Viajei já tantas vezes sabendo quase tudo sobre o destino para onde ia. Com a explosão de informação sobre os locais que visito, tornar-se um desafio viajar para um país, uma cidade ou uma região sem a sensação de lá ter estado — ainda que virtualmente. Quis que ao visitar Vila Flor, no distrito de Bragança, fosse diferente.
Vila Flor foi uma grande surpresa. Em plena Terra Quente Transmontana, foi o calor do clima que me aqueceu o corpo, mas foi a incansável simpatia de quem sabe receber que me invadiu a alma.
Se pesquisar: “o que visitar em Vila Flor”, constará que esta região de Portugal não tem um monumento grandioso que nos suplique a visitar, nem está exposta ao litoral com as cores fáceis que nos chamam para a costa marítima. Nesta zona transmontana, é a soma das partes que nos satisfaz (de) todo.
Dos deliciosos pratos tradicionais, à irreverência de uma refeição entre vinhas. De aldeias abandonadas, aos melhores frutos e azeites — não é ao acaso que é das melhores zonas produtoras de azeite nacional. Dos miradouros que nos abrem um mundo de paisagens sublimes, aos monumentos e vinhos de qualidade.
Este não é um destino óbvio, mas antes um lugar para saborear devagar — como tudo o resto por ali: da mesa às paisagens. Durante o dia, deslumbram-me as paisagens agrícolas, com longos vinhedos e olivais tradicionais e onde (felizmente) o terreno não permite olivais superintensivos como no (meu) Alentejo.
À tarde, à sombra das belas casas de granito nas aldeias de Vilas Boas (onde fiquei alojado) ou Santa Comba da Vilariça troco dedos (ou palmos) de conversa. Por ali fiquei a debater sem pressas, porque Vila Flor não é para se ver de passagem ou a correr, é para se interior(izar).
E à noite — depois de uma refeição que me permitiu provar o que a fertilidade das paisagens matutinas me mostraram — ergo a cabeça e (tento) contar o incontável número de estrelas no céu. Esta zona é agora um destino “Starlight”, ou seja, tem a certificação necessária para observar sem poluição luminosa o que brilha para além do planeta Terra.
Se me perguntarem o que mais gostei em Vila Flor, foi: quase tudo, da autenticidade, de ser um destino onde encontramos traços genuínos da cultura e de paisagens (ainda) despidas de aberrações como baloiços, passadiços ou miradouros que desvirtuam quem gosta da natureza como esta deve ser: nua e crua.
O que visitar em Vila Flor
Santuário de Nossa Senhora da Assunção
Não é preciso ser crente para visitar o Santuário de Nossa Senhora da Assunção, mas acredite em mim quando lhe digo que não deve aqui perder o pôr-do-sol. As vistas são soberbas e de 360 graus. Claro que pode visitar este miradouro a qualquer hora, mas se passar por aqui ao final do dia não se vai arrepender — pelo contrário ainda me vai agradecer pela dica.
Construído no século XIX, nas imediações da aldeia de Vilas Boas, o santuário mostra-nos a paisagem a partir de 760 metros de altitude. Daí avistam-se Montesinho, Mirandela e até a fronteiriça Sanábria, num raio de 100 km.
Aldeias de granito
Ao visitar Vila Flor, irá descobrir belas aldeias com construção tradicional em granito. São localidades onde, muitas vezes, não precisamos de um mapa, pois basta deambular por ali à procura das histórias e das raízes, como é o caso de Vilas Boas ou de Santa Comba da Vilariça. Outras, porém, são uma sombra do passado e o seu abandono conta-nos uma história já repetida noutros pontos do país.
Na aldeia do Gavião, as construções em alvenaria de granito, mantêm-se ainda de pé, mas em silêncio, pois os habitantes já se mudaram para outras paragens. Agora é a natureza que invade os espaços outrora ocupados por seres humanos. As paisagens que se descortinam a partir da aldeia também são bastante apelativas. Diz-se, entre portas e travessas, que era habitada por 12 habitantes e 13 doidos — o 13º era um burro.
Museu Berta Cabral
O Museu Berta Cabral, em Vila Flor, é já imensamente pequeno para tamanha colecção de artigos expostos. Ali estão exibidos cerca de 3000 objectos — a maioria oferecida por gente ligada ao concelho. Existem objectos tão variados como máquinas de escrever, colecções de pintura, arqueologia, etnografia, artesanato africano e até uma moeda que se diz ser dos tempos dos visigodos.
Antes de ser ocupado pelo museu da vila, o edifício também já abrigara o talho, a repartição das finanças, o posto da guarda e a biblioteca municipal. A entrada é gratuita e as visitas são guiadas.
