A região de Viñales produz de tudo: café, manga, hortícolas e, claro, tabaco, muito tabaco. Era aliás, a zona preferida de Cuba por Fidel Castro. É do Vale de Viñales, na província de Pinar del Río, que saem os melhores charutos cubanos, como o Monte Cristo ou Cohiba – este que era, alegadamente, apreciado por El Comandante.
As visitas guiadas ao Vale de Viñales começam, por norma, por volta das oito ou nove da manhã. Todavia, falei com o meu anfitrião, Bladimir, no dia que cheguei, e num par de horas já ele tinha contactado um guia disposto a acordar muito antes da hora habitual. A caminhada começaria às 5h30 da madrugada.
Se já leu algumas das minhas histórias de viagem, já terá notado que não me agrada viajar para qualquer local onde tenha que estar constantemente a pedir licença para passar ou simplesmente para ver as vistas.
Prefiro ir mais cedo e apreciar os locais com menos turistas e maior tranquilidade. No entanto, desta vez a principal razão para começar o passeio muito antes do nascer do sol, foi a qualidade da luz.
Fotografar em Viñales, nas primeiras horas da manhã, é absolutamente divinal. Queria capturar os primeiros tons amarelados ou alaranjados a quebrarem o típico manto de nevoeiro matinal que se apodera do vale, em algumas alturas do ano. E para isso era vital sair da cama cedo, bem cedo.
Esta minha solicitação inesperada até favoreceu Juan, o meu guia, pois iria terminar a caminhada pelo Vale de Viñales por volta das 9h30 e às 10h00 outro grupo de turistas iria arrancar para conhecer a região. Valeu, para ambos, o despertar temprano.
- Hotel em Cuba — Encontre o alojamento ideal em Cuba, com ofertas incríveis e instalações de excelência
- Faça o seguro de viagem na IATI ou na Heymondo com 5% de desconto
Beleza sem pestanejar em Viñales
O Vale de Viñales, na província de Pinar del Río, está cercado por montanhas e a paisagem é intercalada com zonas rochosas. A beleza é tal que a UNESCO inscreveu o Vale de Viñales na sua lista de Património da Humanidade.
A noite está ainda fria e seguimos ensonados. Primeiro, por ruelas à saída de Viñales onde candeeiros à meia-luz nos auxiliam a vislumbrar o caminho. Não somos os únicos por ali, pois já vários campesinos (trabalhadores rurais) se preparavam para começar o dia de trabalho. Outros aguardavam pacientemente o “colectivo”, ou seja, o transporte para os campos agrícolas.
Caminhamos em passo apressado, numa noite ainda muito escura, sem lua, e apenas com ajuda de uma lanterna. Seguimos por caminhos estreitos, onde se ouvem os nossos passos na terra macia, humedecida pelo nevoeiro. Sinto esse cheiro característico a terra molhada, como se tivesse chovido horas antes. Talvez tenha mesmo chovido.
O terreno é acidentado e, por vezes, sinto-o a fugir-me dos pés. Para trás, ficaram as ruas pavimentadas, bicicletas e carros. Aqui, somos nós, a natureza e pouco mais. Lá em cima, no céu limpo, as estrelas observam os nossos passos. Cá em baixo, os cães ladram, mas a nossa “caravana” passa.
“Oi, Oi, Oi”, grita o meu guia, de repente. Pensei que tivesse tido algum delírio temporário, mas não. Estava apenas a gritar ao irmão que, ao longe, preparava os cavalos para sair para os primeiros passeios turísticos do dia. Não o vejo, nem aos cavalos, mas oiço a resposta do outro lado dos arbustos. “É ali a finca do meu irmão”, explica-me Juan.
Os passeios a cavalo pelo Vale de Viñales são uma das formas mais populares de explorar a região de Pinar del Rio, entre a serra e o planalto. Esta é uma zona de terrenos férteis, potenciada por um microclima húmido. No coração do vale, as temperaturas baixam bastante mais do que na povoação de Viñales e Juan garante-me que “faz frio”. Claro que, em Cuba, o frio é relativo. O mesmo frio (14°C) é tempo ameno em muitos outros lugares do planeta.
“Creio que um ano terá descido aos 7°C, garante. “Mas não tão frio como nas montanhas da Venezuela”, acrescenta, enquanto me conta que trabalhou quatro anos naquele país da América do Sul. “Era preciso trabalho e fui. O governo permitiu, fui para a Venezuela e voltei para Cuba”, afirma Juan com orgulho.
Durante muitos anos, os cubanos foram autorizados a sair do país para trabalhar, mas muitos desses já não regressaram a Cuba, devido à situação precária e devido ao regime comunista.
“Aqui em Cuba, se um cubano sabe de mecânica, mas não consegue trabalho nessa área, vai para a cozinha de um restaurante ou faz outra coisa. Na Venezuela, não é assim. Preferem ficar parados. Os Venezuelanos não gostam de trabalhar”.
