Não falta que ver e fazer em Khiva, um lugar místico no Uzbequistão. A cidade foi um importante entreposto comercial da Rota da Seda.
Khiva é uma cidade antiga e haverá partes que remontam ao século X e outras ao século VI. As guerras sempre envolveram a cidade na luta pelo poder, desde os árabes, passando por Genghis Khan, Amir Timur e, finalmente, os soviéticos.
A atmosfera relaxante é inesquecível. A cidade velha de Khiva é extremamente panorâmica, com estruturas de tijolo de barro cuidadosamente renovadas e pode dividir-se em duas partes: Itchan Kala (interior das muralhas) e Dichan Kala (exterior das muralhas), sendo que é nesta última que habita a esmagadora maioria da população residente.
Itchan Kala, por outro lado, é um museu ao ar livre com poucos habitantes permanentes, mas mesmo assim repleta de edifícios históricos restaurados e onde a arquitectura islâmica pouco mudou desde a época medieval.
Samarcanda e Bukhara dominam as atenções de quem viaja para o Uzbequistão, mas foi Khiva a minha cidade favorita e onde voltaria num piscar de olhos. No entanto, depois de ter voltado fiquei dividido entre qual das cidades gosto mais: Samarcanda ou Khiva.
A localização pode ser inconveniente para os turistas, mas era estratégica para os comerciantes de antigamente e era uma parte essencial da Rota da Seda. Outrora sinónimo de comércio de escravos e barbárie, Khiva é agora um lugar pachorrento de ruelas estreitas com paredes de barro e brilhantes mosaicos azuis.
Se visitar esta cidade num dia, em dois dias ou numa semana, não irá aborrecer-se pois há muito para se entreter e ver em Khiva e esta é uma cidade completamente diferente quando o sol se põe. Apesar da sua incomparável beleza e de fazer parte da lista de Património Mundial da UNESCO, são poucos, felizmente, os que ainda aqui chegam.
E muitos do que vêm também depressa se vão, sem olhar para trás. Eu fiquei vários dias. E ficaria de novo ainda mais tempo. Porque gosto de ficar, de observar estas pequenas cidades, acompanhar o ritmo pausado do dia, das pessoas que ali vivem e porque gosto de saber como vivem. Porque tinha tempo e porque queria conhecer esta cidade, mais do que qualquer outro lugar no Uzbequistão.
Se iniciar a viagem em Tashkent e seguir para o norte, Khiva será a última paragem do seu roteiro no Uzbequistão. O facto de não ser ainda muito fácil chegar, permite-lhe estar isolada das massas turísticas que já enchem Bukhara e Samarcanda.
Mas como tudo no deserto, nada é permanente, excepto o sol impiedoso. Por isso visite Khiva na sua próxima viagem ao Uzbequistão.
O que fazer e visitar em Khiva
Irá encontrar muito para ver em Khiva: de mesquitas antigas a impressionantes torres de vigia com azulejos brilhantes, de artesanato a minaretes deslumbrantes e madrassas, de ruelas distintas, a muralhas de barro, a cidade de Khiva é um magnífico lugar para visitar.
Existem quatro portas de entrada na cidade velha, mas a entrada oficial fica a Oeste. É aqui que pode comprar o ingresso (válido por dois dias) para visitar a maioria dos museus e edifícios da cidade velha. Embora não seja uma cidade grande, há muito para fazer em Khiva.
Torre de Vigia e Arca de Kuhna
A fortaleza de Kuhna ou Arca de Kunya era a residência do governante de Khiva. Remonta ao século V e tinha várias funções: mesquita, quartel, harém, salas para a realeza e até uma espécie de banco central, onde a moeda era emitida.
Acessível através da Arca de Kuhna, a Torre de Vigia é um dos dois melhores locais em Khiva para assistir ao pôr- do-sol. É um sítio popular e é aconselhável ir um pouco antes do pôr-do-sol para garantir um lugar decente.
Depois de admirar o belo trabalho em azulejos e o design do tecto na mesquita, suba as escadas íngremes para apreciar a vista de Khiva e a muralha que rodeia a cidade.
Mesquita de Juma
Depois de viajar por vários países muçulmanos e de ter visto e entrado em inúmeras mesquitas, já poucas me surpreendem, mas não foi isso que aconteceu em Khiva. A Mesquita de Juma é extraordinária, pela simplicidade e distinção com que foi construída.
