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Início Inspiração Natal (radioactivo) em Paldiski – o inferno na Estónia
Natal, Paldiski, Estónia
O Natal é evocado de uma forma estranha em Paldiski, na Estónia. Cerca de 800 mil litros de águas residuais radioactivas foram produzidas pelos antigos reactores nucleares soviéticos. Foto: Jorge Duarte Estevão

Natal (radioactivo) em Paldiski – o inferno na Estónia

Inspiração Viagens Europa Estónia Tallinn
Jorge Duarte Estevão
Actualizado a 23/09/2020
6 Comentários

Os bancos de plástico azuis, pouco confortáveis e alinhados em filas de três preenchem as duas composições do comboio que liga Tallinn a Paldiski. A viagem, para o que alguns já consideraram o “inferno”, faz-se a um ritmo lento, sem pressa e quase em silêncio. É quase tempo de Natal na Estónia.

A excepção é uma criança, sentada de frente para a mãe, pernas em constante movimento a balançar e que, a espaços, solta perguntas que nem me esforço para entender – não falo a sua língua. Talvez faça perguntas à progenitora sobre o que a janela do comboio nos mostra – uma imensidão de branco.

Os pequenos olhos azuis destacam-se na delicada face – quase coberta por um espesso capuz de lã em tons amarelados. O olhar da jovem continua preso à paisagem gélida, impávida ante um sol de meio-dia que não queima, nem sequer aquece.

Entre os vários quilómetros de pinheiros pintados de branco – pela fina camada de neve que os ramos abraçaram na última noite – surgem pequenos amontoados de casas, com telhados quase verticais, que queimam lenha sem hesitação. A viagem demora pouco mais de uma hora desde a saída de Tallinn.

Da dezena de passageiros que inicia a viagem, apenas quatro seguem até ao destino final. Alguns saem em pequenos apeadeiros que se escondem ao lado da linha férrea e desaparecem no meio da densa floresta.

A exemplo de dias anteriores, o sol não é suficiente para fazer o termómetro passar dos 12 graus negativos neste dia de Inverno.

Merry nuclear Christmas em Paldiski

Muitos dos prédios de Paldiski, na Estónia, foram utilizados pelos militares soviéticos durante largos anos. Foto: Jorge Duarte Estevão

À chegada a Paldiski, o cartão-de-visita é a estação, um modesto edifício construído em 1870. É aqui, onde também funciona um pequeno café, que alguns passageiros se abrigam do frio e da neve, enquanto o manto branco vai preenchendo os orifícios do único banco de madeira no exterior.

O prédio pintado em tons de amarelo, com vibrantes telhados vermelhos, ostenta três ou quatro chaminés. Enquanto lentamente me preparo para enfrentar o frio, ainda dentro do comboio, observo em primeiro plano vários vagões de carga.

Um pouco mais ao longe o mar gelado espera pelo sol, que já vejo fugir na sua direcção. Na época de Natal, na Estónia, os dias são curtos.

Do lado oposto do comboio, onde ainda me demoro, reparo que já vão apressados os poucos passageiros que tinham Paldiski como destino final. Uma passageira arrasta pela neve, num trenó improvisado, a mala de viagem que a acompanha no regresso a casa. 

Sigo a marca do trenó e reparo de imediato nos velhos edifícios, ou no que resta deles, do tempo em que a base russa se fechava (e fechava esta povoação) ao mundo exterior.

Nas paredes, agora sem vidros nas janelas, onde nascem arbustos, várias inscrições recordam ou evitam o esquecimento da era soviética. Uma delas, em particular, capta a minha atenção. Um desenho de um pinheiro, pintado a verde, acompanhado pelas palavras a vermelho: “Merry nuclear Christmas”.

Ligação umbilical ao mar e à Rússia

A história – não muito longínqua – é ainda uma cicatriz por eliminar para muitos habitantes. Paldiski é uma pequena localidade, de pouco mais de quatro mil habitantes, a 50 km a Oeste da capital da Estónia, Tallin. Mas entre 1968 e 1996, mais de 16 mil pessoas ocuparam os 34 km2 da área que se estende até ao Mar Báltico.

A zona serviu de base a testes e ao desenvolvimento do programa nuclear russo para submarinos, tornando-se então na maior base do género em toda a antiga União Soviética.