Horário do Museu Berta Cabral
Terça-feira a Domingo: 9h30-12h30 e 14h-17h30. Encerra às segundas e feriados.
Nove passos até Vila Flor
Estive em Vila Flor para descobrir o novo projecto: Nove passos. Esta é uma iniciativa nas Terras de Trás-os-Montes para mostrar os encantos naturais da zona através de nove percursos temáticos que correspondem a nove concelhos distintos, nove temas naturais e nove trilhos.
Assim, vai abarcar as zonas de Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Vila Flor, Vimioso e Vinhais. O contacto com a natureza é o ponto transversal a todos os percursos temáticos e ao visitar um destes locais poderá recolher um passaporte para depois carimbar em cada um dos Nove Passos (ou concelhos).
O meu “primeiro passo” foi efectuado entre Vilarinho das Azenhas e a Ribeirinha, em pleno Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT), na região do Baixo Tua. O passeio é bastante agradável ao longo de 3 km, de dificuldade baixa, passando por áreas agrícolas de olivais e vinhas, seguindo ao longo da antiga linha de caminho de ferro do Tua (em breve irá ser reactivada), além de passar pelo Rio Tua (onde pode refrescar-se).
Pode fazer também o download da aplicação Nove Passos, que lhe permite ter toda a informação mesmo sem ligação à internet.
Os Nove Passos
- Percurso do Sabor (Alfândega da fé)
- Percurso do Carvalho (Bragança)
- Trilho Quercus (Macedo de Cavaleiros)
- Percurso de São João das Arribas (Miranda do Douro)
- Percurso de Vale de Lobo (Mirandela)
- Percurso da Cascata da Faia da Água Alta (Mogadouro)
- Percurso do Castelo de Algoso (Vimioso)
- Percurso Vilarinho das Azenhas a Ribeirinha (Vila Flor)
- Percurso Biospots (Vinhais)
Vale da Vilariça
O Vale da Vilariça é uma região bastante fértil de Portugal, derivado da falha tectónica onde está instalado — o que possibilita a influência dos rios Douro e Sabor no arrastamento de nutrientes. Além disso, ali existe um microclima que ajuda à fertilidade dos solos, dando origem a azeite e vinho de grande qualidade.
Embora a cultura do vinhedo tenha sido a dominante — por se situar na Região demarcada do Douro — já há muito que as plantações variam entre o pêssego, as couves, melões, feijão, o olival e os citrinos.
Vale do Tua
Vila Flor é uma das portas de entrada do Vale do Tua e um dos cinco locais de acesso está na aldeia de Vilarinho das Azenhas. Aí também irá encontrar o Centro de Interpretação desta zona natural protegida.
O vale e o rio formam um maravilho conjunto natural, onde pode encontrar açudes, azenhas e onde se pode caminhar, mas também praticar desportos náuticos ou pescar.
Forca de Freixiel
A poucos metros da antiga vila de Freixiel irá encontrar um monumento estranho — a Antiga Forca de Freixiel — e com uma história ainda mais insólita. De acordo com a tradição, seriam sepultados os enforcados, a quem estaria impedido o sepulcro em solo consagrado.
Este imóvel de interesse público é constituído por dois pilares em granito, de quase 3 metros, onde assentaria uma trave em madeira.
Fonte Romana
Classificada como imóvel de interesse público, a Fonte Romana de Vila Flor terá sido usada para reuniões municipais dos homens bons da paróquia. A fonte quinhentista apresenta quatro pilares e seis colunas jónicas.
Arco D.Dinis
Quando D. Dinis concedeu Foral a Vila Flor ordenou também que fossem construidas muralhas e cinco portas em forma de arco. Actualmente, apenas esta resistiu ao passar dos tempos, no centro da vila transmontana. Não deixa de ser interessante admirar esta obra, enquanto acedemos ao centro da localidade.
Igreja Matriz de S. Bartolomeu e Igreja de S. Pedro
A igreja original ruiu em 1700, mas alguns elementos como as pedras ornamentadas foram aproveitadas para decorar o edifício actual. A igreja barroca ergue-se a cerca de 15 metros de altura, embora as torres cheguem aos 24 metros. No interior, a Igreja Matriz de Vila Flor possui seis altares, três destes com estrutura de talha dourada.
Outra igreja que vale a pena admirar é a Igreja de S. Pedro, em Santa Comba da Vilariça. Também em estilo barroco, a Igreja de S. Pedro foi construída em 1719 e o interior foi restaurado recentemente, após algumas intervenções que quase arruinaram os detalhes do edifício.