A zona principal da mesquita está dividida por 218 colunas em madeira, a assemelhar-se com uma densa floresta e com uma espécie de pátio ou jardim interior. A mesquita é um dos edifícios mais antigos da cidade, embora tenha sido reconstruída no século XVIII. Cada um dos pilares é esculpido de forma diferente, numa arte refinada ao longo dos séculos.
A Mesquita de Juma é a mesquita mais antiga de Khiva e também é conhecida como “mesquita de sexta-feira”, pois esse era o dia em que era realizada a oração, embora agora já não seja usada pelos crentes.
Caminhar pelas ruas…
Uma das coisas que mais gostei de fazer em Khiva foi perder-me nas ruelas singelas no exterior e interior da cidade. Ao sol ou à sombra, observei e falei (ainda que de forma limitada e por vezes só com gestos) com os acolhedores habitantes locais. Aqueles que ali vivem e gozam a tranquilidade que as ruas ganham quando os (poucos) visitantes desaparecem no horizonte e regressam às outras cidades do Uzbequistão.
Com tanto para visitar em Khiva, é fácil esquecer que há mais na cidade do que apenas pontos turísticos. E, para mim, os pontos não turísticos até foram um dos principais motivos pelo qual me apaixonei por esta cidade. Pude conhecer os bairros tranquilos onde as crianças brincam, as mulheres conversam e os homens pedalam vagarosamente nas suas bicicletas.
Explore o norte ou o sul longe das principais artérias da cidade – onde os vendedores ambulantes lutam por atenção – e descobrirá uma cidade diferente.
…e caminhar pelas muralhas
As muralhas que cercam a zona histórica de Khiva foram parcialmente reconstruídas e podem ser acedidas através de uma rampa íngreme na Entrada Norte. Khiva está cercada por grossas paredes de barro seco, mas verá que a cidade velha é tão cénica vista de cima como é vista das ruas.
Antigamente as muralhas da cidade protegiam a população de incursões ocasionais de invasores tribais e também ajudaram a que os escravos não escapassem. Nas paredes externas verá sepulturas, mas nenhuma no interior, pois nenhum cadáver podia ser transportado pelas portas da cidade – isto era considerado um mau presságio. E para os invasores supersticiosos, era inaceitável destruir túmulos, portanto estes protegiam a cidade de ataques.
Minarete de Kalta
Embora o Minarete de Kalta pareça estar acabado, na verdade foi projectado para ser a base do minarete mais alto do Uzbequistão para permitir que do topo se vislumbrasse, quiçá, todo o caminho até Bukhara.
Por volta de 1850, Amin Khan, queria construir o minarete mais alto e mais bonito da Ásia Central. A construção começou, mas quando o minarete tinha apenas 26 metros de altura Amin Khan foi assassinado.
Existem muitas histórias sobre os motivos pelos quais a obra não chegou ao final. Afirma-se que o governante terá contratado um arquitecto para construir o minarete mais alto da região, mas este já tinha um acordo com o clã de Bukhara e iria aí construir um ainda mais alto para ele. Amin Khan terá descoberto o plano e planeava matar o arquitecto assim que o minarete fosse concluído, mas este terá escapado a meio da construção.
Os azulejos coloridos do minarete azul de Khiva, Kalta Minor, fazem deste um dos destaques das viagens de muitos visitantes ao Uzbequistão. Com 29 metros de altura, pretendia ser muito maior. O minarete de Kalta é realmente muito bonito, sobretudo ao anoitecer.
Minarete de Islam Khoja
O Minarete de Islam Khoja, com 45 metros de altura, compete (com o Minarete de Kalyan em Bukhara) para ser o minarete mais alto do Uzbequistão. Construído em 1908, o minarete podia ser visto a uma grande distância e terá servido como ponto de referência para os viajantes que tentavam encontrar, no deserto, o caminho para a cidade. Este foi o primeiro local no Uzbequistão a ser incluído na lista do Património Mundial da UNESCO.
Com a sua complexa alvenaria e mosaicos azul-turquesa e branco, o minarete foi construído usando técnicas dos séculos XII a XV. No entanto, é um edifício enganosamente recente, pouco mais de 100 anos. O minarete é parte integrante da mesquita e da madrassa, ao lado, que acolhe o Museu de Artes Aplicadas.
