Fotografar a Aurora Boreal e captar imagens perfeitas

Fotografar a Aurora Boreal requer um conhecimento adequado da máquina fotográfica e determinação. Para voltar a casa com as melhores fotografias das Luzes do Norte, necessita de seguir alguns conselhos e saber um pouco sobre os elementos básicos de fotografia, como abertura, ISO ou velocidade do obturador.

Como fotógrafo profissional, posso dar-lhe alguns conselhos úteis que poderá colocar em prática durante a sua viagem. Este guia para capturar este fenómeno natural dirige-se sobretudo para quem tem pouca experiência fotográfica.

Além de conhecimentos técnicos, para registar em filme ou formato digital, é necessário ter em conta que irá estar, muito provavelmente, num local frio (e com neve). Portanto, uma das coisas a ter em conta é o factor físico, associado às condições climatéricas. Se pretende fotografar a Aurora Boreal, recomendo que pratique uns dias (ou noites) e não esqueça a roupa quente.

Neste guia pode encontrar informação para fotografar as Luzes do Norte, como equipamento, configurações ideais e definições básicas de fotografia: ISO, Abertura do diafragma ou velocidade do obturador.

Informação para fotografar a Aurora Boreal

Equipamento fotográfico = vital

Tão importante como o estado do tempo é o equipamento fotográfico para captar a Aurora Boreal. Vai precisar de lentes com grande amplitude (10mm a 35mm) para fotografias mais impactantes, além de uma máquina decente que resista bem a condições extremas de temperatura.

Quanto maior o ângulo da lente, mais da paisagem circundante irá capturar. Opte por uma lente com zoom regulável, em detrimento de uma lente com zoom fixo (prime). Além do tripé, recomendo também um temporizador.

Se necessitar de ajuda na escolha de equipamento deixe o seu comentário e tentarei dar-lhe uma ajuda.

Equipamento que uso para fotografar as Luzes do Norte

• Canon 5d Mkiii
• Canon EF 24-105mm f/4L IS USM
• Tamron 24-70 mm F2.8 VC USD
• Dois tripés – um mais pequeno e outro maior. Recomendo a marca Benro, pela relação qualidade preço. Se o orçamento permitir, opte por um tripé fabricado em fibra de carbono
• Temporizador ou controlo remoto
• Produtos de limpeza das lentes
• Várias baterias suplentes – as baterias tendem a descarregar muito depressa em locais frios. Mantenha-as junto do corpo, nos bolsos interiores, para conservar a potência
• Cartões de memória Lexar

Tripé = indispensável

Suster a respiração não é suficiente para uma imagem nítida e, para fotografar as Luzes do Norte, uma ferramenta essencial é um tripé estável. Necessitará do tripé para longas exposições, além disso, com um tripé também poderá colocar-se a si próprio na imagem (veja um dos pontos seguintes) ou libertar as mãos para as proteger do frio ou para segurar uma bebida quente.

ISO, Abertura e Velocidade do Obturador

É a combinação adequada do ISO, Abertura e Velocidade do Obturador que permite captar uma fotografia de qualidade da Aurora Boreal (e qualquer outra imagem). As melhores máquinas e lentes permitem as maiores amplitudes e combinações de Abertura, Velocidade e ISO sem comprometer a qualidade da imagem final.

As auroras costumam ser mais visíveis por volta da meia-noite e, embora geralmente se movam devagar, podem “explodir” de modo repentino, aumentando consideravelmente a intensidade de luz. Tire várias fotos e ajuste a exposição de acordo com essa intensidade de luz.

Comece com uma abertura de f/2.8 e uma exposição de cinco a dez segundos. Quando a luz da Aurora Boreal for mais forte, tente usar uma velocidade de obturador mais rápida. Leia abaixo sobre a importante regra dos 500, para calcular a sua exposição perfeita.

Raw ou JPEG?

Se for principiante não irá, talvez, fotografar a Aurora Boreal em formato RAW. No entanto, é este o formato que recomendo, pois a qualidade de imagem é substancialmente superior ao JPG. Aliás, este é o único formato em que trabalho, pois permite flexibilidade e imagens de extrema qualidade.

O inconveniente é que todas as fotos tiradas em RAW vão necessitar obrigatoriamente de ser editadas com ajuda de um software de imagem (como o Photoshop, Lightroom ou Capture One).

