Sting e Leonard Cohen embalam-me e acompanham o ritmo cadente das curtas ondas da Baía de Kotor, enquanto numa esplanada assisto ao suave deslizar dos veleiros. Barcos e proprietários aproveitam o último calor do ano e, embora o calendário já tenha mudado a página para o Outono, o tempo continua a ser de Verão no Montenegro.
Da sossegada esplanada onde provo um café curto, mas forte, vejo o ferry a transportar veículos de um lado para o outro da bela Baía de Kotor. A viagem é curta, mas eu opto pela (estreita) estrada alternativa e sigo em ritmo de passeio, contornando o mar até chegar, primeiro a Kotor e, depois, a Perast.
Borboletas (em número incontável) e pássaros espraiam movimentos em todo o lado desta minha viagem pelo Montenegro, como se a Primavera ou o Verão estivessem no auge.
Uns dirão que são as mudanças climáticas a suscitar este tempo inusitadamente quente, outros talvez descartem essa explicação científica. Os factos residem: é Outubro e o termómetro sobe acima dos 27 graus. O tempo, quente, é perfeito para estar aqui, nesta bela esplanada de um pequeno café à beira-mar, com boa música, óptima companhia e contemplando o mar azul esverdeado.
A uns 20 metros à minha esquerda, três pescadores, num velho pontão de cimento, discutem estratégias e as amostras utilizadas, enquanto esperam que o peixe “pique”. Ao lado, incansável, um cão de água vai e volta para a baía, buscando um pau atirado pelo dono.
Iates que (imagino) estão avaliados em milhares ou milhões de euros – como os que vi de perto no Porto Montenegro, em Tivat surgem também no horizonte. Nessa pequena marina de Tivat (Porto Montenegro) – um local agora em acelerada expansão – muitos iates esperam pela transferência bancária de milionários, provavelmente russos, para os conduzirem e exibirem pelos oceanos do planeta.
Aqui, a poucos quilómetros de Kotor, navios de cruzeiro aguardam vez nas águas profundas, esperando pela autorização para o desembarque e transporte de centenas de turistas até à margem.
Em breve comecará o corropio entre o enorme navio e a margem, que depois se irá prolongar cidade adentro. Ora a pé, pelas belas ruelas de Kotor ora no acesso a autocarros para os transportar até aos principais pontos turísticos do Montenegro.
Fronteiras sem entraves entre a Croácia e o Montenegro
Dias antes havia atravessado, num autocarro, a fronteira entre a Croácia e o Montenegro. A viagem desde Dubrovnik faz-se sem grandes pressas, até porque são muitas as curvas para contornar.
Tinha lido relatos que as burocracias na fronteira podiam ser bastante demoradas, mas esses relatos não se comprovam no meu caso. Não terá demorado mais do que dez minutos até receber luz verde para sair de território croata e pisar solo montenegrino.
O autocarro segue meio cheio com outros viajantes, todos estrangeiros. A maior parte termina a viagem em Kotor, outros (como eu) seguiram para Tivat – 15 quilómetros mais à frente.
Poderia ter voado directamente de Londres para Tivat ou para a capital do Montenegro, Podgorica, mas os preços dos voos eram mais elevados e apenas havia ligações ao domingo, logo iria perder o dia de sábado à espera da viagem. Optei por voar no sábado para Dubrovnik e dar um salto a esta popular cidade da Croácia.
Um dos viajantes que partilhou o percurso neste autocarro dá um salto no banco e desabafa: “Esqueci-me do passaporte na bagagem”. Digo-lhe, sem saber, que não deve haver qualquer problema, pois só tem de pedir ao motorista para o deixar aceder à bagagem quando pararmos no posto fronteiriço.
Assim faz e, aliviado, lá segue em último lugar da fila que se forma em frente a uma cabine. Nesta cabine de portagem espelhada, só mesmo ajoelhando-me, consigo vislumbrar uma mulher do outro lado, a verificar os passaportes.
Em poucos minutos saímos da Croácia, entramos no autocarro e a situação repete-se, um quilómetro mais à frente, para entrar no Montenegro. Com excepção de um turista asiático, o processo é rápido e sem entraves.
Longe, ainda que não muito longe, vão os tempos em que os dois territórios estavam de costas voltadas – leia-se guerra – e era impossível transitar de modo tão simples – ou quase impossível.
Montenegro, um pequeno país com uma longa história
O Montenegro, como nação única e independente, surgiu apenas a 21 de Maio de 2006, depois de um referendo ter ditado a quebra da união entre a Sérvia e o Montenegro. Tal como no caso da Bósnia-Herzegovina, Croácia, Macedónia, Sérvia e Eslovénia, o Montenegro foi uma das seis repúblicas da antiga Jugoslávia. Como o resto da Jugoslávia, o território montenegrino foi libertado pelos partidários jugoslavos em 1944.