Neve, Natal, Paldiski, Estónia
A típica paisagem de Inverno em Paldiski, onde a temperatura média de Dezembro a Fevereiro é -5 ° C, mas pode cair para -27 ° C. Foto: Jorge Duarte Estevão

Dada a sua localização geográfica e importância para o programa russo, Paldiski foi completamente cercada por arame farpado e a entrada de desconhecidos foi vedada. Apesar do esforço para mudar a face da cidade, muitos dos edifícios continuam a ser uma fiel representação da era comunista.

Largos blocos de apartamentos – sem identidade – com fachadas semi-destruídas pelo tempo e pelos rigorosos invernos nesta zona do globo. A vida, que em muitos momentos parece ausente de Paldiski, regressa a cada chegada do comboio vindo da capital e dos navios com passageiros e carga oriundos de Kapellskar, na Suécia.

É com esta ligação ao mar que a cidade tenta reescrever a sua própria história. O mesmo mar que moldou o seu destino para o mal, com o programa nuclear, e para o bem, com a esperança de progresso renovada por cada atracagem no porto marítimo internacional.

O mercúrio do termómetro desce vertiginosamente, o sol brilha tenuemente e o único som que oiço é dos meus próprios passos na neve.

Ao longe, duas mulheres aguardam ao frio, numa conversa arrastada e em volume reduzido, que os netos (presumo) terminem as brincadeiras que o nevão da última noite permitiu. Será esse o motivo da conversa? Provavelmente não, já que a neve não é por ali novidade.

Olham-me sem pestanejar, quiçá, estranhando um forasteiro numa cidade onde todos parecem locais e familiarizados com a eterna tranquilidade da zona que escolheram ou o destino lhes obrigou a escolher. 

Enquanto isso, um homem entra apressadamente no carro e sai em velocidade acelerada, no único movimento brusco que presenciei durante a minha visita a Paldiski – uma cidade que (ainda) não é fantasma.

Uma hora de distância. Diferenças abissais.

Os prédios da era soviética continuam a ser a imagem de marca de Paldiski. Muitos estão abandonados e quase em ruínas. Foto: Jorge Duarte Estevão

O processo de renovação está em marcha, mas está longe de ser o principal atractivo da região. Paldiski merece, todavia, alguma atenção: as encostas escarpadas e, principalmente, as razões históricas oferecem motivos suficientes para uma pequena viagem secundária, ali mesmo ao lado da beleza arquitectónica, deslumbrante, de Tallinn.

O Inverno, os flocos de neve, o céu azul e o mar ali ao lado transformam-na, apesar do aparente abandono de vários edifícios, numa cidade intrigante, misteriosa, até mesmo desoladora, mas que convida a descobrir. 

Enquanto o comboio avança de regresso a Tallinn, revejo mentalmente aquela imagem de uma avenida silenciosa coberta com um véu branco, onde se erguem dezenas de árvores num alinhamento rectilíneo.

Retenho, sobretudo, aquele pinheiro verde em particular, pintado na parede em ruínas, ao mesmo tempo que sou invadido por um pensamento. Como será de facto o Natal em Paldiski, a cidade misteriosa da Estónia? Talvez descubra da próxima vez.

Informação extra

Factos sobre Paldiski

A cidade de Paldiski foi fundada por Pedro o Grande em 1718, como uma fortaleza naval. O nome Paldiski apenas se tornou oficial em 1933, utilizando desde então a pronúncia estónia. Até aí o nome utilizado tinha sido, em russo, Балтийский Порт ou “Porto Báltico”. 16,000 pessoas viveram em Paldiski entre 1962 e 1994, enquanto a base nuclear naval russa esteve em funcionamento.

Depois do final das operações pelos soviéticos, Paldiski, perdeu quase toda a sua população e como não possuía cidadãos estónios suficientes para se tornar um município independente ficou sob a jurisdição de Keila. De acordo com os últimos sensos (Janeiro de 2010) a população actual é de 4372 habitantes.

O que visitar em Paldiski

Quando visitei Paldiski, a cidade era praticamente desconhecida no meio turístico – e continua a ser quase ignorada – mas já existem alguns tours. Paldiski é um local diferente, mas perfeito para uma day trip e para fugir aos turistas em Tallinn.

