AVISO: Devido à violência esporádica em curso no Daguestão, os viajantes devem estar cientes dos riscos potenciais e ter cuidado ao visitar esta região. É aconselhável consultar a sua embaixada antes de marcar a sua viagem.
Este aviso pode ler-se em alguns sites de viagens. Os seguros de viagem podem de nada servir nesta região. Devem ser evitadas todas as deslocações à República do Daguestão.
Talvez também por isso, tinha imensa curiosidade em visitar, embora dispusesse de pouco tempo para o fazer.
Quando parti para a minha viagem De Portugal a Macau não idealizava o Daguestão no roteiro. No entanto, perante a nega do Irão reduziram-se as possibilidades para seguir de comboio até ao destino final.
No Daguestão não ouvi outra língua que não fosse o russo. Quase arrisco dizer que não poderia ser de outra forma, pois os conselhos aos visitantes são claros. As ameaças terroristas são demasiado vincadas para atrair aí gente.
Vejo em Derbent – uma das principais cidades da região – mulheres muçulmanas e outras que talvez o sejam. Outras de qualquer outra religião e também gente como eu – sem interesse neste assunto, embora respeitando as escolhas de cada pessoa.
Vejo crianças alegremente a brincar, a jogar futebol na rua e celebrar cada golo que marcam numa baliza improvisada nas muralhas da fortaleza da cidade.
E reparo também nos homens que, nos bancos de rua, discutem serenamente os assuntos quotidianos, ali algures numa rua situada entre a igreja e a mesquita.
Deparo-me com jovens rebeldes que gastam os pneus dos carros em bruscos arranques e travagens e famílias que acordam cedo para cavar e regar as pequenas hortas que lhes dão sustento.
Na fortaleza, os turistas russos começam a subir a escadaria para contemplar as vistas para o Mar Cáspio e Derbent, a cidade mais antiga da Rússia.
A grande velocidade e com decibéis mais altos seguem os carros dos convidados de um casamento. Buzinam, gritam, cantam, seguem pelas ruas da cidade, alguns sentados nas portas dos carros, como estou tão habituado a ver em comemorações futebolísticas. Uma espécie de três duques do Daguestão.
Desperto cedo para prosseguir viagem para a maior cidade do Daguestão, Makhachkala. O comboio regional vai recolhendo e largando passageiros em pequenas estações e apeadeiros.
Vários homens, em diferentes estações, cumprimentam outros homens que haviam entrado previamente no comboio.
Talvez sejam vizinhos ou façam esta viagem regularmente e aqui se tenham conhecido. Circulamos todos com o Mar Cáspio, à nossa direita, e paisagens que alternam entre planícies, vinhedos, pastagem e colinas, à esquerda.
“Antigamente a Chechénia, hoje é a república do Daguestão no Mar Cáspio que é o local mais explosivo da Rússia – e da Europa. Há ataques bombistas quase diariamente, tiroteios entre polícia e militantes, histórias de tortura e pessoas desaparecidas.”
Esta era a descrição da BBC em 2011. Embora a situação se tenha alterado nos últimos anos, os governos dos principais países continuam a marcar esta região a vermelho e dizem que todas as visitas não são aconselhadas.
A República Russa do Daguestão está situada no norte do Cáucaso, delimitada pela Chechénia e a Geórgia a Oeste, o Azerbaijão a Sul e o Mar Cáspio a Leste.
Além disso, possui uma localização estratégica, pois é o único ponto de atravessamento plano no final da barreira montanhosa do Cáucaso.
O Daguestão possui enormes reservas de petróleo e gás, mas a corrupção e crime organizado impedem o crescimento da região, dizem as agências internacionais. Mais grave é ainda a insurgência islâmica. A região serviu, nos últimos anos, como refúgio para militantes extremistas.
Num dos dias que estou na “terra das montanhas”, como é descrita a região do Daguestão, muitos dos restaurantes da cidade de Derbent não podem servir os clientes porque houve um corte geral… de gás.
Numa rua mais escondida, carros e jipes de luxo estão estacionados à porta de um prédio com paredes altas, câmaras de vigilância, onde homens musculados fazem a segurança do local. Os barões do crime prosperam aqui, mas o povo está entre os mais pobres da Rússia.
Sentado à mesa com o proprietário da guesthouse onde estou alojado conversamos – com ajuda de uma ferramenta de tradução – e é notório o seu orgulho na região onde vive.
