo. Embora seja uma oferta tentadora, prefiro caminhar e fazer algum exercício físico, enquanto paro amiúde para tirar algumas fotografias.
Quando saí de Antigua, o céu estava azul e o calor era imenso, mas junto ao vulcão, a temperatura é um pouco mais baixa e o céu está coberto – embora já vislumbre a forma cónica da montanha.
Quase todos rejeitam a oferta, incluindo uma turista inglesa, que está claramente mal calçada para quem pretende subir a encosta de um vulcão – de chinelos. Acompanhada pela pequena filha, mais tarde iria trocar as solas do chinelo pelas patas do cavalo.
Este foi o meu primeiro contacto próximo com uma paisagem vulcânica activa. Quando estava a planear a viagem para a Guatemala, o objectivo era acampar nas encostas do vulcão Pacaya, para aí assistir ao nascer do sol e dormir rodeado de magma incandescente.
No entanto, para isso era preciso que tivesse havido alguma actividade recentemente – o que não sucedeu. Desolado com estas notícias, abdicaria de pernoitar no vulcão, regressando antes a Antigua.
Cenário de morte e destruição
Sigo, depois de uma noite a sonhar com o Pacaya, em direcção à cratera. Actualmente, por razões de segurança já não é possível subir até à cratera, embora se chegue perto. A caminhada termina onde o chão é feito de lava solidificada.
Vejo as nuvens a dissiparem-se, o céu em tons de azul e dourado, em contraste com a encosta negra. Durante os primeiros passos, sou acompanhado por uma vegetação rasteira verdejante, pouco densa e com aspecto de ter ali brotado há pouco tempo. O solo é negro – uma areia ou cinza vulcânica solta – e levanta pó fino a cada passada.
Minutos depois, a transição é feita para um solo duro e coberto de rocha vulcânica, onde a última erupção terá parado, por algum motivo. Talvez devido à falta de força da lava, talvez devido à contração do terreno. O caminho até ao ponto mais alto (que nos é permitido subir) é feito de improviso, entre subidas e descidas e até os cavalos parecem por vezes ter alguns problemas de tracção.
O cenário é desolador, arrepiante e mortífero. Uma raposa, permanece ali imóvel, entre a rocha vulcânica, como se tivesse sido embalsamada, depois de ter não ter conseguido (presumo) escapar à violência do fogo e calor do Pacaya.
Enormes rochas desceram a montanha, arrastadas pela lava, e algumas servem de pontes entre as brechas rasgadas no movimento dos solos durante a erupção. Como em quase todos os locais onde existem vulcões activos, populações locais desafiam o intempestivo comportamento dos vulcões e com eles partilham o habitat.
Se ninguém duvida da beleza de uma erupção vulcânica – vista de longe e em segurança, assumo também que seja claro para quem ali vive quais as consequências da escolha deste lugar para construir uma casa e aí viver. Ignorância, determinação, imprudência ou teimosia? Seja qual for a justificação ou motivação deverá haver algum benefício.
Largos metros abaixo, a temperatura era amena, mas à medida que subo, começo a sentir o calor mais intenso – a presença do sol era tímida – o calor vem de baixo. Agarro uma pedra vulcânica, está morna, tal como a cinza escura que piso. Espreito uma brecha no solo e demoro-me a admirar a magma alaranjada, a um metro de profundidade.
Lava doce no Vulcão Pacaya
Pequenos pedaços de magma viva são insuficientes para alumiar uma noite ao relento na “Pensão Pacaya”, mas poderosos para uma das actividades favoritas de quem visita este vulcão – derreter guloseimas (marshmallows) espetadas num pau. Aceito a oferta de um casal de noruegueses e delicio-me com marshmallows fumados.
Este doce churrasco, nas fumarolas, está pronto em segundos e basta uma distração para a guloseima derreter por completo ou até pegar fogo. Um pequeno aviso, do que as temperaturas de uma erupção podem provocar em larga escala.
Este meu pensamento é interrompido por um grito de uma mulher. Olho preocupado (talvez assustado), mas ela já está rodeada por dois polícias e todos riem à gargalhada. A mulher, no chão, segura um marshmallow na mão sobre a cara – conseguiu salvar a guloseima. Depois de uma escorregadela e do riso, os polícias ajudam-na a erguer.
Nesta paisagem – construída pela última erupção do Pacaya – que se compara à superfície da Lua, apercebo-me que o astro rei (e o meu guia) sinalizam que é tempo de percorrer o caminho de volta – o sol desaparece rapidamente no horizonte e os “candeeiros de magma” no subsolo são agora mais vibrantes.