A península de Paldiski está coberta por bunkers abandonados e vários destroços militares, incluíndo um reactor nuclear experimental. Esta foi porventura a instalação mais secreta mantida em Paldiski durante a era soviética.

Com mais de 50 metros, o farol de Pakri, construído em 1889, é o mais alto da Estónia. A península de Paldiski é famosa também pelas falésias calcárias, onde se podem observar aves e quedas d’água (Valli, Raja e Kersalu).

Próximo destino na Estónia

Keila-Joa. Esta pequena povoação a menos de 30 quilómetros tem como ex-líbris as segundas maiores quedas de água do país, com 6,1m. Não obstante a força dominante da água, no Inverno o gelo substitui a corrente, congelando por completo o rio que alimenta as quedas de água. Além disso, a floresta circundante e a variedade gastronómica são uma excelente opção para prosseguir viagem neste sentido, depois de visitar Paldiski.

Quando visitar Paldiski (ou Tallin)

Qualquer altura é boa para visitar a Estónia. Mas, no caso de Paldiski, o Inverno com neve, céu azul e a remota possibilidade de encontrar turistas, assume-se, talvez como a estação indicada.

Como chegar a Paldiski

O prédio mais reconhecido de Paldiski - a estação de comboios da cidade da Estónia

O primeiro comboio parte da estação de Tallinn e demora pouco mais de uma hora. Existem várias ligações diárias desde a capital da Estónia entre as 6h00 e as 9h00 da noite. O preço do bilhete de comboio entre Tallinn e Paldiski ronda os 3€.

Hotel em Paldiski

Paldiski fica a apenas uma hora de comboio e, portanto, na minha viagem à Estónia, fiquei hospedado na capital, Tallinn. Recomendo o Hotel Meriton Old Town Garden, em Tallin. A decoração é muito criativa, a localização é perfeita – na parte velha de Tallinn – e o pequeno-almoço é delicioso.

Alternativas para pernoitar quando visita Paldiski

  1. Old Town Studio Apartment Aia (9.3)
  2. Centennial Hotel Tallinn (9.2)
  3. Jõe Apartments (9.0)
  4. Swissotel Tallinn (9.1)
  5. Delta Apartments Old Town Luxe (9.1)

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Interações do Leitor

6 comentários

  1. Rui Barbosa Batista diz

    06/12/2018 em 07:15

    Jorge, muitos parabéns pelo teu projeto que, confesso, ainda não conhecia. E estava, claramente, em perda. A tua escrita prende como poucas. Fui umas 10 vezes à Estónia, mas falhei Paldiski: o teu artigo vai levar-me lá…

    Responder
    • Jorge Duarte Estevão diz

      06/12/2018 em 10:01

      Obrigado Rui. Este é um daqueles locais onde tenho a certeza que vais encontrar umas belas histórias! ?

      Responder
  2. Maria João Proença diz

    07/12/2018 em 11:32

    Fantástico artigo Jorge, parabéns. Adorei as descrições e o estilo de escrita, ajudaram a transportar-me momentaneamente para lá.

    Responder
    • Jorge Duarte Estevão diz

      07/12/2018 em 14:31

      Obrigado Maria João Proença ? É um local diferente, ao mesmo tempo belo e desolador…

      Responder
  3. Sandra diz

    12/12/2018 em 22:47

    Olá Jorge, acabei de aterrar no teu blog e só com este artigo já fiquei maravilhada por isso a partir de agora vou ficar atenta. Adorei as fotos, a escrita e as descrições. O leste fascina-me. Não conheço a Estónia mas está na minha lista e este local com certeza não vai passar ao lado. Muito obrigada e boas viagens.

    Responder
    • Jorge Duarte Estevão diz

      13/12/2018 em 09:42

      Olá Sandra. Obrigado pelas palavras simpáticas. A Estónia está ali ao lado da Rússia e tem uma história fascinante. E a capital é muito bonita. No Inverno, com o espírito de Natal e pintada de neve é fantástica ?

      Responder

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Jorge Duarte Estevão

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Prefiro ser tratado por tu. Nasci no Alentejo, mas já visitei 60 países. Alentejano de raça pura – mas escrevo sem sotaque. Acima de tudo, sou um viajante.

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