Rochas que nascem da terra, com formatos pontiagudos, com formas eróticas, com semelhanças a cogumelos. Homens e mulheres caminham por estradas de terra, cultivam as vinhas, lançam um olhar curioso ao viajante e acenam ou apenas o ignoram (me).
A Capadócia tem tanto de sublime, como de perverso. É um dos lugares mais fascinantes que já visitei, mas o excesso de turismo — ou melhor, o excesso de actividades turísticas ruidosas – é um problema quase incontornável.
De segunda a sexta-feira, aos sábados, domingos, feriados, com chuva ou sol, dezenas, centenas de turistas pegam em Moto 4, percorrem ao fim do dia os pachorrentos acessos às colinas, enchem os vales de fumo e barulho dos motores e das buzinas. É preciso “picar o ponto” na “to-do list”, no “fui ali e fiz isto” da Capadócia: andar de Moto 4, de balão, de jipe.
Carregados de lenha, aqueles homens e mulheres locais e cuja vida não está — pelo menos directamente — ligada ao turismo seguem impávidos na sua lide diária. Talvez nem se importem com estes excessos.
A Capadócia, para mim, foi apesar de tudo onde me senti mais próximo da serenidade, onde consegui fugir aos gritos dos vendedores, dos apelos à fé das mesquitas, onde descansei os tímpanos e onde os olhos se maravilharam com uma estupenda paisagem – talvez mais do que uma – porque a Capadócia é mais do que única paisagem.
É um lugar singular, que muitos dizem fazer parte de outro planeta. A sua dimensão está calculada, embora (para mim) o seu valor seja incomensurável.
A Capadócia não são apenas rochas, caminhos, vales, desfiladeiros, castelos ou formações onde vemos erotismo, apelos culinários ou criações abstractas. A Capadócia, para mim, é mais do que encontrar um propósito, mais do que visitar o Castelo de Üçhisar, o Vale de Ihlara, fazer o Blue tour, o Green tour ou Red Tour nesta região da Turquia.
Até podia relembrar a minha viagem à Capadócia através das histórias que ouvi de um jovem dentista francês que já não quer voltar a França, pois há anos trocou o seu país de origem pela Austrália. E até ficasse surpreendido por me ter dito que as praias na zona de Nice, da Riviera Francesa, não são nada de especial.
Presumo que para quem viva agora no país-continente com algumas das praias mais bonitas do planeta, não tenha paciência ou gosto para aquele mar da costa francesa. Da mesma forma que, enquanto português, não vejo prazer ou apelo em banhar-me no Mar Negro quando mais à frente nesta viagem De Portugal a Macau por lá passar.
Ou talvez recordasse alguns dos 11 dias que estive na Capadócia, pela troca de impressões com uma médica chinesa, cujo amigo tinha um castelo ou palácio, e que preferiu investir cento e poucos euros numa pulseira com jóias preciosas, mas que tenha lamentado que os preços dos balões de ar quente rondem os cento e alguns euros.
Do mesmo modo, talvez lembrasse a Capadócia como o local onde senti que fui incentivado a converter-me ao Islamismo por um jovem casal que me deu boleia ao final do dia.
Nesse momento – quando as pernas já desgastadas de longas horas de caminhada vales acima e abaixo – acederam ao convite para fazer uma dezena de quilómetros num pequeno carro com dois desconhecidos.
E que mais tarde ao jantar, não poderia entrar num restaurante onde álcool fosse vendido, porque a sua profunda fé não lhes permite fazer tal. E que mais tarde no meu telemóvel receberia links para estudar o Islão e vídeos para assistir a pregões deste e daquele Imã.
Ainda que tivesse, desde início, dito que não iria perceber a mensagem e que, embora respeitando todas as religiões, fés e crenças, prefiro ficar alheado de todas. E por isso fiquei à porta da mesquita – tendo recusado o convite para entrar – enquanto aquele jovem de 20 e poucos anos iria rezar.
Até que os meus dias sejam contados, a Capadócia será, todavia, o lugar especial, onde pude acordar várias vezes para assistir ao nascer do sol, contemplar o espectáculo (e caos) do lançamento de cerca de uma centena de balões de ar quente.
E onde pude observar miúdos descuidados a conduzir Moto 4, ou de acenar a casais apaixonados que desfilavam ao som dos cascos dos cavalos pelas estradas da região.
A Capadócia é este lugar estranho – mas sublime e planetário – onde vários noivos e noivas, escolheram celebrar a união. Penso quão desgastante ou stressante terá sido esse dia, essa madrugada, para aquelas noivas ali estarem maquilhadas, vestidas a rigor, de branco, a pisar o chão de pó castanho.
E é onde questionei o porquê de haver carros ao estilo cubano pintados com cores vívidas ou chocantes a entrar pelos vales rochosos.
Os pomares carregam-se de maçãs no Outono, as vinhas amadurecem, turistas vão e vêm, uns regressam, enquanto outros se deslumbram pela primeira vez. Do pó acastanhado da terra, ao céu azul profundo.
O erotismo, os campos gigantescos de cogumelos petrificados que se elevam a partir de vales profundos por ali se manterão, até que a natureza – a chuva, a neve, o vento e o sol – e talvez a intervenção humana lhes mudem a feição.
Do mais puro nascer do sol, ao mais autêntico adeus ao astro maior a cada final de dia. Do dourado desse sol à verdejante relva, ao castanho das colinas de Avanos.
Do colorido rosa do vale, perto de Göreme, ao branco da neve do Monte Hasan, e ao roxo do céu numa das tardes finais da minha viagem à Capadócia. E onde até um arco-íris não se esqueceu de aparecer. É essa Capadócia que, para mim, será um refúgio sentido. Mesmo que lá não volte. Mas, sim, quero mesmo lá voltar.
De Portugal a Macau – crónica #11
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