Além das vistas da Torre de Vigia, este é um dos melhores lugares para ver o pôr-do-sol. Porém, os degraus são estreitos, a escadaria é assustadora para subir até ao topo (e para descer) e não é recomendada para quem tem problemas de coração ou claustrofobia.
Além disso, na plataforma não cabem mais de sete ou oito pessoas (apertadas) e não existe barreira de protecção no cimo das escadas, o que torna este lugar particularmente susceptível a um grave acidente, bastando para isso dar um passo em falso. As vistas panorâmicas são deslumbrantes, mas é preciso mesmo muito cuidado.
O Minarete de Islam Khoja é um lugar obrigatório a visitar em Khiva.
Oficinas de Artesanato
Dentro dos pequenos espaços das várias madrassas da cidade velha de Khiva, escondem-se ateliers de artesanato, ora esculpindo madeira, ora tecendo tapetes de seda.
Visitei algumas destas oficinas e é incrível o nível de detalhe de cada objecto. O atelier de seda, por exemplo, foi criado em parceria com a UNESCO para preservar as técnicas tradicionais. Khiva, como cidade da antiga Rota da Seda, é um dos locais onde pode ver como as mulheres se aplicam para criar detalhados tapetes, lenços ou cachecóis.
Os ateliers de carpintaria são igualmente impressionantes. Neste caso, o trabalho é feito por homens, na sua maioria jovens. O trabalho é excepcional, mas por falta de espaço na bagagem e também a minha preocupação ambiental impediram-me de fazer qualquer compra. Preocupou-me o facto de não saber de onde vem a madeira, se é ou não madeira sustentável, num país em que uma considerável parte do território é deserto.
Palácio Tosh-Hovli
O Palácio Tosh-Hovli (também chamado Palácio de Pedra ou Tash Khauli) era a residência de Verão dos reis em Khiva e é uma visita obrigatória numa viagem a Khiva. O Palácio Tash-Khovli foi construído no século XIX e possui três grandes pátios ligados por diversos corredores e passagens.
Numa das secções está uma carruagem em exposição e noutra, no pátio exterior, encontra-se um yurt. Possui salas com tectos revestidos em azulejo, um pequeno museu com várias ferramentas e mais uma outra sala onde estão expostos instrumentos musicais.
Mausoléu de Pakhlavan Mahmoud
O Mausoléu de Pakhlavan Mahmoud foi construído por volta de 1700 e no interior encontra-se o túmulo de Pakhlavan Mahmoud, um poeta e combatente que se julga ter resgatado muitas pessoas da escravidão.
O mausoléu é um local de peregrinação popular, onde as pessoas rezam e bebem água benta. É aqui se pode admirar uma enorme cúpula e outros elementos adicionados mais recentemente ao complexo – incluindo criptas dinásticas reais – dedicados a este herói uzbeque.
Madrassa Allakuli Khan
A madrassa de Allakuli Khan era a maior madrassa de Khiva, alojando uma extensa biblioteca. Anteriormente, essa biblioteca fornecia livros para toda a população estudantil da cidade. Os especialistas ressalvam que a arquitectura é do estilo Khorezm, remontando ao final da Idade Média.
Construída em 1834 com fundos próprios, está localizada entre o bazar coberto (Tim Allakuli Khan) e a porta leste (Palvan Darvoza) e encontra-se de frente para mais uma incrível madrassa – Khodjamberdy Bey ou Madrassa Allakuli Khan.
O pátio exterior é bonito e é um bom local para relaxar ao final do dia. Se atravessar a rua vai encontrar um óptimo restaurante para aí jantar.
Mapa dos locais para visitar em Khiva
Informação extra
Quanto tempo necessito para visitar Khiva
Para poder ver tudo em Khiva, necessita de dois dias, embora eu recomende três dias se quiser explorar num ritmo mais pausado. Também pode ver os principais locais da cidade em apenas um dia em Khiva, mas a pacatez e beleza da povoação justificam mais tempo. Além disso, é quase um dia para chegar aí, pelo que seria uma enorme correria ficar apenas um dia em Khiva.
