Vales verdejantes, montanhas imponentes, nuvens grossas e brancas, em camadas sobrepostas verticalmente, com a luz do sol a incidir sem queimar. É assim o meu adeus à capital da Bulgária, Sófia, que vejo da janela do comboio em direcção a Plovdiv.
Pelo caminho observo carros com décadas de idade, igrejas brancas imaculadas, que desafiam a vertigem dos construtores. A igreja sempre no topo das prioridades, onde parece nunca faltar verba para construir, reconstruir, renovar, erguer.
Como em todas as igrejas e religiões, os fiéis arranjam sempre alguns trocos para deixar na caixa das esmolas. Em todas as igrejas que visito na Bulgária as entradas são grátis – com excepção da contribuição se se quiser tirar fotografias.
Mulheres, com trajes de camponesas, viajam nos comboios e dispensam a compra de bilhete, apresentando uma espécie de cédula que lhes permite viajar. Apresentam-no à passagem do revisor. Não sei para onde seguem, mas conversam sem parar, juntando-se a estas, umas paragens à frente, outra mulher.
Todas seguem em amena cavaqueira. Esta última, talvez com 50 e poucos anos, vejo-a de perfil desde o meu banco, tem um dente de ouro e faz-me lembrar o actor do filme Sozinho em Casa – o bandido que por diversas vezes tenta assaltar a casa da família do jovem Kevin.
As mulheres viajam com vassouras nas mãos, coletes laranja vestido. Não sei se viajam para ir trabalhar ou se apenas o fizeram para comprar produtos na capital. Saem em Ihtiman, uma cidade a 60 quilómetros de Sófia, com cerca de 13 mil habitantes. No entanto, da janela do comboio apenas vislumbro uma mão-cheia de casas, algumas quase em ruínas, mas com antenas parabólicas nas fachadas.
Na estação de Septemvri, reparo em antigas, imóveis e defuntas composições de segunda classe. A carruagem 659 parece ali estar há décadas, se atentar ao seu aspecto.
Noutra velha carruagem mais à frente parada na linha desactivada, dezenas de esqueletos de bancos de ferro, descansam ao sol e chuva no telhado dessa composição.
Aí, vagões vermelhos, com portadas de madeira, também esperam por um fim. De dentro para fora, ervas daninhas encontram terreno fértil para crescer e dominar o espaço, abraçando os vagões.
Muitas plantações e fábricas abandonadas, de vidros despedaçados, estruturas enferrujadas e telhados desabados. Provavelmente lembranças dos tempos do comunismo.
Distraio-me com o cenário lá fora e já vejo ao fundo o meu novo destino: Plovdiv, a Capital Europeia da Cultura. Ao cabo de alguns dias a viajar de comboio, descubro um novo conceito: pontualidade búlgara. O comboio saiu e chegou dentro do horário previsto.
De Portugal a Macau – crónica #6
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