O agora país independente foi uma espécie de marioneta entre Sérvios e Croatas nas guerras da Jugoslávia dos anos 80 e Guerra dos Balcãs dos anos 90, além de ter sido também ocupado por forças italianas na Segunda Guerra Mundial.
O Montenegro é agora um país próspero, mas ainda com claras diferenças entre ricos e pobres, não obstante ter uma população de pouco mais de 600 mil habitantes.
A 2 de Dezembro de 2015, o Montenegro recebeu o convite formal para se juntar à NATO, tornando-se o 29º país membro e encontra-se em negociações avançadas para aderir à União Europeia – o que se estima possa acontecer em 2025. O mesmo deverá acontecer com a Sérvia.
Senti-me em casa num país quase três vezes menor que o Alentejo
Gosto de viajar no Outono, de ver a transição do Verão para a nova estação, das cores, das melhores ofertas de viagem, e de encontrar poucos turistas. Durante dez dias percorri o Montenegro e, admito, já ia com elevadas expectativas. Mesmo assim, senti-me absolutamente rendido à beleza, à bondade das pessoas e à comida local.
O Montenegro é um território pequeno, mas que nos pisca o olho ao primeiro encontro, através da culinária, espectaculares paisagens e lugares pitorescos. A Baía de Kotor é um dos destaques da costa do Mar Adriático, com fiordes de sonho e praias arenosas.
Entre os resorts costeiros mais populares estão Budva – uma cidade com um péssimo planeamento urbano – Herceg Novi ou o exclusivo Sveti Stefan. A isto acrescem as paisagens de montanha de Lovćen, o Lago Negro (Crno Jezero) no Parque Nacional Durmitor ou o incrível Lago Skadar – o maior lago dos Balcãs.
Em muitos momentos dei comigo a fazer comparações com aspectos da vida quotidiana em Portugal, como o estilo de vida ligado ao mar em Kotor ou Tivat (ou no Algarve), as casas de pedra das zonas montanhosas – como nas beiras em território português. Ou a gastronomia com base no peixe, borrego ou frutos secos, como o figo, laranjas e, claro, as romãs que crescem, amadurecem e rebolam por todo o lado.
E até na forma agressiva (ainda mais agressiva) como se conduz nas estradas montenegrinas, foi impossível não estabelecer o paralelo com costumes lusos.
Mesmo alguém muito viajado ficará de boca aberta perante tamanha beleza natural num território quase três vezes menor do que o Alentejo. Das mais variadas formas senti-me em casa. E como é sempre bom voltar a casa, tenho a certeza que vou regressar ao Montenegro em breve.
Informação extra
Visto para o Montenegro
Cidadãos portugueses e brasileiros não necessitam de visto para visitar o Montenegro e podem permanecer no país até 90 dias.
Dinheiro no Montenegro
Existem caixas de levantamento automático por todo o país e também é fácil fazer compras com cartão de crédito ou débito – até mesmo com o sistema contactless. A moeda utilizada no Montenegro é o Euro. Recomendo este cartão para poupar centenas de euros no estrangeiro.
Como chegar a Kotor
Não existem voos directos de Portugal para Podgorica ou Tivat, no Montenegro, pelo que terá de fazer escala em alguma capital europeia como Viena, na Áustria, ou em Madrid. Os voos podem demorar entre 5 e 10 horas, consoante a escala. Ao chegar a Podgorica ou Tivat, é fácil encontrar transporte de autocarro, ou táxi para Kotor.
Pode também alugar um carro, o que irá facilitar a viagem no Montenegro, mas prepare-se para pagar pelo estacionamento em Kotor. Um dos parques, junto a um pequeno centro comercial, está em funcionamento 24 horas por dia e custa 0,60€ por hora.
Se preferir pode voar para Dubrovnik, na Croácia, e aí, como eu, apanhar um autocarro entre Dubrovnik e Kotor. O preço é de cerca de 20€ e a viagem demora cerca de duas horas, incluindo o tempo de esperar na fronteira.
Hotel em Kotor
Existem inúmeras opções de alojamento em Kotor. Se desejar ficar no centro, na área da cidade velha, vai ter de pagar pela mordomia. Durante a minha estadia em Kotor e no Montenegro, optei por apartamentos. Todos eles estavam equipados com cozinha e eram confortáveis, limpos e com preços acessíveis.
Recomendo os Apartmentos Ivetić, que embora fiquem fora da cidade estão suficientemente perto para conhecer Kotor e outras atracções das redondezas. Mas irá necessitar de carro para ficar aqui alojado.
Outros hotéis recomendados em Kotor
- Hotel Monte Cristo (9.1)
- Apartmani Ćetković (9.6)
- Katareo Apartments (9.6)
- Pearl Apartments (9.8)
- Kotor Nest (9.5)
- Historic Boutique Hotel Cattaro (9.4)
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
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