E conta a história de um amigo que precisou de reparar uma avaria no carro, na Venezuela, e o mecânico local rejeitou o trabalho porque, alegadamente, já tinha ganho o suficiente para vários dias com outro cliente recente.
Colinas do Vale de Viñales em fogo
Os trilhos, desgastados, são partilhados entre caminhantes, habitantes e cavalos. Reparo que um cão nos segue, silencioso, desde que saímos da povoação de Viñales. Será que é um membro dos serviços secretos cubanos disfarçado?
A escuridão levanta-se do vale e as paredes das lomas, ou colinas, “incendeiam-se”. Os primeiros tons de laranja já surgem por detrás da Sierra de los Órganos e vislumbram-se os bancos de nevoeiro que ali me levaram. Com o equipamento fotográfico preparado, é tempo de registar este momento sublime.
Um par de abutres voa em constante movimento circular, talvez para se alimentar de algum outro animal que tenha padecido durante a noite.
Paro à beira de uma enorme e velha ceiba – talvez com mais de 30 metros de altura. De acordo o Wikipedia, este género de árvores é encontrado em várias áreas tropicais, como na América Central, América do Sul, Caraíbas, África Ocidental e Sudeste da Ásia.
Junto ao largo tronco desta ceiba, uma antiga carroça de madeira, com pneus de automóvel, repousa abandonada ou apenas temporariamente esquecida.
Atravessamos uma vedação e o nosso melhor amigo, “o cão espião”, segue-nos também. Passamos por dois enormes bovinos que, mesmo sentados na pastagem, não param de ruminar.
Do lado esquerdo, um outro bovino arrasta um homem, na casa dos 50, com chapéu de pele e abas largas – ao estilo cowboy. Viaja por um trilho aberto pelas águas das chuvas e em cima de um cilindro metálico. “Táxi, táxi, táxi”, grita o Juan, enquanto sorri e o cowboy dá indicação ao bovino para suster a marcha.
“Hola soy Mario”, diz-me, questionando depois as razões de uma visita tão madrugadora. “¿Qué haces aquí tan temprano? No estás bailando hoy?” Juan ri-se, pega no telemóvel, selecciona uma música e começa a dançar um pouco. Rimos todos. Em Cuba, é assim, a boa disposição e a música fazem parte de cada momento.
Puente de los campesinos em Viñales
Mario vai buscar água a um poço uns quilómetros mais à frente, para dar ao gado e usar na rega. Em Cuba, não há inovação e, nos trabalhos agrícolas, tudo é feito com recurso ao suor dos trabalhadores ou ferramentas quase primitivas. Os campos são lavrados com recurso a animais como burros, cavalos ou bois de grande porte. Como era, afinal, feito em Portugal há dezenas de anos.
Um desses animais desobedece ao dono e é imediatamente repreendido, enquanto este nos explica que é impreterível começar o trabalho bem cedo, para aproveitar a humidade da terra e lavrar o terreno mais facilmente. Plantam-se feijões, batatas, batatas doces, tabaco ou cana do açúcar.
Os terrenos férteis são também utilizados para cultivar mangueiras, a árvore da manga, cujo fruto é colhido a partir de Abril.
Mario já vai longe, sentado no seu cilindro de água transformado em transporte. O Vale de Viñales é bonito, deslumbrante mesmo, mas começo a sentir o peso do equipamento fotográfico nas costas, depois de mais três horas de caminhada. E apesar da manhã ainda só agora se ter iniciado, o calor já é quase insuportável.
Atravesso riachos quase secos, entre caminhos com poças, lama e terra húmida e os meus ténis ganham uma cor alaranjada, barrenta. Uma barra metálica funciona como ponte primitiva para atravessar o riacho, cujo caudal transborda nos tempos de chuva. Baptizo-a como a “Puente de los campesinos”.
Tabaco cubano — a essência de uma região
Apesar da diversidade de culturas neste vale cubano, a maioria dos terrenos no Vale de Viñales é ocupado com plantas do tabaco – talvez porque seja o mais lucrativo. Porém, 90% dos lucros são entregues ao governo e o que resta é entregue aos trabalhadores para compensar o árduo trabalho e as longas horas sob um sol impiedoso – como no exemplo do campesino Mario e outros campesinos espalhados pela ilha de Cuba.
A planta do tabaco está fortemente dependente do clima, talvez mais do que qualquer outra cultura. E é um trabalho de paciência, como me explica um pequeno produtor de tabaco em Viñales. Das cerca de 350 mil plantas de tabaco colhidas, resultam cerca de 3500 charutos cubanos ou “puros”, como lhes chamam no país.
Estes são depois entregues a algumas empresas que tratam da rotulagem e os classificam, de acordo com a qualidade, como Cohiba ou Monte Cristo. Por vezes, o processo pode demorar um ano — desde o momento do lançamento da semente à terra até ao momento de poder cheirar e acender o charuto.