Como principiante, talvez seja melhor optar por JPG e deixar que a imagem seja processada pela câmara. Quando possuir maior experiência, poderá então avançar para o formato RAW.

Factor humano = escala

As auroras espalham-se pelos céus escuros. Para ter noção da dimensão real da Aurora Boreal, o melhor é colocar um elemento humano na composição – para que a sua imagem ganhe uma perspectiva de escala. Um objecto, ou preferencialmente um elemento humano, em primeiro plano irá elevar a qualidade final da composição da sua imagem.

Recomendo também que tente encontrar um local com água, para captar o reflexo das Luzes do Norte. O arquipélago de Lofoten, na Noruega, é particularmente atractivo neste aspecto.

Roupa

Para fotografar a Aurora Boreal, muito provavelmente vai estar exposto aos elementos. Ou, por outras palavras, vai estar num local muito frio, com temperaturas muito baixas ou negativas durante algumas horas. Portanto, recomendo roupa bem quente, tal como calças de neve, luvas, gorro e um termo para conservar bebidas quentes.

Tempo

O tempo é o factor mais importante no momento de decidir onde capturar a Aurora Boreal. E falo do tempo nos dois sentidos da palavra: tempo disponível para a viagem e estado do tempo.O estado do tempo está fora do seu controlo, no entanto, existem formas de ter algum grau de certeza sobre a sua possibilidade de avistar este fantástico natural. No mínimo recomendo que reserve três noites para a sua expedição a um dos locais onde pode assistir à Aurora Boreal.

Eu estive na Finlândia e, em três noites, observei a Aurora Boreal por duas vezes, mas ouvi e li comentários de muitas pessoas que foram apenas duas noites e não tiveram a mesma sorte. Por isso, para maximizar a possibilidade de ver as Luzes do Norte, opte por umas férias de várias noites. Quanto ao estado do tempo, precisará de céu limpo e uma noite de preferência com lua nova.

Configurações recomendadas para fotografar as Luzes do Norte

Estas são algumas das recomendações ideais para fotografar a Aurora Boreal, mas devem ser apenas vistas como um ponto de partida e não como regras fixas. É aconselhável ir para o exterior e testar algumas imagens (mesmo sem as Luzes do Norte) e depois ajustar as definições, consoante a noite ou o local estejam mais ou menos escuros.

O ideal é possuir ou adquirir uma lente com uma grande abertura, porque isso evita aumentar demasiado o ISO. Tenha também atenção à regra dos 500 para não ficar com estrelas arrastadas e pouco nítidas. Veja em baixo a explicação sobre a regra dos 500. No meu caso, não consegui evitar algum arrastamento das estrelas.

• Coloque a sua câmara fotográfica em modo manual
• Mude a sua lente para modo manual
• Desactive a Estabilização de Imagem (normalmente, na lente)
• Desligue o Flash
• Rode o foco da Lente para o infinito – identificado com o símbolo “∞”
• Use abertura de f/2.8, f/4 ou f/5.6 – o menor número (maior abertura) que a sua lente permita. Não recomendo abaixo de f/2.8, pois será mais difícil focar
• Defina o tempo de exposição com a ajuda da regra dos 500
• Teste algumas imagens com a velocidade de ISO a partir de 800 ISO e aumente gradualmente. Ajuste a abertura em conformidade, se necessário, para manter o ISO o mais baixo possível, evitando imagens com muito ruído digital (grão)
• Personalize o balanço de brancos para o valor Kelvin entre 2800 e 4000 ou automático
• Use o modo de medição matricial (Evaluative na Canon e Matrix na Nikon). Procure o modo semelhante para a sua máquina

Pressupostos básicos de fotografia

Existem três pilares na fotografia: Velocidade do Obturador, Abertura da Lente e Sensibilidade (ISO) e os três funcionam em harmonia. Ao modificar um dos elementos está a afectar os outros. Ao início pode parecer complicado, mas depois com a prática verá que consegue assimilar estes pressupostos básicos com maior facilidade.

ISO ou Sensibilidade

O ISO controla a sensibilidade da sua imagem à luz existente. No tempo das máquinas analógicas, rolos de filme eram vendidos consoante a ocasião que necessitasse de fotografar. Por exemplo, ISO 100 ou menor para dias de sol, ou locais com muita luz, e ISO 200-400 para dias nublados.

