Cheira a tinta. Tinta daquela que é utilizada nos grandes navios que atravessam os largos oceanos do planeta. Vários anos após a primeira visita, regresso aos Kew Gardens, em Londres – os jardins botânicos mais fantásticos do mundo, de acordo com David Attenborough, o famoso apresentador e naturalista.
Esta nova ida aos Kew Gardens, a cerca de meia hora do centro de Londres, coincide com a pré-reabertura da Temperate House, uma enorme estufa da era vitoriana que foi alvo de trabalhos de restauração por mais de cinco anos – um investimento superior a 56 milhões de euros.
É uma estufa com uma estrutura de aço e pavimento de cimento esbranquiçados e cobertura e paredes compostos por mais de 15 mil painéis de vidro simples.
Constato, na cara dos responsáveis dos Kew Gardens, um misto de alívio e ansiedade. Alívio por finalmente a obra estar terminada e ansiedade pela preocupação com a recepção ao olhar crítico da imprensa.
Integro um grupo restrito – entre colegas de órgãos de informação da Austrália, Alemanha e, claro, da BBC e do jornal The Guardian – a quem é concedido acesso antes da reabertura ao público.
Este foi um projecto complexo de rejuvenescimento de uma estrutura que havia sido inaugurada em 1863. Agora, 155 anos depois a Temperate House dos Kew Gardens, ou em tradução literal para português a “Casa Temperada”, volta a estar preparada para sustentar a vida de mais de 1500 espécies de plantas.
Milhares dessas plantas foram substituídas por espécimes mais recentes e para completar o projecto foram necessários 180 km de andaimes, tendo servido, entre outras coisas para remover mais de dez camadas de tinta que cobriam o aço da estrutura.
Kew Gardens – outro mundo lá fora
A Temperate House abriga uma vital colecção de plantas da zona temperada do planeta, incluindo algumas das mais raras e ameaçadas. Mas, se dentro desta estufa existem diversas espécies de flora, a verdade é que no recinto exterior existe igualmente um outro mundo natural.
Ao percorrer o largo perímetro (1214 metros quadrados) dos Kew Gardens, ainda que pela segunda vez, não fico indiferente à imponência das enormes árvores que preenchem o espaço.
No total serão mais de 14 mil as árvores que estão plantadas nos Kew Gardens. A área inclui uma sequóia-sempre-verde (Sequoia sempervirens) e sequóias gigantes (Sequoiadendron giganteum).
A sequóia-sempre-verde é, aliás, a árvore mais alta dos jardins botânicos – 39 metros de altura. Algumas destas árvores datam do século XVIII, como a Acácia-do-Japão (Styphnolobium japonicum) ou uma Acácia-bastarda (Robinia pseudoacacia), sendo tão antigas quanto os próprios jardins e únicas no território britânico.
Os cientistas estimam que as 14 mil árvores contribuem de forma significativa para a redução da poluição em Londres, “inspirando” anualmente, cerca de nove toneladas de dióxido de carbono do ar da cidade.
Inspiro, também eu, o ar mais puro desta verdadeira floresta nos subúrbios da selva urbana, da selva de andaimes, tijolo, lojas e consumismo, da capital britânica.
Crianças retidas na colmeia gigante
No pólo oposto desta contagem do tempo, observo várias crianças que, acompanhadas pelos pais e avós, atiram migalhas de pão para satisfação própria e dos patos e gansos que parecem já aguardar por este momento à beira dos vários lagos.
Animadas, as crianças, espreitam entre as coloridas flores, saltam na cuidada relva e, sobretudo, ficam retidas na colmeia gigante que está instalada nestes jardins botânicos londrinos.
Espreitam e acenam pelo chão – que é ao mesmo tempo tecto – de vidro. Do outro lado do círculo perfeito, no coração da colmeia, outras crianças e pais respondem com reforçada energia e alegria.
Instalada num pequeno prado de coloridas flores silvestres, The Hive é uma experiência e instalação multissensorial – sonora e visual – projectada para destacar o extraordinário contributo das abelhas no mundo natural.