As folhas estão prontas a colher, normalmente, em três meses, embora o processo de secagem seja mais lento. Este faz-se numa palhota, com telhado de zinco, onde os trabalhadores lhes aplicam um spray com aromas — como mel ou baunilha – e aí ficam prensados durante várias semanas.
O produtor mostra-me como se transformam folhas num charuto que se pode, mais tarde, fumar. Um dos passos essenciais é a retirada do fio que contém a nicotina – para que os charutos não causem dependência.
Mesmo sem ter, ainda, tomado o pequeno-almoço, aceito o desafio de experimentar um charuto pela manhã. Sou aconselhado a não inalar e a colocar uma pinga de mel na ponta que se cola aos lábios, para humedecer o charuto e intensificar o sabor.
Mesmo não sendo fumador, de tabaco, charutos ou qualquer outro tipo de cigarros, identifico um aroma intenso e agradável. Quantos destes charutos terá Fidel Castro fumado em toda a sua vida?
A revolução, em Cuba, aconteceu há mais de 50 anos, mas o país está longe do progresso, da modernidade e até de conseguir ter infra-estruturas para receber uma invasão de turistas, como constatei após a abertura dos voos dos EUA.
Com Obama, Cuba parecia ganhar um novo fôlego, mas com a entrada de Trump, houve um retrocesso. O único vento de mudança, para já, é no céu carregado quando um dilúvio invade o Vale de Viñales, parecendo chorar — no meu dia de despedida.
Informação extra
Como chegar a Viñales
Para chegar a Viñales, podes fazê-lo de várias formas. De autocarro, utilizando os serviços da transportadora Viazul pode viajar desde Varadero ou Havana para Viñales. Pode adquirir os bilhetes online e a viagem demora cerca de 3h30 desde a capital e quatro horas desde as praias de Varadero. O custo é de 12 dólares (2018).
Outro modo de viajar para Viñales é de táxi. Se ficar, como eu, numa casa particular pergunte ao seu anfitrião que este irá, de certeza, ajudá-lo, a encontrar um táxi para efectuar a viagem. Pode fazê-lo de modo individual (mais caro) ou num “colectivo”, mais barato e recomendado.
Viajei sempre deste modo em Cuba, nunca tive qualquer problema e ainda conheci outros companheiros de viagem. Por exemplo, viajei num colectivo de Havana para Viñales e depois de Viñales para Trinidad. O preço varia em função do número de pessoas que partilhem o transporte, mas em muitos casos é mais barato que o autocarro.
A Air Europa e Iberia voam de Lisboa para Havana, com paragem em Madrid. Use o Skyscanner para comparar os preços dos voos para a altura que desejar. É uma das plataformas que uso e recomendo.
Restaurantes em Viñales
Se já visitou Cuba, sabe, por experiência própria, que depois de uns dias no país já vai estar farto de “arroz e frijoles”. Em Viñales ou Havana não terá grandes problemas, pois já existe alguma variedade de restaurantes. Um dos restaurantes em Viñales, que recomendo, é o Paladar La Cuenca.
A comida é boa e o ambiente acolhedor e moderno. O preço não é dos mais baratos em Cuba, mas como serve comida internacional terá de pagar pela comodidade. Em alternativa, opte por jantar na casa particular onde está hospedado. Irá, provavelmente, comer bem e pagar menos do que num restaurante.
Hotel em Viñales
Viñales tem uma panóplia enorme de locais para dormir. Pode usar o Booking para pesquisar o seu favorito. Eu recomendo vivamente a Casa Paez. Os proprietários são muito simpáticos, o quarto confortável e as refeições são óptimas. Se ficar aí hospedado não se vai arrepender.
Seguro de viagem
Nunca viaje sem seguro de viagem. Recomendo a IATI Seguros ou a Heymondo (ao usar qualquer um destes links tem 5% de desconto). São os melhores seguros de viagem (e os mais baratos) e têm protecção Covid-19.
Sempre que quiser marcar um voo, um hotel ou comprar seguro de viagem, use as plataformas que eu recomendo e confio. Só tem de clicar nos links abaixo antes de pesquisar as suas viagens.
Não paga mais por usar estes links.
- Hotel em Cuba ao melhor preço
- Seguro de viagem na IATI ou na Heymondo (5% de desconto com este link)
- Voos mais baratos para a próxima viagem
- Carro alugado com tarifas reduzidas
- Cartão bancário sem comissões para viajar
- Guarde a bagagem de forma segura e barata
- Workshops de fotografia — aprenda a fotografar comigo
- Viagens de aventura — venha viajar comigo
Nota: Este texto pode conter links afiliados, mas não paga mais por usar qualquer link (e até pode poupar). Garantido!
Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
Já estive em 60 países, por isso se tiver uma viagem em mente com um grupo de amigos, familiares ou colegas de trabalho, contacte-me e terei todo o prazer em planear, organizar e liderar a viagem que deseja. O roteiro poderá ser desenhado à medida, assim como o orçamento e actividades.
- Veja o calendário das viagens e inscreva-se ou diga-me para onde quer viajar em grupo e eu trato de tudo.