Uma voz melódica feminina desperta-me. Lentamente, salto da cama às sete da manhã, enquanto aquela voz continua a ecoar para além da porta do meu quarto. A minha anfitriã irlandesa vive a apenas nove quilómetros da base da montanha sagrada Croagh Patrick, mas nunca a “trepou”.
Provavelmente é uma experiência comum a muitos residentes de outras tantas localidades de qualquer outro país. Seja um museu, um parque ou uma atracção turística perto do local onde se vive e que sempre se deixa para mais tarde visitar. Porque esses pontos de interesse estarão sempre ali e, provavelmente, nós também, adiados a visita para amanhã, o dia, a semana ou anos seguintes. Até que se constata que provavelmente nunca se irá.
O agora céu azul já empurrou para longe as nuvens negras de uma noite de tempestade e chuva intensa, dando lugar a um sol dourado ainda sem energia. Na Irlanda é comum assistir às quatro estações do ano num só dia. Em breve, irei iniciar a caminhada até ao topo do Croagh Patrick, na Irlanda, e esse céu azul ficará ainda mais perto.
Antes disso, o cheiro de um robusto pequeno-almoço tipicamente irlandês, com ovos, bacon, cogumelos, chá (moderadamente) quente e um café fraco, quase sem sabor, já invadiu um dos meus cinco sentidos.
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Peregrinação até ao topo
Croagh Patrick é o ponto mais alto de uma extensa cadeia montanhosa na Irlanda, que se alonga da costa este à costa oeste, atravessando cerca de 150 quilómetros.
A anfitriã, proprietária de um B&B onde a água do chuveiro tarda em aquecer e corre mais frágil que uma fonte de água natural no Verão, confessa nunca ter sentido qualquer vontade de imitar muitos dos habitantes locais ou dos milhares de forasteiros que todos os anos se instalam em Westport e fazem da subida ao topo de Croagh Patrick a sua fiel peregrinação.
Ano após ano, milhares de peregrinos, caminhantes, fotógrafos ou aventureiros lançam-se no desafio de seguir pela encosta acima até atingir o ponto mais alto de Croagh Patrick, no condado mais a Oeste da Irlanda – Condado de Mayo. É a montanha mais sagrada da Irlanda, a terceira mais alta do condado, e atrai milhares ao cume desde a pré-história, sendo na altura denominada por Cruachan Aigle.
De acordo com a tradição folk, foi neste local que Saint Patrick (São Patrício) reuniu as cobras e as expulsou da Irlanda. O santo, diz a lenda, jejuou por 40 dias e 40 noites em 441 A.C., enquanto pássaros gigantes o sobrevoavam. Agora, no último fim-de-semana de Julho, milhares de peregrinos reúnem-se em honra do santo, como acto de fé e para pedir perdão pelos pecados cometidos.
Sacrifício de pés em sangue
Até muito recentemente, era bastante comum observar peregrinos a iniciar a viagem à meia-noite, à luz da vela, descalços. A maioria completa, neste tempo moderno, o percurso com os sapatos colocados e parte em direcção ao cume ao nascer do sol.
Alguns dos peregrinos que encontrei – enquanto subia pela acentuada encosta de Croagh Patrick – optaram por manter-se fiéis à tradição e esforçaram-se por chegar ao cume sem usar qualquer tipo de calçado – alguns com os pés ensanguentados por longos minutos de uma caminho com pedras afiadas.
Uma acção que poderá ser descrita como uma forma dolorosa de provar a sua fé e de pagamento por quaisquer pecados cometidos no passado. Muitos destes caminhantes têm mais de 50 anos e fazem a peregrinação pela segunda ou terceira vez.
Mas, fazer esta revigorante caminhada não é apenas por fé – ou pelo menos não o foi para mim. É um desafio duro e, ao mesmo tempo, estimulante, oferecendo no final uma vista de cortar a respiração – pequenas ilhas e ilhéus, entre o tom verde e dourado da vegetação e o azul salgado, espalham-se pela Baía de Clew até ao Oceano Atlântico.
Croagh Patrick tira-me o fôlego
A viagem começa ao nível do mar, perto do sopé norte da montanha, junto do convento franciscano em Murrisk. Os primeiros metros não requerem grande agilidade ou técnica, mas, depois de deixar para trás a estátua de Saint Patrick, é necessário estar preparado para atravessar pequenas poças de água e lama, através de um trilho de musgo escorregadio.
