Viajo com o Allan, o Ken, o Gunther e a Penélope. O primeiro é dinamarquês, o segundo canadiano, o terceiro alemão e a Penélope (presumo), espanhola.
A sua nacionalidade nunca foi questionada. Havia conhecido o Allen no Cazaquistão umas semanas antes. É um verdadeiro apaixonado por vida selvagem e quase só viaja em função do movimento a épocas de observação da fauna pelo mundo.
Falámos durante horas no melhor hostel cazaque que encontrámos, na cidade feia, cinzenta e poluída de Shymkent. Ao pequeno-almoço, ao almoço e até à hora de recolher às camaratas conversámos sobre quase tudo. Dei-lhe conselhos, recebi dicas de viagens para ver, por exemplo, tigres no Nepal ou locais escondidos da América Latina – incluindo no Brasil.
Falámos depois e, por coincidência, seguia na direcção do Quirguistão onde eu já me encontrava há vários dias e onde já tinha tido uma péssima experiência com uma empresa de aluguer de automóveis.
Como quase todos os viajantes, tenho um ódio de estimação por taxistas e talvez o nome da empresa (CAB) tivesse sido um pré-aviso para uma potencial tentativa de extorsão ou de incumprimento do contrato. Ambas sucederam.
Face a esses acontecimentos (que noutra ocasião irei especificar), apenas em quatro dos dez dias pude usar o carro alugado e usufruir da paisagem ao volante do 4×4 – o único “luxo” da viagem De Portugal a Macau.
De comboio era impossível conhecer o país que partilha a fronteira com a China, pois apenas existe uma ligação para o Cazaquistão e outra (pouco utilizada) para o lago Issyk Kol. De resto, tudo se faz pelas péssimas estradas do país.
De transportes públicos também era inviável, já que esses quase não existem e se limitam a ligar uma ou outra cidade. Descartei os tours pela falta de liberdade e custo associado e, assim, alugar um automóvel era a única e óptima solução.
Face ao final forçado da viagem por incumprimento da empresa de aluguer CAB, regressei a Bishkek e quando estava a planear o meu próximo passo – antes de seguir para a China – recebi uma mensagem do Allen. “Estou em Almaty e amanhã vou para Bishkek com dois amigos e a Penélope”.
Desconhecia quaisquer um dos seus amigos. Recomendei-lhes o hostel onde estava hospedado, aí nos encontraríamos no dia seguinte. Ken, o professor reformado, oriundo do Canadá – um homem reservado que adora discutir os temas da actualidade.
Raramente evitámos debater os temas do momento: Trump e Brexit. Gunther, o mais excêntrico, com 69 anos, estava a viajar desde a Alemanha no seu próprio carro há dois meses, tendo já passado por algumas aventuras na Rússia, Ucrânia e Mongólia.
Penélope foi o nome de baptismo atribuído ao seu meio de transporte. Na carrinha, além de saco cama, água e tudo o que alguém necessita para andar na estrada durante meses seguem três pneus suplentes no tejadilho. O conta-quilómetros marca mais de 500 mil percorridos, mais de 20 mil só nesta viagem actual.
Convidam-me para me juntar ao grupo e viajar por vários dias por outras estradas dos Quirguistão, pelas quais ainda não tinha passado. Resisto a dizer que sim, mas a tentação é grande, pois são alguns dos locais que queria também conhecer.
Enquanto conversamos na sala comum do hostel, bebemos cerveja e aliviamos a Penélope de algum peso – uma garrafa de vodka que essa figura de metal e pneus de borracha já carregava da Mongólia.
Acedo ao convite, mas só depois de uma longa noite de conversa durante a qual cada um de nós escolhe, no Youtube, músicas e temas de artistas favoritos. Na minha playlist coloco alguns clássicos dos anos 90 e vários artistas portugueses.
Surpreendo-os com a selecção. Dias mais tarde, elogiar-me-iam por ter colocado músicas do meu país. Propositadamente inclui algumas músicas que serviram de base ao 25 de Abril e conto-lhes como também a música teve um papel vital para o fim da ditadura.
Falamos ainda de Hitler, do nazismo, do mundo actual e dos nacionalismos. Mesmo sentado à mesa com um alemão, o tema não é tabu.
Estes três novos companheiros de viagem, fazem parte do clube dos 100 – ou seja – já viajaram por 100 ou mais países do mundo. Eu estou uns bons números atrás, mas não há aqui concorrência ou vaidade, nem sequer tenho os números como ambição. Só quero coleccionar histórias, não países.
Aliás, nem falamos muito das viagens uns dos outros. Os temas são outros e isso apraz-me, pois embora viaje e adore viajar, gosto de debater sobre muito mais do que o que fiz no país X ou alguém vivenciou no país Z.
Guiados pela Penélope, o nosso roteiro do dia seguinte é sempre definido na noite anterior. Debatemos as opções e votamos as preferidas.
Num desses dias, devido ao mau tempo, adiamos a demonstração tradicional em que é usada uma águia para caçar animais, para dias mais tarde – ao acaso – encontrarmos precisamente um destes momentos à beira da estrada.
Gunther, de câmara na mão, é ainda mais impulsivo que eu próprio. Corre para cada momento que vislumbra, capta uma e outra paisagem, e muitos muitos cavalos na paisagem quirguiz: cavalos castanhos, cinzentos, pretos, com manchas castanhas. E, mais tarde, cria outra colecção de imagens de burros e de rebanhos de ovelhas brancas e acastanhadas.
Rimo-nos quando a polícia nos manda parar e, após longos minutos, simplesmente desiste de argumentar que havíamos cometido uma infracção e nos diz directamente: “se pagar 10 dólares tudo se resolve já”.
Dizemos que não. “Então, se pagar cinco dólares não se fala mais no assunto”. Rejeitamos a segunda oferta. Já nos tinham dito que caso a situação se arrastasse o melhor era pagar qualquer coisa como 200 SOM para poder seguir viagem. E é desse modo que se resolve o problema.
Mas o polícia não aceita o dinheiro na mão e insiste que o coloquemos numa caixa dentro do veículo policial. E esta não foi a única vez que foi preciso oferecer algo à polícia para continuarmos a admirar as paisagens quirguiz.
Não é pela elegância ou boas formas da Penélope que somos controlados em várias operações stop, mas a sua matrícula germânica chama a atenção.
Mais do que verificar quem comete infrações: por estacionar em locais ilegais, transportar passageiros em excesso ou viajar em contramão, a polícia deseja apenas pequenos “incentivos” diários.
Perante o que nos é oferecido, em termos de beleza paisagística ou simpatia das gentes locais, é um pequeno pecado com o qual é preciso conviver, embora discordando.
E todos sabem que têm de o fazer, depois de atravessar a fronteira mais fácil de todas as que tive de enfrentar na minha viagem de longa duração De Portugal a Macau.
De Portugal a Macau – crónica #24
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