Quando, numa entrevista com um jornal de Macau, me perguntaram quais seriam os problemas que antecipava que surgissem para esta minha travessia De Portugal a Macau, a minha resposta foi clara e objectiva: as burocracias e vistos.
Sei bem que poderia ter solicitado, em Portugal, todos os vistos para os países por onde iria passar. No entanto, isso iria colocar demasiadas restrições num percurso que se deseja fluido, sem datas pré-definidas para pernoitar no local A ou B.
Quando visito a Embaixada do Irão em Ancara, na Turquia, surgem, porém as primeiras adversidades. Depois de ter seguido todos procedimentos e preenchido o formulário online, não obstante a simpatia dos funcionários da embaixada iraniana em Ancara, a resposta negativa chegou – sem qualquer explicação – de Teerão.
Sem possibilidade de seguir pelo Irão, comecei a procurar alternativas para transitar da Turquia e prosseguir viagem.
Haveria, nessa altura, apenas uma alternativa viável: entrar na Geórgia e voltar a tentar, de novo, na Embaixada do Irão em Tbilisi. O plano nem seria, totalmente, absurdo pois as temperaturas no Irão rondavam os 45 graus, em alguns locais como Shiraz ou Yazd, e passar algum tempo a “arrefecer” nas magníficas zonas montanhosas do Cáucaso, seria até bastante agradável.
Expectante e optimista, quanto à emissão do visto nessa antiga república soviética, aproveitaria para desbravar um país que igualmente me suscitava todo o interesse. As imagens que havia já admirado das belíssimas paisagens naturais da Geórgia pressupunham que não me iria arrepender de por lá passar. A nova rota passaria agora a ser: Geórgia – Arménia – Irão.
Acontece, porém, que a notificação da emissão ou rejeição do visto pode demorar até dez dias, pelo que só restava esperar que o estado do visto passasse de “pendente”. Todavia, depois de vários dias em Tbilisi e por outras zonas da Geórgia, nada acontece.
Leio, em vários fóruns de viajantes, que o estado “pendente” é cada vez mais uma situação “normal” e que a única forma de fazer o processo avançar é visitar uma embaixada ou consulado do Irão.
Perante isto – munido dos documentos necessários (cópias, fotografias e passaporte) – chamo um táxi. Todas as Embaixadas do Irão parecem estar propositadamente situadas longe dos centros das cidades e para lá chegar os transportes são limitados.
À hora de abertura já estou à porta da embaixada do Irão na capital da Geórgia. Depois de confiscado o telemóvel, na entrada da embaixada, a verificação do processo é efectuada pelo funcionário de serviço, que se apressa a dizer que algo está errado com o meu formulário.
Diz-me que vai pedir, mesmo assim, a autorização a Teerão e aconselha-me a voltar na semana seguinte.
Aproveito, assim, para usufruir de mais uns dias em Tbilisi, para provar o vinho da Geórgia, conhecer a arquitectura soviética da cidade e deliciar-me com a culinária e produtos frescos do país.
Várias horas depois da ida aos serviços consulares, recebo por email a confirmação de que o meu visto foi…rejeitado (novamente). Começo a ponderar se valerá a pena avançar por outros caminhos – talvez pela Rússia.
Ao mesmo tempo, as tensões no Golfo Pérsico, a guerra verbal e o extremar de posições entre os EUA e o Irão, assim como a suspensão de vistos de Portugal para cidadãos iranianos acrescentam, quiçá, nova densidade ao meu problema. Desconheço se algum destes factores terá contribuído para a decisão negativa de Teerão.
Não me dou, todavia, por derrotado e, depois de ler mais alguma informação online, faço uma outra tentativa na embaixada do Irão… na Arménia. Isto até nem seria mau de todo, pois iria poderia conhecer mais um país desta região – mais um país que à partida não estava na minha rota. Entrar pela Arménia faria todo o sentido, pois estaria mais perto de um dos primeiros locais que desejava visitar no Irão: Tabriz.
Procuro transportes para Erevan e arranco para a capital da Arménia, mas só depois de nova submissão do processo online. Enquanto espero, vou conhecendo a capital arménia e o fenomenal Lago Sevan, além de vários locais como o mosteiro de Khor Virap.
À semelhança das outras vezes, o processo de visto continua pendente online, mas mesmo assim desloco-me à Embaixada do Irão em Erevan para uma derradeira tentativa.
Por lá, encontro mais alguns viajantes com o mesmo dilema. Um deles também já havia sido “rejeitado” um par de vezes. O mais jovem – vindo de uma ilha do pacífico e com vontade de seguir para o Paquistão – conta-me que já ali havia estado na semana anterior e que lhe haviam recomendado que fizesse o pedido de visto através de uma agência.
Muitos viajantes dizem que ao usar este meio (agência) a possibilidade do visto ser rejeitado seria bastante menor. Aquele companheiro de viagens recomendou-me o uso da agência 1st quest, onde o preço do serviço é até dos mais baixos (25€) – com a quase garantia de ser aceite em três dias úteis e foi assim que conseguiria o visto.
Quanto a mim, não haveria já possibilidade para tentar esse meio, pois começava a faltar-me tempo (e paciência). Seria agora ou nunca. Converso com o prestável funcionário, que apenas me diz irá enviar o meu pedido (mais um) para Teerão para análise.
Aguardo mais um dia em Erevan, enquanto começo a equacionar o plano B – regressar à Geórgia e seguir pela Rússia, através da fronteira na região de Kazbegi, ou ainda mais arrojado, viajar de noite de comboio de Tbilisi para Baku, no Azerbaijão e, depois prosseguir pelo “desaconselhado e perigoso” Daguestão.
Outra remota possibilidade em análise, era optar por um ferry que atravessa o Mar Cáspio, entre Baku e o Cazaquistão ou o Turquemenistão.
No entanto, um ferry não é um comboio – e esta minha viagem De Portugal a Macau faz-se de comboio – e as partidas dos ferries são definidas ao sabor do vento e das marés, pelo que poderia ter que esperar um dia, três dias ou uma semana. E esperar talvez acampado no exterior do porto.
Menos de 24 horas depois de me ter deslocado à embaixada, recebo finalmente a confirmação de que o meu visto havia sido…recusado. Desta vez, porém, com uma nota explicativa: “Faça o pedido através de uma agência”.
Desapontado, encaro o processo como uma lição, pois da próxima vez já saberei o que fazer, mas por agora, tristemente, a minha passagem pelo Irão ficaria adiada. Desde que alinhavei o meu percurso até Macau que tinha apontado o Irão como o destino que maior curiosidade tinha em descobrir.
Não queria passar pelo Irão a correr. Pelo contrário, era o país a que – no meu rascunho de itinerário – tinha programado mais tempo para explorar.
Por persistência, teimosia ou determinação, tentei até à última possibilidade passar pela antiga Pérsia. Sobram razões para visitar este magnífico país, reforçadas pelas experiências de todos os viajantes que tenho encontrado e que, de uma forma ou de outra, me falam das maravilhas deste destino.
Bem sei que o Irão não pode ficar durante mais tempo fora do meu radar (e de muito mais gente). Em Portugal há quem tenha receio de para lá viajar, mas há também quem já tenha visitado inúmeras vezes, sem medo e, muito menos, arrependimento. Quanto a mim, não é um adeus, mas um “até já Irão”.
De Portugal a Macau – crónica #18
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