The Hive é constituída por 170 mil peças de alumínio, 1000 luzes de LED e demorou 120 dias a erguer. As luzes e sons emitidos mudam constantemente dentro desta colmeia de 17 metros de altura e são activados pela actividade das abelhas numa colmeia real nos Kew Gardens.
Esta é uma fascinante obra da engenharia, com base no mundo natural e animal. The Hive foi criada pelo artista Wolfgang Buttress e inspirada em pesquisas científicas sobre a saúde das abelhas e a sua vital relevância como polinizadoras do planeta.
De rainhas a Sir David Attenborough
É preciso sublinhar que a apresentação, disposição e variedade de espécies de flora nos Kew Gardens é sublime. Visito os jardins num mês de Primavera e dezenas de trabalhadores dos jardins encarregam-se de que tudo esteja imaculado. Perfeição é a palavra adequada.
Com pequenas ou médias tesouras de poda, transformam e conferem um toque de requinte. Chamar-lhe-ia um aperfeiçoamento do que a natureza pausou durante o longo Inverno britânico e a que deu vida na chegada da estação primaveril.
David Attenborough, o famoso apresentador e naturalista, é um dos moradores locais que visita com regularidade os jardins.
“Quando tinha um emprego de escritório e estava deprimido costumava ir aos Kew Gardens, nos fins-de-semana, para respirar fundo. É fantástico”, afirmou o popular apresentador à imprensa local.
No meio desta imensidão de verde que Attenborough elogia, existe um símbolo vermelho que sobressai e me persuade a ver de perto – Kew Palace.
O palácio foi construído em 1631 para um comerciante flamengo, Samuel Fortrey e a sua esposa, Catherine de Latfeur. Ainda hoje as iniciais S e C estão esculpidas na porta.
100 anos mais tarde o prédio seria comprado por George III e a Rainha Carlota. Ao lado deste imponente prédio de cor acentuada, existem as antigas cozinhas reais – preservadas desde 1818 – que permitem visualizar como era o ambiente de trabalho dos súbditos de Sua Majestade.
Barris de vinho, cestos de verga e fornos de tijolo, por exemplo, podem ser aí encontrados.
Da arte ao topo das árvores
A cada dois minutos oiço e vejo enormes aviões de passageiros – já em preparação para a aterragem no aeroporto de Heathrow – a sobrevoar a baixa altitude os jardins botânicos.
Identifico o A319 da TAP, o A380 da Qatar Airways e inúmeros modelos da British Airways.
Sempre me encantou olhar para os aviões deste modo e pensar ou tentar adivinhar para onde vão, de onde vêm. E, ao mesmo tempo, contar os dias para estar sentado em posição semelhante.
Será que vislumbram – todos aqueles viajantes que chegam de Portugal, do Catar ou de África – a partir das alturas, a encantadora beleza dos jardins?
Desisto de contar aeronaves e volto a factos mais térreos, mas seguindo em ritmo de passeio até à galeria de arte Marianne North, onde encontro pinturas de estilos clássicos e coloniais com ênfase nas plantas e árvores.
Inspirados em viagens da pintora, os tons esverdeados dominam a maioria das obras que retratava detalhes da natureza. Estão aqui expostas mais de 800 obras da artista inglesa da época vitoriana.
De novo no exterior, salto para a relva para dar espaço ao mini-comboio que transporta visitantes ao longo dos jardins. Depois de retemperar forças numa das esplanadas do café dos jardins, viajo agora em direcção ao céu, com o intuito de visitar uma outra interessante atracção dos Kew Gardens – Treetop Walkway.
Este passadiço elevado de 200 metros de comprimento, ergue-se 18 metros acima do solo, ou seja ao nível da copa de muitas das árvores, permitindo-me ter uma visão privilegiada do complexo ecossistema.
