Este tapete pode custar entre sete e oito mil euros, diz-me a neta do proprietário da fábrica de tapetes e outros acessórios de seda de Samarkand.
Sentado num banco de madeira, forrado com tapeçaria, Haji Muhammad Ewaz Badghis, depressa se ergue para me cumprimentar. Aos 99 anos, este afegão, que criou uma fábrica de tapetes de seda e algodão há 27 anos, apresenta uma jovialidade irreparável.
A fábrica está localizada no coração da antiga Rota da Seda. Este mestre artesão movimenta-se sem ajuda, sorri largamente e é um exemplo para quem se resigna muito antes desta idade. Gostava de saber o seu segredo…
Em várias salas e também nas suas próprias casas, mulheres empregadas pelo mestre artesão criam padrões mais e menos complexos. Oito horas por dia, sete dias por semana, dezenas de mulheres transferem para o papel os desenhos que os clientes solicitaram.
O trabalho – garante-me a jovem que mostra as instalações do seu avô – é inteiramente manual, detalhado e exaustivo. “Vês aqui os nós? Esta é uma das formas de detectar se é mesmo feito à mão ou se estão a tentar vender-te tapetes produzidos com máquinas”, avisa-me.
Além de empregar várias pessoas, esta fábrica permite a quem seja apaixonado pela arte, passar três meses a aprender o ofício e no final decidir se quer prosseguir.
É precisa muita determinação e paciência. Que o diga uma das empregadas mais antigas, ali naquele lugar, naquela cadeira, de espinha dobrada, há 26 anos.
Alguns tapetes demoram cerca de um ano a completar. Intriga-me, por isso, que esta mulher talvez tenha passado uma larga parte da sua vida nesta posição curvada, de utensílios na mão, fechada numa sala a criar estupendos tapetes para serem… pisados durante anos.
Como aquele que está em andamento num dos teares – encomendado por um cliente australiano – e que deverá demorar dois anos até ser entregue. Alguns dos trabalhos são tão perfeitos que estão emoldurados e suspensos nas paredes da fábrica.
Talvez alguns destes tapetes estejam a ser pisados por personalidades como Hillary Clinton ou Vladimir Putin, alguns dos ilustres entre anónimos, como eu, que visitaram esta fábrica na cidade de Samarkand, no Uzbequistão.
Ainda preso a estes pensamentos, atalho caminho para a zona turística do Registan. Mas desta vez faço-o por ruas paralelas àquelas zonas pedonais arranjadas com bancos, jardins e árvores que dão sombra aos muitos turistas nacionais e estrangeiros que ali acorrem.
Nestas ruas a um palmo do Registan – escondidas por um muro e um portão de ferro – uma água suja liberta o odor inebriante e desagradável a esgoto. Corre a céu aberto, misturando-se com um outro forte odor que parece ser de alimentos podres.
Crianças correm para mim e suplicam para serem fotografadas, insistem para que o faça. Apenas sorriem quando o faço, quase todas não pedem nada.
Algumas, no entanto, estendem a mão. “Hello mister”, grita a todos os pulmões um miúdo de cinco ou seis anos à porta da sua casa, a alguns metros de distância. Salta de alegria quando aceno de volta.
Regressa o meu pensamento àquelas mulheres que criam obras de arte em seda e que talvez algumas delas habitem aqui neste bairro.
Um bairro escondido daqueles que gastam milhares de dólares em tapetes e das dezenas de turistas que, metros ao lado, passam por ali, sem sequer sentir o verdadeiro cheiro desta cidade.
Consola-me o facto de que tanto compradores como turistas contribuam, de algum modo, para elevar a qualidade de vida destas pessoas e crianças de Samarkand.
De Portugal a Macau – crónica #22
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