Regresso, pela última vez ao Lago Bled, depois da visita ao irmão tímido – o Lago Bohinj – e, pelo caminho, vou encontrando serralharias e centenas de troncos alinhados em montes, ali largados pela eficiência mecânica de uma enorme máquina com largos dentes.
Com a mesma frieza que a motosserra tirou a vida a estas árvores, esta máquina vai largando os pedaços de árvores, os troncos, para serem transportados e transformados em mesas de cabeceira, de cozinha, bancos, camas e outros móveis.
Esta é uma imagem que me persegue até ao último segundo em que estou na Eslovénia, repetindo-se quando, dias mais tarde, sigo em direcção à Croácia.
Não consigo, porém, deixar de questionar-me e às acções de todos nós, quando compramos uma nova mesa, móvel para televisão ou até um bloco de notas, como aquele em que escrevi as notas para este texto. Até onde nos levará o consumo por coisas e mais coisas? De madeira, papel ou plástico.
Um dos pontos em que a viagem que faço, por estes dias De Portugal a Macau, por terra, me fez reflectir foi sobre a desnecessidade de termos casas cheias de objectos que para pouco (ou nada) servem. Que pouco ou nada utilizamos.
Planear viver de uma mochila nos vários meses, forçou-me a despejar de casa tudo o que não precisava, a revender ou doar o que tinha valor monetário. Esta viagem é também, para mim, uma lufada de ar fresco na obsessão por coisas novas.
E embora tenha tentado ser minimalista na minha vida diária, aceito que também, em momentos fui culpado na parte consumista da sociedade actual.
A internet veio facilitar ainda mais esta veia consumista, a obrigatoriedade do instantâneo, o fim das profissões que reparam objectos, de electrodomésticos, computadores e telemóveis que compramos, sabendo que na semana ou mês seguinte já estarão a ser ultrapassados por novos modelos.
No dia em que escrevo esta crónica, em França – por onde havia passado dias antes – anunciavam-se medidas extremas que proíbem, a partir de 2023, a destruição de qualquer produto que não seja vendido e a obrigatoriedade de reciclar ou doar bens como roupa, eletrodomésticos ou brinquedos.
Seja em Espanha, França, Portugal ou qualquer outra nação dos países desenvolvidos, é gritante o poder dos chamados templos de consumo – supermercados e centros comerciais, por exemplo. Ou o IKEA, que nos seduz a comprar móveis descartáveis como se estes fossem de papel.
E fazemo-lo, enquanto sociedade, com a mesma leviandade quer se tratem de electrodomésticos ou de um bloco de notas. Se outrora, os objectos eram produzidos (com orgulho) para durar gerações, agora já ficamos radiantes quando um telemóvel resiste, durante dois anos, às quedas e às actualizações do sistema operativo.
Quantos de nós pensaremos na floresta antes de comprar um novo móvel ou ao ingerir uma refeição – carnívora ou vegetariana. Ou nestes cultivos, que vejo ao longo desta viagem, através da janela do comboio.
Cultivos irrigados pelos rios e outros canais fluviais – vários poluídos com plástico ou químicos de indústrias – como as que vejo mais tarde na passagem por Zagreb.
As próprias sulipas que suportam a linha férrea por onde circula o comboio entre o Lago Bled e Zagreb e muitas outras ligações, de Myanmar, a Cuba. De Portugal ao Cazaquistão, da Suíça ao Reino Unido. Tornámo-nos imensamente dependentes da floresta, mas estamos a destruí-la a um ritmo avassalador.
Nas mesas onde comemos, nas camas onde dormimos, no papel onde escrevemos e a que nos limpamos. Nas linhas de comboio onde viajamos, nos livros que lemos, no lume a que nos aquecemos.
Atravesso a Croácia, com estes pensamentos no sub-consciente, enquanto pela janela do comboio avisto quilómetros – sem fim à vista – de campos de cultivo. Uns já lavrados e à espera das novas sementes e outros espaços a aguardar pela colheita.
Campos de batatas, cenouras, couves, centenas de hectares divididos pela linha férrea, de um lado, e a auto-estrada do outro. Ao centro, a cada vários hectares vislumbra-se uma árvore, isolada e triste, que resiste. À espera de um futuro incerto ou uma morte certa?
Os rios estão mais estreitos, mais curtos e menos profundos. As árvores estão na origem da pureza do ar que respiramos, mas estamos a asfixiar-nos sem disso dar conta.
De Portugal a Macau – crónica #4
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Dina Carvalho diz
Reflexões muito relevantes e que deixam uma inquietude em quem lê. A urgência de refletirmos as consequências de cada ato do nosso dia a dia tendem a construir a mudança necessária e urgente. Muito grata
Jorge Duarte Estevão diz
Tem toda a razão Dina. O tempo urge, mas pouco se faz. Às vezes parece que estamos condenados ao insucesso, mas é preciso manter o optimismo…