Lá em baixo, uma jovem segura pela mão o namorado e tenta persuadi-lo a subir os 118 degraus até ao topo da plataforma, enquanto uma família de três gerações observa esculturas de troncos de árvore. Estas formas de arte ilustram elementos microscópicos e explicam o crescimento das árvores.
Já depois de ver aviões, pássaros e insectos a aterrar, desço mais dois níveis, seguindo por um caminho onde pouca luz natural penetra e que me transporta até uma espécie de laboratório subterrâneo onde se estudam o solo e as suas propriedades – o Rhizotron.
Não me detenho por muito tempo porque prefiro estar à superfície e ainda tenho muitos elementos fascinantes destes jardins para explorar. Do Jardim de Bambu à Grande Pagoda, proliferam aspectos de arte e beleza eloquentes, entre a intervenção humana e a perfeição da natureza.
Ainda não visitei todos os jardins botânicos do mundo, mas se os Kew Gardens são considerados por David Attenborough como “os mais fantásticos”, como poderia estar em desacordo?
Outras atracções dos jardins botânicos que recomendo visitar
- Jardim de Bambu
- Jardim das crianças
- Casa Alpina
- Grande Pagoda
- Paisagem Japonesa
- Palácio de Kew
- Jardim Mediterrânico
- Palm House
- Jardim da Rainha
Factos curiosos sobre os Kew Gardens
- Os Kew Gardens são o maior local, em Londres, eleito Património Mundial pela UNESCO
- Há 22 quilómetros de caminhos nos Kew Gardens
- Kew Gardens tem a maior colecção de plantas vivas do mundo – 30000 espécies
- Mais de sete milhões de plantas estão conservadas no herbário (Herbarium)
- Os jardins abrigam o palácio real mais pequeno do Reino Unido
- 700 árvores foram destruídas durante a “grande tempestade de 1987”
- Os jardins foram bombardeados e sobreviveram à Segunda Guerra Mundial
- Dão emprego a mais de 750 pessoas, entre cientistas, jardineiros e horticultores
Dicas para visitar os Kew Gardens
Evite os fins-de-semana
Se deseja visitar os jardins botânicos deve evitar os fins-de-semana, sobretudo os fins-de-semana prolongados – entre Março e Agosto.
Se a sua visita coincidir com o período de fim-de-semana, então tente chegar ainda antes da abertura (10h00) para evitar algumas filas. Além disso, irá encontrar maior actividade de insectos e aves durante a manhã.
Consulte o horário de abertura dos Kew Gardens antecipadamente
Deve consultar o horário de abertura dos Kew Gardens, pois este oscila bastante ao longo dos meses do ano. O horário de fecho entre Novembro e Janeiro é às 15h30, enquanto à sexta, sábado, domingo e feriados, entre Maio e final de Agosto, encerra às 20h00.
Escolha a melhor altura para visitar os Kew Gardens
Os meses de Primavera, entre Abril e Junho, e entre Setembro e final de Outubro, são os meus meses preferidos para visitar os Kew Gardens. Estes dois períodos beneficiam de menos turistas nos jardins, as árvores estão no seu esplendor e existe uma intensa actividade de aves e insectos – sobretudo na Primavera.
No Outono, irá encontrar um colorido fantástico proporcionado pelas milhares de árvores plantadas.
Duas pessoas pagam menos que uma
O National Rail, comboios britânicos, oferece entradas gratuitas. Uma pessoa paga o preço total de adulto e a segunda pessoa não paga, se apresentar o cupão e bilhetes válidos do National Rail.
Outras atracções incluídas nesta promoção são, por exemplo, a Torre de Londres, o Jardim Zoológico ou o London Eye.
Só precisa de apresentar um bilhete de comboio (o Oyster Card não é válido para estas ofertas) e imprimir (ou recolher numa estação de comboios) o cupão do site Days Out Guide. Um cupão é necessário para duas pessoas, por atracção.
Recomendo também, caso viaje sozinho, a compra do bilhete online através do site oficial dos Kew Gardens. Se viajar em família, também existem bons descontos no site oficial.