Agora, em vez de trocar o rolo de filme só tem de pressionar um botão para mudar o ISO. Quanto maior o número, mais luz disponível para as suas imagens. No entanto, esta facilidade tem consequências negativas: quanto maior o ISO, menor será a qualidade da imagem.

Em situações limite, já tirei fotografias com ISO de 25000 ou superior. No entanto, tente manter esse número até 3200 ISO, se possível, e compense com uma maior abertura (f/2.8 ou inferior). Tudo dependerá da qualidade da sua máquina e lente.

Abertura ou f-stop

A abertura, ou f-stop (f/2.8, f/4, f/22, etc), informa a extensão da abertura do diafragma da lente, ou seja, o tamanho da abertura que permite a passagem da luz pela lente. Esta abertura é ajustada pelos f-stop. Todavia, o maior número, ou seja, f/22 representa uma abertura diminuta, enquanto f/1.4 representa uma abertura maior.

Para fotografar a Aurora Boreal, vai desejar uma abertura larga, ou seja, o menor número que a sua lente permitir. A explicação é simples: quanto mais luz a sua lente suportar, menor será a velocidade do obturador e mais detalhe pode obter na sua imagem das Luzes do Norte.

Velocidade do obturador

A velocidade do obturador define o tempo de exposição, ou seja, o tempo que o sensor está aberto, a absorver luz. Irá necessitar de ajustar a velocidade do obturador à medida que a intensidade de luz varia.

Para fotografar as Luzes do Norte, mantenha a velocidade do obturador entre 5 e 25 segundos. Quando o movimento da Aurora Boreal for rápido, tente exposições de 5 a 7 segundos. Ao invés, se as Luzes se moverem a uma velocidade mais reduzida, tente exposições de 10 a 25 segundos.

Ao fotografar a Aurora Boreal, é sempre melhor subexpor a foto para não “queimar” o canal verde do histograma. Veja a regra dos 500 abaixo.

Zoom e foco da lente

A maioria das lentes tem um símbolo “∞” que é usado para marcar o ponto aproximado de foco infinito. Mas, só o facto de focar a lente nesse símbolo infinito não significa que a foto seja perfeitamente nítida. A maioria das lentes precisa de ser ajustada para garantir um foco perfeito, mas “∞” é um bom ponto para começar.

Idealmente, identifique o foco durante o dia e memorize-o ou use fita adesiva para assinalar o ponto na lente. Em alternativa, faça zoom e defina o foco numa estrela brilhante e depois reduza o zoom e mantenha a lente no modo manual. Uma sugestão é tirar duas fotos – uma focando nas estrelas e outra num objecto em primeiro plano – e depois fazer a fusão de ambas com software de edição.

Regra dos 500

A regra dos 500 define-se pelo seguinte: 500 dividido pela distância focal da lente = à exposição adequada para evitar estrelas arrastadas. Por exemplo: com uma lente de 17 mm – numa câmara com sensor full frame, ou seja, 24×36 mm (enquadramento total) – o cálculo será 500/17 = 29 segundos.

Se tiver uma câmara com sensor APS-C de 1,5x, 1,6x ou 2x, então o cálculo será um pouco diferente: 500/(24×1.5) = 19 segundos, 500/(24×1.6) = 13 segundos, 500/(24×2) = 10 segundos. Consulte as especificações da sua máquina para saber que tipo de sensor possui, para obter o cálculo exacto.

Aconselho-o a arredondar por baixo, para garantir que as estrelas ficam nítidas, sem arrastamento. No entanto, utilizar esta regra nem sempre é possível. Use-a se puder e antes de fotografar a Aurora Boreal, pratique à noite, numa zona escura com as estrelas.

Edição das fotos

Ao regressar a casa, é necessário tratar das fotos. Além de seleccionar as melhores fotos, catalogar e — consoante o uso que pretender — inserir os metadados para encontrar as fotos mais tarde. Eu faço tudo isto no final de cada viagem ou cada sessão de fotografias e há anos que uso este programa para editar as minhas fotos. E acredite, as fotos da Aurora Boreal têm mesmo de ser editadas.

Onde ver a Aurora Boreal?

Agora que já sabe como fotografar as Luzes do Norte, só falta decidir em que lugar do planeta pode assistir ao fenómeno. Escrevi um artigo com os melhores locais para ver a Aurora Boreal e hotéis recomendados para ficar alojado.

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