Lada, Lada, Lada. É marca que prolifera pelas estradas, boas e más, da Arménia. Novos e modernos, os veículos produzidos na Rússia, são conduzidos pelos Arménios. Talvez pelo menor custo, talvez por razões políticas, passadas e actuais.
Em cada pedaço de estrada, vejo-os de todas as cores e modelos, de carros a veículos 4×4. Se na Geórgia, de onde partira há alguns dias, havia bastantes em zonas rurais, na Arménia, da capital Yerevan a qualquer extremo do país, o domínio é absoluto.
Porém, em contraste com a imensidão da marca russa – nesta antiga república soviética – viajo num Crysler. Ao passar pelas primeiras colinas mais elevadas, quando se circula da Geórgia para território Arménio, sou informado que do outro lado das montanhas está o Azerbaijão.
Em baixo, um lago ajuda a delimitar a fronteira dos dois países. Ao olhar com mais atenção, vislumbro, no alto da colina, carros-patrulha e postos de observação.
Quase à beira da estrada, repete-se a paisagem de casas destruídas ou semi-destruídas pelo conflito entre os dois países. As janelas não têm vidros ou portadas, os telhados já caíram.
O cenário é desolador. Pessoas de ambas as nações foram obrigados a sair dali. Neste momento ainda não há relações diplomáticas entre a Arménia e o Azerbaijão, em grande parte devido à disputa do território de Nagorno-Karabakh. Esses milhares de pessoas largaram tudo o que tinham e nunca mais voltaram.
Com excepção de Yerevan, a Arménia é um país onde se aparenta viver com muito pouco. O país está isolado, em conflito com vários vizinhos – da Turquia ao Azerbaijão. Foi-lhe capturada uma larga parte do território ao longo de décadas sucessivas.
A maioria das estradas são um martírio e suplicam por intervenção – até na estrada que liga a Arménia à Geórgia e que é uma das duas ligações ao exterior. A outra fronteira aberta é com o Irão, com quem as relações também não são famosas. As restantes fronteiras terrestres com os países vizinhos estão encerradas.
A Arménia pretende, por exemplo, que a Turquia reconheça o seu papel no que os arménios denominam de genocídio às mãos do império otomano.
Embora o genocídio, ou holocausto como também é denominado, tenha merecido condenação mundial, os turcos consideram que os crimes foram responsabilidade das autoridades da época, mas rejeitam que se tenha tratado de uma acção intencional de eliminação física de todo um povo.
Ao visitar o Museu do Genocídio, em Yerevan, vejo com detalhe os argumentos expostos por este pequeno país. Os arménios constituíam uma das minorias integradas no Império Otomano ao longo de vários séculos, mas o intenso sentimento nacionalista provocou revoltas e repressão constantes.
O número total de vítimas ainda é alvo de discórdia, sendo colocados entre 500 mil e 1,5 milhões de pessoas mortas. O processo é detalhado, no museu, com fotografias dos acusados, com gráficos e textos que sublinham os modos de tortura aplicados a homens, mulheres e até crianças.
Algumas terão sido queimadas vivas com óleo a ferver, outras enterradas ainda com vida.
O povo arménio não esquece este passado e a Turquia puramente não reconhece a sua acção, pelo que não se afigura qualquer resolução.
Ao visitar um dos principais pontos turísticos do país, Khor Virap, é impossível ficar alheio a como – do alto deste bonito mosteiro e até a partir de Yerevan – a montanha mais alta da região e símbolo para os arménios está, agora, em território…turco.
Noto a diferença no ar, em relação à Geórgia. A maioria dos carros é movido a gás, pois o preço é bastante inferior ao do gasóleo ou gasolina. Poderia ser facilmente uma questão financeira, matemática ou opcional.
No entanto, para os arménios, a dependência daquele combustível é motivada por influências políticas externas. “A União Soviética ainda não acabou”, diz-me o taxista quando lhe pergunto sobre o uso de gás na esmagadora maioria dos carros.
Acrescenta este homem que o “controlo” de Moscovo é feito, indirectamente, através dos recursos que a Rússia fornece – como o gás.
Comunico com este arménio em castelhano (viveu vários anos em Barcelona), mas fala ainda outros idiomas, como russo, inglês, georgiano e, claro, arménio. No seu breve CV, também acrescentará que consegue decifrar quatro alfabetos distintos: cirílico, arménio, georgiano e latino.
Nos campos, dezenas de empregados resistem ao forte calor arménio. Acenam à minha chegada e observam atentos enquanto troco algumas palavras com o seu patrão. Um homem de 30 e poucos anos que usa um pedaço de terra para produzir toneladas de tomates, até ao fim do Verão.
Converso, também com ele, em espanhol, embora com uma peculiaridade: o sotaque é argentino. A explicação: o irmão vive em Buenos Aires e é aí que durante vários meses passa a temporada invernal europeia. Tempo suficiente para conhecer um novo idioma e, ao mesmo tempo, deixar o frio passar pela Arménia até ao próximo Verão.
Nas estradas, vende-se milho cozido na hora, milhares aproveitam o calor para mergulhar no idílico Lago Sevan e compram bóias, alugam motas de água, nadam livremente neste mar interior da Arménia.
A vida, apesar das dificuldades, não pode parar. Nem sequer na Arménia, onde a palavra fácil tem sido, nas últimas décadas, poucas vezes pronunciada.
De Portugal a Macau – crónica #17
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