Leve piquenique
Embora existam cafés e restaurantes no interior dos jardins, os preços não são atractivos e aproximam-se dos praticados nos aeroportos. Uma sandes de fiambre custa perto de seis euros e uma garrafa de água ronda os dois euros.
É permitido levar a sua própria comida e bebida e existem muitos locais – a começar pela relva convidativa e a sombra de milhares de belas árvores – onde pode descansar e saborear o seu piquenique.
Eu opto quase sempre por abastecer no supermercado, pois tenho mais opções e pago um terço do preço.
Dependendo da estação de metro ou comboio que utilize, pode abastecer num supermercado local. Perto da estação de comboio de North Sheen existe um enorme supermercado da marca Sainsbury’s.
À saída da estação de comboio de Richmond encontrará um supermercado da marca M&S, enquanto perto da estação de metro de Kew Gardens existe um pequeno ponto de abastecimento da marca Tesco – o principal retalhista do Reino Unido.
Como chegar aos Kew Gardens
A melhor forma de visitar os Kew Gardens é através de transporte público. Pessoalmente utilizo a estação de comboio de North Sheen e percorro a pé os restantes 900 metros (cerca de 12 minutos), acedendo aos jardins através do Lion Gate.
Recomendo esta entrada, pois tem a possibilidade de abastecer no supermercado e a entrada é menos demorada que no Victoria Gate.
Existem vários pontos de acesso aos jardins botânicos, consoante o que lhe mais convier visitar à chegada. Pode consultar o mapa antes de decidir e depois seguir as instruções que deixo abaixo.
Metro
A estação de metro (Tube) de Kew Gardens, na Zona 3 de Londres, fica a 500 metros do Victoria Gate. A estação é servida pela District Line e pelo London Overground (comboio de superfície).
Pode consultar aqui a informação actual sobre as ligações do Metro para os Kew Gardens e também anotar o preço dos bilhetes do transporte de ida e volta.
Tenha em atenção que é muito comum algumas secções das linhas do Metro de Londres estarem encerradas para manutenção durante os fins-de-semana e feriados.
Comboio
A estação de comboio de Kew Bridge fica a 800 metros do Elizabeth Gate, enquanto as estações de comboio de North Sheen e Richmond, distam entre 900 e 1200 metros do Lion Gate.
A South Western Railway opera a partir Waterloo, com passagem por Vauxhall e Clapham Junction. Em Clapham Junction pode também aceder ao London Overground. Pode consultar aqui os horários e preços de todos os comboios para os Kew Gardens.
Autocarros
- Linha 65 (Via Ealing Broadway) – Paragem perto do Lion Gate e do Victoria Gate
- Linha 391 (Via Fulham) – Paragem perto da estação de Kew Gardens
- Linha 237 (Via White City) e Linha 267 (Via Hammersmith) – Paragem na estação de Kew Bridge
Lista dos pontos de acesso, atracções e código postal para preparar a sua visita
Victoria Gate (TW9 3JR)
Palm House
The Botanical
Galeria de arte Marianne North
Temperate House
Broad Walk Borders
Café e loja Victoria Plaza
Estação mais próxima – Kew Gardens (Metro)
Elizabeth Gate (TW9 3AB)
Restaurante Orangery
Conservatório Princesa de Gales
Palácio de Kew e Cozinhas Reais
The Hive (A Colmeia)
Estação mais próxima – Kew Bridge (comboio)
Lion Gate (TW9 2DF)
Japanese Gateway
Restaurante Pavilion
Estação mais próxima – Richmond (comboio)
Hotel nos Kew Gardens
Existem diversas opções se quiser ficar alojado nas imediações dos Kew Gardens. Pode utilizar esta página específica do Booking.com para pesquisar o que lhe agradar mais.
Nunca fiquei alojado perto dos jardins, mas se optar por pernoitar nesta zona de Londres não irá arrepender-se, pois é pacata, bonita e irá ter o rio sempre por perto. É uma boa opção para fugir ao centro da cidade e explorar outra zona da capital londrina.
Seguro de viagem
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