Mostra-me fotografias de algumas atracções do Daguestão, como a fortaleza de Derbent e o fantástico desfiladeiro de Sulak. E também me mostra as fotografias de um outro visitante belga que segura várias armas de fogo. “É a minha colecção privada”, diz-me.
Talvez seja mais fácil, seguro e discreto andar por ali com armas de fogo, pretas ou douradas do que armado com uma câmara fotográfica.
Ao tentar comprar um bilhete de comboio entre Derbent e Makhachkala, para entrar na estação é preciso passar pelo detector de metais e colocar toda a bagagem para inspecção na máquina de raio-x.
Estou habituado ao procedimento, pois isso foi acontecendo um pouco por todo o lado nesta minha travessia De Portugal a Macau. Desde as estações de comboio e autocarros até aos centros comerciais da Turquia, não houve surpresa.
E nem sou contra, pois até prefiro o incómodo e estar mais seguro – ainda que muitos destes controlos sejam um pouco duvidosos, tal a leveza com que são feitos.
Na estação de Derbent, porém, atingiu o patamar mais elevado que alguma vez enfrentei. Carrego equipamento fotográfico e ao passar na máquina de raio-x, vi-me obrigado a desmontar, por completo, as minhas mochilas.
Não foi preciso tirar a máquina fotográfica ou o computador. Foi preciso esvaziar por completo as mochilas, de ponta a ponta. Por cada lente, filtro, ou outro acessório fotográfico surgia um outro funcionário em meu redor.
No total, talvez estivesse rodeado de dez pessoas, entre seguranças, polícia e outro staff da estação.
Largos minutos depois, consegui convencê-los que não representava qualquer ameaça e pude ir comprar o bilhete para seguir viagem, no dia seguinte. Descobriria, porém, que para o percurso entre Derbent e Makhachkala o bilhete não é vendido na estação – apenas no comboio.
No museu da cidade de Makhachkala, onde estaria horas depois, o meu bilhete indicava o número 1937. Será este o número de total de visitantes desde a abertura do museu?
A constatar pela afluência no dia em que visitei talvez não esteja longe da verdade. Nessa manhã o número de pessoas no museu era: duas. Pessoas visitantes, pois o número de empregados era pelo menos nove ou dez.
A atenção ao visitante por parte dos funcionários pode classificar-se com nota 10. Toda a informação no museu está apenas em russo, mas houve até quem me traduzisse as notas que acompanham os artefactos expostos para que eu percebesse mais um pouco da história da região.
Enquanto eu mergulhava na história recente e antiga do Daguestão, na praia, a cerca de cinco minutos a pé, mulheres e homens banhavam-se no Mar Cáspio.
Tinha lido, em comentários de outros viajantes que era prudente não usar calções nesta zona para não ferir sensibilidades de uma população conservadora.
Mulheres em biquíni partilhavam a cálida água salgada deste mar interno às portas de entrada da Ásia e saída da Europa com outras mulheres que mergulhavam com o mesmo vestido e lenço na cabeça que utilizam diariamente nas ruas.
Reparo no forte contraste entre a mãe que brinca nas águas do Cáspio ostentando o seu biquíni vermelho e as mulheres de vestidos longos coloridos. Sem condenação, sem segregação. Apenas duas visões distintas do mundo ou de si próprias.
Ali naquela praia do Daguestão, a única forma de separação é nos vestiários ao ar livre, onde pessoas do sexo diferente ocupam diferentes espaços para trocarem a roupa da praia pelo traje do dia-a-dia.
Nunca em tão pouco tempo nesta viagem De Portugal até Macau tinha recebido tamanha dose de hospitalidade, vontade de conviver, de conhecer e de contactar em tão curto espaço de tempo.
De quem me recebeu numa casa-hotel, de quem me indicou o caminho em Derbent, da mulher que me abriu as portas para depositar as malas enquanto eu passeava pela cidade e relaxava na praia até se fazer horas para o próximo comboio.
Ou daquele casal de idosos que ia viajar quase dois dias num comboio para participar numa festa de casamento – a centenas de quilómetros de distância – e que me ofereceu almoço na longa viagem de comboio até às portas do Cazaquistão.
Se todos os locais do mundo em que se desaconselha a visita forem como o Daguestão, poder-se-á perguntar: quem deseja visitar sítios turísticos?
De Portugal a Macau – crónica #20
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