Fico para trás ainda mais alguns minutos, contemplando esta aventura. Sou o último a abandonar o vulcão – além dos polícias que vigiam a zona para segurança dos turistas.
Corro encosta abaixo – é-me mais fácil fazê-lo do que caminhar passo a passo – e abraço uma árvore, no final, para travar. Volto-me, olho para cima e despeço-me do Pacaya, antes do cone deste vulcão da Guatemala se tornar, de novo, imperceptível. O Pacaya esconde-se enfim, mas um dia voltará a mostrar-me a sua face. Por agora, sigo para o Lago Atitlán, à procura do santo que fuma e bebe álcool.
Informação extra
Dicas adicionais para subir ao vulcão Pacaya
O vulcão Pacaya, a 2552 metros de altitude, é um dos vários vulcões mais activos na Guatemala. A primeira erupção do vulcão Pacaya aconteceu há mais de 20 mil anos e desde aí a actividade tem sido recorrente.
As frequentes erupções são frequentemente visíveis desde a Cidade da Guatemala – a 50 quilómetros de distância. Do topo, pode desfrutar de excelentes vistas dos vulcões Água, Fogo e Acatenango e, dizem, até de um país vizinho – El Salvador.
Recomendo a caminhada ao pôr-do-sol, cujo passeio sai de Antigua por volta das 14h00. Mesmo sem lava, as vistas do pôr-do-sol do vulcão Pacaya são estupendas. É também possível fazer dois dias de caminhadas no vulcão Pacaya, onde pode acampar perto do topo e despertar bem cedo para ver o nascer do sol.
A caminhada começa perto da aldeia de San Francisco de Sales e demora cerca de duas horas até perto do topo.
A visita tem de ser feita com um guia que pode ser contratado no centro de visitantes na entrada do parque nacional. A outra opção – que foi o que fiz – é contactar uma agência local – existem várias em Antigua – e juntar-se a um grupo para fazer a caminhada.
As excursões ao vulcão Pacaya podem também ser reservadas on-line, a partir de 15€ e incluem o transporte desde Antigua. O custo da entrada (seis dólares) está muitas vezes excluído. O tour do vulcão Pacaya dura entre quatro e seis horas, incluindo o tempo de viagem entre Antigua e o Parque Nacional do vulcão Pacaya.
Na minha opinião, a caminhada não é muito exigente, mas depende da condição física de cada um. Cavalos podem ser alugados no início da caminhada por menos de 15€
O que levar para subir ao vulcão Pacaya
- Máquina fotográfica, claro
- Um bom par de botas de caminhada ou ténis, pois o piso é arenoso e escorregadio
- Leve um casaco para o vento e agasalho, pois as temperaturas caem ao fim do dia
- Numa caminhada ao pôr-do-sol, leve uma lanterna, já que se desce ao anoitecer
- Leve muita água para a caminhada
- Compre marshmallows numa loja de Antigua e derreta-as com o calor do magma. É uma actividade divertida (e gulosa)
Quando visitar o vulcão Pacaya
A época seca – todo o período entre Novembro e Abril – é geralmente a melhor para caminhar até ao topo do vulcão Pacaya, na Guatemala. As paisagens verdes, resultantes das chuvadas do meses anteriores, transformam o cenário – e o contraste entre o negro tenebroso e o verde exuberante é fenomenal.
Hotel no Vulcão Pacaya
Há quem viaje desde a Cidade da Guatemala ou de outros locais para subir ao vulcão Pacaya. No entanto, eu recomendo que fique em Antigua Guatemala. É, porém, fundamental reservar com antecedência. Aliás, é muito complicado encontrar alojamento na cidade guatemalteca – se visitar na altura da Semana Santa.
A Casa Elena é uma óptima opção, com comida local, bem decorada e vistas para os vulcões.Um pouco mais afastado do centro, uma alternativa mais recatada e também com excelentes vistas é a Villa Jardin Casa la Historia – Entre Volcanes. Dispõe de um amplo jardim e de piscina, para arrefecer do calor guatemalteco. Estas duas opções ficam abaixo dos 50€ por noite.
Por fim, se quiser um hotel em Antigua Guatemala com classe, então a escolha tem mesmo de ser o Meson Panza Verde. Perto da catedral de Antigua, é uma unidade hoteleira com hidromassagem, cuidados jardins e óptimas vistas panorâmicas.
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
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