À medida que me aproximo do cume, através de um caminho estreito, a vista para a baía é cada vez mais absorvente. Neste ponto, e apesar das muitas pedras e seixos que rolam por encosta abaixo, a subida ainda é pouco íngreme. É impossível não fazer pausas, olhar para o que fica para trás e tirar fotos. Não só é uma boa oportunidade para recuperar o fôlego, mas também para guardar no cartão digital as imagens que a memória dificilmente esquecerá.
E com esta vista inspiradora, sinto que nada ou ninguém me pode parar. Ou, talvez, quase nada. Depois de quase duas horas de árdua caminhada, e com o topo cada vez mais perto, eis que chega o desafio ainda mais extenuante. Muitos dos peregrinos que seguiam também nesta viagem decidem ficar-se por ali, mas alguns arriscam e mantêm a fé de atingir o ponto mais alto.
Pedras no sapato
Pela frente tenho milhares de pedras soltas. Olho para baixo e vejo pedras soltas e prontas a rolar (e a fazer-me rolar). Levanto a cabeça e constato que ainda me aguarda para um percurso árduo, íngreme, de pedras até… ao céu. Não há espaço a distracções ou erros. E para quem desce, o desafio é ainda mais exigente porque uma queda pode significar – na melhor das hipóteses – alguns arranhões.
Ao atingir o cume encontro uma capela branca — St. Patrick’s Bed – e as ruínas de um antigo forte de pedra. A altitude é de 764 metros. Aproveito para recuperar energias e delicio-me por mais de uma hora com as estupendas vistas de Connemara, da Baía de Clew, da Ilha de Clare e de dezenas de outras pequenas ilhas, até que é chegado o momento de iniciar o caminho de regresso a casa.
A magnífica viagem está quase no fim, mas não sem antes pensar no passo seguinte à chegada a Westport, onde Matt Molloy, um dos membros da banda irlandesa The Chieftains, é proprietário de um pub – música irlandesa e uma cerveja fresca. Termino o dia da mesma forma que comecei, ao som de melodias irlandesas. A minha próxima paragem é o local mais bonito, tranquilo, enigmático e vibrante da Irlanda: Connemara.
Informação extra
Quando visitar a montanha Croagh Patrick
Evite ir no último fim-de-semana de Julho, quando milhares de fiéis escolhem a montanha para a peregrinação anual. Qualquer altura do ano é perfeita para visitar o topo da montanha, mas é melhor rezar para um dia sem chuva.
Entre três e quatro horas será suficiente para completar o percurso de ida e volta, embora uma vez chegado ao topo se vá sentir tentado a ficar mais tempo, pois a paisagem é inacreditável. Mesmo que o dia comece sem chuva não é de todo improvável que ela faça a sua aparição e um casaco impermeável poderá ser-lhe útil.
Não esqueça…
Um par de botas de “trekking” é altamente aconselhável, embora tenha encontrado muitos peregrinos vestidos a rigor…para a ida dominical à igreja. Alguns escorregaram e caíram, mas nenhum ficou, desta vez, seriamente ferido. Todavia, a cada ano dezenas de pessoas terminam com mazelas, causadas, sobretudo, na viagem de regresso ao sopé da montanha.
Além das botas leve também um casaco impermeável, câmara fotográfica, bateria extra, água e snacks.
Como chegar ao Croagh Patrick
As companhias de baixo custo efectuam voos regulares para o aeroporto de West Knock. A melhor opção a partir daí é alugar um veículo e viajar em direcção oeste para Westport. Mas, viajar de autocarro público é outra possibilidade e existem várias ligações diárias desde o aeroporto até Westport. A montanha de Croagh Patrick fica a apenas nove quilómetros da cidade.
Hotel perto do Croagh Patrick
Os hotéis na Irlanda não são muito baratos, mas nesta região do Oeste da Irlanda é possível ficar em alguns locais confortáveis – sem esgotar o orçamento. A primeira opção que sugiro é o The Waterside B&B, que tem vistas fantásticas e fica localizado no pitoresco Porto de Westport. Além de casa banho privada, também tem acesso a internet grátis. O preço por noite ronda os 40€.
Se quiser algo mais moderno, sugiro o Westport Heights, com vistas para a cidade de Westport e para o Croagh Patrick. Dificilmente irá encontrar melhor nesta zona. A apenas 10 minutos a pé do centro de Westport, o hotel dispõe de jardim, pequeno-almoço (incluído) e quartos com LCD e acesso à internet sem custos. A tarifa por noite ronda os 49€.
No cento de Westport, irá encontrar The Wyatt Hotel. Terá acesso ao Parque de Lazer Westport, onde poderá usufruir da piscina, da banheira de hidromassagem e da sauna. O preço começa em 60€ por noite.
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
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