Casa das Artes Graça Morais
Graça Morais é o nome mais popular de Vila Flor. A pintora nasceu numa das freguesias do concelho (Freixiel). E em Vila Flor vai nascer a Casa das Artes Graça Morais, em homenagem à artista vilaflorense. Prevê-se que haja ateliers ligados à pintura, escultura, música e artes gráficas.
Ver as estrelas em Vila Flor
Vila Flor é um dos concelhos que integram o Vale do Tua que recebeu a distinção “Destino Turístico Starlight”. Depois do Alqueva e das Aldeias de Xisto, o Vale do Tua é o terceiro destino turístico certificado em Portugal.
Numa das noites que em estive a visitar Vila Flor, tive oportunidade de observar as estrelas, a Lua e os planetas. Nessa ocasião, com ajuda de um telescópio, consegui ver com grande detalhe, junto à Forca de Freixiel, os anéis lunares e os anéis de Saturno. É uma actividade que recomendo.
Gastronomia
Azeite, vinho, queijo terrincho, alheira, sopas da segada, azeitonas, azeite, figos, cerejas, pêssegos e outros exemplos das Frutas Vilariça. Em Vila Flor não irão faltar motivos para se demorar à mesa com uma bela refeição. Duas das melhores refeições que fui “vítima” (da gula) foi na Quinta do Palame e na Quinta Holminhos (mais detalhes abaixo).
Vila Flor é um local que nos seduz com a simplicidade de uma tarde passada na conversa e onde as azeitonas são temperadas com ervas selvagens.
Informação extra
Quantos dias para visitar Vila Flor
Eu diria que dois dias será suficiente para visitar Vila Flor. As distâncias a percorrer não são longas e disporá de tempo para explorar a sede de concelho, os miradouros, o Vale do Tua e admirar, à noite, o céu estrelado.
Como chegar a Vila Flor
Na verdade, os transportes públicos na região de Trás-os-Montes são escassos e o mesmo acontece em Vila Flor. Fruto do despovoamento do interior, não é fácil conhecer a zona recorrendo aos transportes públicos. Pode chegar a Trás-os-Montes de autocarro (por exemplo, Rede-Expressos) a partir de várias regiões do país, mas depois irá esbarrar na inexistência de transportes locais ou regionais.
Por isso, se não tiver viatura própria, então opte por alugar um carro com a Rentalcars, que compara os preços é, em muitos casos, pode cancelar o aluguer sem custos até 48h antes da partida.
Melhor época para visitar Vila Flor
Vila Flor pode ser visitada em qualquer altura do ano. Todavia, tenha em atenção que na Terra Quente Transmontana o Verão pode ser demasiado quente para caminhadas, mas óptimo para mergulhar no rio.
A Primavera e o Outono são excelentes para percorrer os trilhos dos Nove Passos, para apreciar a paisagem e fugir às multidões. Já o Inverno, é rigoroso, com bastante chuva e poderá também ver as paisagens pintadas de branco. Imagine as aldeias de granito totalmente cobertas de neve.
Restaurantes em Vila Flor
Fui sempre bem tratado, com comida de qualidade e doses generosas em Vila Flor. Se gosta de carne e de posta de vitela, então vai ficar bastante satisfeito no restaurante D.Dinis — a poucos metros da Câmara Municipal de Vila Flor.
Na Quinta do Palame, a refeição foi divinal — das entradas aos vinhos. O atendimento foi fantástico, assim como o bacalhau e a alheira.
E o mesmo aconteceu na Quinta Holminhos. O almoço foi servido em plena vinha e com uma paisagem fantástica a minha mercê. Tive a oportunidade de provar vários vinhos, enchidos e iguarias locais. O toque final foi dado por uma sobremesa de queijo e frutos silvestres. Pode jantar por 15€ na adega e a partir de 40€ na vinha. Os preços incluem refeições e provas de vinhos.
Hotel em Vila Flor — onde ficar
Não faltam alojamentos rurais ou hotéis em Vila Flor. Durante a minha estadia fiquei alojado na Casa de Campo das Sécias e posso recomendá-la sem qualquer problema. Os espaços (incluindo os quartos e casa de banho) são amplos, decorados com simplicidade, mas com o tudo o que é necessário.
O pequeno-almoço é óptimo, assim como a refeição que provei no alojamento. E o preço é muito simpático. Além disso, fica perto do Santuário de Nossa Senhora da Assunção (para ver ao pôr-do-sol).
Durante a minha estadia, estive também na Quinta do Palame. Apenas jantei na quinta, mas deu para perceber que a qualidade do alojamento é igual à das refeições servidas, ou seja, muito elevada. E dispõe ainda de uma óptima piscina.
Outras opções para pernoitar na região de Vila Flor
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