Batem leve, levemente, como quem chama por mim. Será chuva? Será gente? Gente não é, certamente e só as Cataratas de Vitória batem assim. Poderia ser esta uma adaptação do poema de Augusto Gil para as majestosas quedas d’água na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbabué.
Não poderia desejar melhor final, nem poderia ser mais apoteótico o culminar da road trip independente que havia começado há algumas semanas na capital da Namíbia, Windhoek. Cinco mil quilómetros depois, uma mão cheia (ou duas) de aventuras que na minha memória irão permanecer como as melhores, quaisquer que sejam os próximos locais que visito.
Quando falo de África, sobretudo, quando falo desta viagem que fiz com três amigos em que atravessei uma vasta expansão da Namíbia, da cénica, mas trágica Costa dos Esqueletos, o remoto Deserto do Namibe, das terras vermelhas e secas de Damaraland e as terras húmidas onde aterram aos milhares os flamingos, em Walvis Bay.
Da imperial vida selvagem do Parque Nacional Etosha, ao terreno arenoso, de dificuldade extrema de navegação do Delta do Okavango e à riquíssima fauna no Parque Nacional Chobe, no Botswana.
Percorri milhares de quilómetros por estradas. Aliás, usar o substantivo estrada é abusar da descrição do dicionário de língua portuguesa. No fundo, em alguns lugares andei por ali a “estradar”. Ou seja — de acordo com o mesmo documento que nos guia pela língua — a abrir caminhos.
Talvez nem todos fossem novos e muitos talvez já tivessem sido “estradados” por outros viajantes. Mas abriu-me o caminho a lugares que só em sonhos imaginava alguma vez visitar e — muito menos lá pernoitar — sem quaisquer barreiras entre a frágil tenda erguida no tejadilho do 4×4 e as portentosas bestas selvagens que fazem daquela savana e pântanos o seu habitat natural.
Com três países carimbados no passaporte, chego ao Zimbabué – o país onde a inflação é galopante. Em 2019, andava pelos 300 por cento. Mas num território onde quase tudo é de extremos, a começar pelo (agora) ex-ditador Robert Mugabe, as Cataratas de Vitória não iriam ficar-se por menos.
Avisto, muito ao longe, o que me parecia ser nevoeiro. Talvez uma nuvem baixa, talvez fosse apenas fumo. Era difícil apontar com exactidão a origem daquela fumaça branca que se via a vários quilómetros de distância. Seguia de carro, desde a fronteira do Botswana. A cada metro, a cada par de minutos, o fumo ou nevoeiro tornavam-se ainda mais espessos.
Pareceria inexplicável que aquela enorme nuvem – que se elevava acima da povoação que partilha o nome com as sublimes cataratas — tivesse origem no estilhaçar de milhões de metros cúbicos por minuto. Estes milhões de partículas transportados pelo rio Zambeze até ao fundo das ravinas de basalto. Não haveria, porém, como negá-lo.
O que o meu olhar decifrava, mas a minha mente duvidava, eram as majestosas Cataratas de Vitória. Mas até a língua local já havia baptizado as quedas d’água com algo que deixava poucas dúvidas: Mosi-oa-Tunya — “O fumo que troveja”.
Poderíamos discutir quais as maiores cataratas do mundo: as Cataratas de Iguaçu, no Brasil, Argentina e Paraguai, as Cataratas do Niagara, no Canadá e EUA ou as Cataratas de Vitória (Victoria Falls), no Zimbabué e na Zâmbia. Qualquer que seja o veredicto (apesar de o título ser apontado a estas últimas), o caudal e imponência das Cataratas de Vitória são soberbos.
Nem sempre estão assim, até se diz que terão secado em 2019 — em parte — devido às mudanças climáticas, embora as notícias sejam contraditórias.
Visito-as em Junho, quando o caudal do rio Zambeze faz trovejar as Cataratas de Vitória com a maior das intensidades. Chego a meio da manhã a Vitória, mas faço-me esperar até ao próximo dia. Não precisava, todavia, de ter esperado.
Poderia ter ido de imediato, mas talvez quisesse manter este suspense durante mais algumas horas. Ou talvez apenas quisesse (queria mesmo) visitar as quedas d’água ao nascer do sol, com pouca gente em meu redor.
Queria perder-me naquela nuvem de água doce, fresca e pura. Queria fechar os olhos e senti-la, como se fosse chuva, a bater-me no rosto. Desejava molhar-me até aos ossos, arriscar perder a câmara fotográfica nas pequenas bolhas de água deste mar aéreo de H2O. Não queria que nada quebrasse esta química entre mim as Cataratas de Vitória.
E tudo isso, fi-lo, no dia seguinte. Só tive de esperar menos de 24 horas ou umas semanas e uns milhares de quilómetros. Aliás, esperei quase uma vida para chegar às Victoria Falls. Mas cheguei, vi e sonhei. Aliás, acordei.
E tudo o que descrevi acima, fi-lo num único dia. E fá-lo ia outra vez hoje. E amanhã. E depois. Sem esperas, sem sonhos. Desta vez, fá-lo-ia de olhos abertos, até que o sal das minhas lágrimas de alegria se misturassem e desvanecessem — outra vez — com a água doce do “fumo que troveja”.
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Mário diz
Que fantástica descrição!! Ainda não estive no Zimbábue mas tendo uma ligação especial com África onde vivi quero visitar as cataratas de Vitória. Obrigado por me transportar para lá com as suas palavras!
Jorge Duarte Estevão diz
Olá Mário. Obrigado pelas palavras simpáticas. ☺️
Espero que cumpra esse sonho de voltar a África e não perca as Cataratas de Vitória. Se quiser tem aqui o guia para saber como visitá-las…