Em algumas revistas de viagem faz-se, por vezes, uma pergunta do género: quem és tu? E dá-se como opções as seguintes respostas: oceano, deserto, selva, montanha. Destas quatro alternativas, diria, sem dúvida, que a selva é a que menos me atrai.
Não somente por ter nascido português – mas também por isso – a ligação ao oceano é umbilical e é indubitavelmente um dos meus fascínios. Talvez mais do que as próprias praias, o oceano. Tendo já passado por quase todos os grandes oceanos do planeta, do Índico ao Pacífico, e, claro, pelo Atlântico, seria inevitável essa ligação.
Jamais esquecerei, de igual modo, os momentos de indescritível silêncio no Deserto do Namibe, aquando das minhas viagens à Namíbia.
Encontrei no planeta, ou pelo menos no meu mundo pessoal, um novo fascínio: as montanhas. Senti inicialmente essa atracção quando viajei várias vezes pelas Terras Altas da Escócia e percorria estradas sinuosas e estreitas que requeriam atenção redobrada. Quando nesses finais de tarde, já quase sem luz, apenas a sombra ou silhueta das elevadas formações me acompanhavam até chegar ao destino.
A segunda vez, terá sido, quando passei vários dias a circundar quase todo o Montenegro, um dos países mais montanhosos (e belos) dos Balcãs. Nesses vários dias em que estive no país, fascinei-me com os lagos, vales e montanhas do Durmitor entre outras incríveis zonas do Montenegro.
Todavia, foi na Geórgia, mais exactamente na região de Svaneti e a partir da principal base (Mestia) que a paixão e atracção se transformaram em amor pleno por estas paisagens. Foi aí que caminhei até 3000 metros de altitude. Onde o receio – e efeitos inebriantes – das alturas quase se dissipou.
Sempre questionei qual seria a motivação dos montanhistas que, por exemplo, passam a vida (e alguns a perdem) a tentar trepar as maiores montanhas do planeta, como o Everest ou o Kilimanjaro. Não que eu tenha essa ambição, porque não o faço para chegar a esta ou aquela altitude, para conquistar este ou aquele cume.
A minha motivação será, talvez, de máquina fotográfica às costas descobrir um novo ângulo, ou talvez de apenas ter um novo ponto de vista – mesmo sem o registar no sensor e cartão de memória. Quiçá seja apenas querer fugir ao barulho das zonas urbanas e da inseparável poluição sonora e atmosférica.
Quem sabe se o faço para encontrar um refúgio ao ar livre – mesmo que para isso tenha de pegar numa mochila, com equipamento de chuva, água e alguns mantimentos. Isto, além do esforço físico que tais empreitadas suscitam.
Ou talvez me agrade (agrada de facto) encontrar outros caminhantes e com eles conversar alguns minutos ou até vários dias sobre as suas caminhadas, viagens e dia-a-dia. Como o americano-polaco que conheci em Mestia e que parecia — também ele — dar passos sem objectivo concreto que não fosse o de reflectir ou procurar um novo rumo para a vida agitada que vive em Nova Iorque — antes de lá regressar.
De esquecer o dia em que do seu carro assistiu ao vivo às torres-gémeas de Manhattan a fundirem-se em pó. Ou o casal de alemães que desistiu de subir a meio da montanha, porque o dia chegava ao fim.
Da mesma forma, dá-me prazer incentivar quem sobe, enquanto eu já faço o percurso inverso. Digo-lhes que falta pouco (embora às vezes saiba que falta mais de um pouco) e que o esforço de chegar lá acima será recompensado (afirmação sem hipérbole) com vistas estupendas.
Gosto também de encontrar gente que, por algum motivo, preferiu este santuário natural para pagar uma promessa, em detrimento de santuários religiosos, trocando as velas pelo bastão de caminhada, optou pelo suor de trepar íngremes encostas, em detrimento de ajoelhar no mármore frio ou quente de um qualquer local de crentes. Ou igualmente de ajudar a erguer quem escorrega e quase desliza ribanceira abaixo.
E talvez por ser agora um dos meus novos fascínios, fui obrigado a dar a volta a este país da ex- União Soviética para visitar a região de montanha de Kazbegi e, mais uma vez, satisfazer este novo vício saudável – explorar montanhas.
Encontrei, no entanto, na região de Svaneti, provavelmente, uma das paisagens mais bonitas que me recordo de ter visto. A montanha pura – ou uma união de vários destes corpos geológicos – que me cerca numa visão panorâmica de 360 graus.
Onde as vacas parecem ter saído de um casting para o anúncio de uma das famosas marcas de chocolate. Esbeltas, sorridentes, perfeitas.
Em que, apesar do esforço físico, é possível aceder a zonas altas e isoladas sem precisar de arriscar a vida. E, melhor do que isso, onde é possível encontrar as vistas mais soberbas de montanha que tive oportunidade de apreciar.
Estou agora motivado a subir montanhas, descer encostas, relaxar em vales, refrescar-me em lagos alpinos e caminhar pela neve que sobra perto dos cumes, mesmo quando o Verão já toca a restante paisagem.
Li algures, durante a minha longa estadia na Geórgia, que “o que acontece em Mestia, fica em Mestia”. Uma parte de mim ficou, de facto, por ali – apenas à espera que lá regresse. A outra parte deste “eu” prosseguiu viagem, revigorado por este novo belo prazer.
De Portugal a Macau – crónica #15
Siga a minha viagem: De Portugal a Macau
Sempre que quiser marcar um voo, um hotel ou comprar seguro de viagem, use as plataformas que eu recomendo e confio. Só tem de clicar nos links abaixo antes de pesquisar as suas viagens.
Não paga mais por usar estes links.
- Faça o seguro de viagem na IATI Seguros ou na Heymondo (5% de desconto com qualquer um destes links e cobertura Covid-19)
- Elimine as comissões bancárias com o cartão Wise
- Durma confortável no melhor hotel com o Booking.com
- Encontre os voos mais baratos no Skyscanner
- Alugue carro ao melhor preço com a Discovercars
- Regresse com as melhores fotos de viagem. Aprenda a fotografar comigo
- Alinha numa aventura? Venha viajar comigo
Nota: Este artigo pode conter links afiliados, mas não paga mais por usar qualquer link (e até pode poupar). Garantido!