Para visitar Khiva, tem de comprar um ingresso que é válido por dois dias. Existem três tipos de bilhete: o económico, o standard e o VIP. O primeiro custa 50 mil Som, o segundo 100 mil Som e o terceiro custa 150 mil. Com o ingresso VIP, irá ter acesso a todos os museus e locais históricos, bem como à Torre de Vigia e ao Minarete de Islam Khoja. O bilhete padrão inclui todos os museus, excepto a torre e o minarete. O ingresso mais barato para ver Khiva apenas inclui a entrada na cidade.
Na minha opinião, é melhor decidir quais os locais que quer mesmo ver e depois escolher o tipo de bilhete. Se quiser apenas ver a cidade, a torre de vigia e o minarete, então é melhor comprar apenas o económico e pagar os restantes à parte.
Quando visitar Khiva
Khiva tem um clima desértico com Invernos frios e Verões muito quentes. Os melhores meses são Março, Abril, Maio e Junho e, depois no Outono, em Setembro, Outubro e início de Novembro.
Visto para o Uzbequistão e Khiva
Quem tem passaporte de Portugal ou do Brasil não necessita de visto para uma viagem ao Uzbequistão, desde que não exceda 30 dias. Contudo, as autoridades obrigam a efectuar um registo em todos os hotéis ou alojamento onde ficar instalado. O registo é feito pelos proprietários, mas guarde sempre os documentos que lhe são entregues, pois vão ser exigidos à saída do país.
Dinheiro em Khiva
A moeda oficial Uzbequistão é o Som uzbeque (UZS) e existem em circulação notas de 1, 3, 5, 10, 25, 50, 100, 200, 500, 1000, 5000 e 10000 Som. Também estão em uso moedas com várias denominações entre 1 e 100 Som.
No Uzbequistão nem sempre é fácil encontrar máquinas ATM que funcionem. Em Khiva, creio que apenas existe uma ou duas máquinas de levantamento automático. Uma delas está instalada no Asia Khiva Hotel. Não vai conseguir pagar com cartão na maior parte dos sítios, pois o Uzbequistão é um país que ainda usa bastante dinheiro vivo.
Não precisa de trocar dinheiro. É vital viajar para o Uzbequistão com dois cartões: um da rede MasterCard e outro da rede Visa, pois algumas máquinas ATM só aceitam uma ou outra rede.
Eu uso o cartão Wise para evitar taxas e comissões bancárias.
Transportes em Khiva – e como chegar
A cidade velha de Khiva é muito compacta e pode caminhar-se até todos os locais históricos. A estação de comboio fica a 15 ou 20 minutos a pé da cidade velha.
Para chegar a Khiva, é mais conveniente viajar primeiro para Urgench, embora também existam comboios desde Bukhara e Samarcanda. Pode consultar todos os horários dos comboios no site oficial do Uzbequistão. De Urgench, existem frequentes táxis partilhados para Khiva, a apenas 30 minutos de distância.
Um aviso: se viajar para o Uzbequistão nos meses de Verão ou num fim-de-semana reserve o seu bilhete de comboio com antecedência, pois os lugares esgotam com frequência. Caso não consiga lugar no comboio, existem sempre táxis partilhados para Urgench e Bukhara.
A estação onde pode apanhar um autocarro para Khiva é na Tashkent Avtovagzal, nas imediações da estação de Metro de Olmazor. Tal como para os bilhetes dos comboios é prudente comprar com antecedência, mas só o pode fazer na estação.
Onde ficar em Khiva
Para experimentar o ambiente das ruas desertas da cidade velha à noite, é recomendável dormir dentro das muralhas de Khiva. No entanto, existem hotéis localizados perto das várias entradas e onde quer que fique alojado nunca estará longe.
Eu fiquei alojado fora das muralhas, no East Star Khiva. É uma unidade básica, mas quando regressar a Khiva, provavelmente irei escolher outro alojamento.
Um dos destaques para dormir em Khiva é a Madrassa de Muhammad Amin Khan que foi convertida no Orient Star Khiva Hotel. É de longe o mais popular e o melhor hotel em Khiva, mas reserve com antecedência pois está frequentemente esgotado.
Se quer outras opções, com ambiente acolhedor e vistas estupendas para a cidade veja estes cinco excelentes hotéis em Khiva:
- Arkanchi Hotel (9.2)
- Khiva Polvonnazir Guest House (9.8)
- Madrasah Polvon-Qori boutique (9.7)
- Khiva Siyovush Hotel (10)
- Khiva Angarik Darvoza (9.8)
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