Desconcentro-me com tamanha beleza. Arrepio-me com o cenário que deslumbra. Verto lágrimas de prazer na solidão, quando subo a montanha.
Sento-me e contemplo. Não está aqui ninguém. Não escuto nada, nem tento. Só um sopro aleatório de vento.
Falta-me o fôlego e não é porque estou a quase três mil metros de altitude, mas porque é indisfarçável e inimitável o quadro natural que não precisou de tintas, nem telas, nem pintores.
Fecho e abro os olhos. Não durmo, nem sonho. E sem pestanejar admiro esta incrível beleza natural ao meu dispor – e de três ou quatro outros estrangeiros e locais.
Não sou o primeiro a passar por aqui, pois há milhares de anos que a estas paisagens acorreram mercadores, negociantes, aventureiros e viajantes que usaram os oásis e montanhas para se refugiar de tempestades. A Rota da Seda parava por estes lugares.
Pergunto-me quantos desses mercadores de outras eras, que partiam da actual cidade de Xi’an, na China, para transportar produtos até ao outro lado do mundo, até ao local onde a terra beija o Mediterrâneo.
Em Tash Rabat pouco sobra da primeira forma de globalização – a Rota da Seda – a que se seguiram os Descobrimentos Portugueses e as trocas comerciais marítimas.
Há países onde tenho de percorrer quilómetros, procurar no mapa a atracção turística, verificar as coordenadas geográficas, seguir os detalhes obrigatórios dos folhetos turísticos.
Porém, no Quirguistão o turismo é verde: essa uma das cores predominantes em algumas regiões do país e também um destino que ainda se esconde.
Não é inacessível, mas poucos vêm do Ocidente (ou até do Oriente) e muitos fazem-no como eu, em viagens de longa duração, como a aventura que me dedico – De Portugal a Macau.
Quem chega ao Quirguistão pela primeira vez, ouve mencionar os nomes dos mais comuns, como Issyk ou Song Kul. O primeiro mais parece um mar, onde turistas locais o transformam em zona balnear a cada Agosto, com jogos nómadas e estâncias de Verão para banhar-se em águas límpidas e pouco frias.
O segundo, a três mil metros de altitude, é mais reservado, precisando de mais esforço para o visitar. Nem o alcatrão – ou sequer estrada digna desse nome – lá chega.
Chego ao Song Kol em movimento contrário ao de muitos nómadas que passam por mim com os camiões, carrinhas e cavalos carregados dos materiais que usam para viver mais perto das montanhas durante alguns meses do ano.
No final do Verão ou início do Outono, inicia-se o esforço de desmontagem dos yurts – as tendas circulares utilizadas em algumas nações da Ásia Central pelos povos nómadas.
Estes viveram ali nos meses de Verão, onde as pastagens são frescas e abundantes para rebanhos de ovelhas, cabras e yaks e manadas de vacas e cavalos.
Passam por mim, com dois pisos de materiais no exterior dos veículos e quase toda a família na cabine das carrinhas. As viagens são lentas e nem sempre seguras.
Param nos pontos mais altos das estradas que serpenteiam as montanhas e dão descanso aos velhos motores e preparam os travões para as descidas com inclinações acentuadas. Alguns chegam ao sopé da montanha, outros têm de improvisar reparações a meio.
No Quirguistão, como em poucos lugares onde estive, a estrada é o melhor destino, a montanha que faz sombra aos vales é a atracção turística – sem o saber.
Os vales nem sempre têm nomes, os parques desconhecem os apelidos, o marketing que não existe é a melhor promoção que o Quirguistão possui.
Sem massas, sem exageros, sem loucura de viagens de grupos. É um país para viajantes independentes, para quem sonha sem precisar de adormecer, para quem pensa ter saído do planeta Terra, sem atravessar a galáxia.
Nos olhos, como na pele, o Quirguistão deixa-nos uma marca indelével, como uma cicatriz que propositadamente criámos, como um sinal de nascença que tínhamos mas desconhecíamos até ao momento em que a vimos ao espelho.
E aqui não são precisos espelhos, porque há lagos, montanhas, vales, rios, desfiladeiros e tantas outras maravilhas geológicas naturais que nos fazem, afinal, reflectir, sorrir e lacrimejar na imensidão sublime onde a alma humana se perde.
De Portugal a Macau – crónica #23
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