Umas horas depois de aterrar em Cuba, já tinha sido “sequestrado” para a casa de uma família cubana. Não para a casa que paguei para ficar alojado, mas antes para o lar de um cubano que havia conhecido minutos antes nas ruas de Havana e que me convidou para ir conhecer a sua família, mulher e filhos, enquanto me oferecia um forte café cubano.
A conversa girou, claro, em torno da abertura do regime e da morte de Fidel Castro.
“Fidel é único, não haverá outro igual. Era um homem muito inteligente”, disse-me Carlos, este cubano de forte porte atlético. Quando o conheci, conversava sobre o mesmíssimo tema com um amigo, no degrau de uma casa velha na rua no quarteirão do lado.
Chego a Cuba numa altura marcante para o país: menos de um mês após a morte do ex-líder cubano, Fidel Castro, e poucos meses depois da abertura de voos comerciais regulares entre os EUA e a ilha caribenha. Seria apontado como o princípio do fim do embargo económico – el bloqueo, como lhe chamam em Cuba. Ou por outras palavras: o princípio da liberdade.
Em Havana, e por todo o país, um gigantesco painel expressa o sentimento do governo sobre as restrições impostas pela administração norte-americana: “Bloqueo, el genocidio más largo de la historia”. Fala-se da invasão da cadeias de hotéis e de fast-food e tudo isto suscita esperança nos olhos brilhantes deste povo. Um povo cansado de décadas amargas que nem o doce rum alivia.
Com o desaparecimento de Fidel, sente-se nas ruas, sem margem para dúvidas, uma perda para muitos cubanos, e um alívio para outros.
Os ventos são de mudança e em todo o lado encontro americanos. Faço amizade com um casal do Hawaii e converso com outros dos estados do Ohio, do Texas e de Illinois. Um sinal claro de que Cuba está agora mais aberto ao mundo, principalmente ao mundo americano.
Adeus Fidel, olá liberdade
Na Praça da Revolução, um dos símbolos de Havana, estão expostas enormes caricaturas dos heróis cubanos – Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos. E é nesta praça que se ultimam os preparativos para o grande discurso de 1 de Janeiro, o dia de aniversário da revolução que terminou em 1959.
No alto de um dos prédios, dois homens, sem qualquer tipo de segurança – de lata de tinta numa mão e rolo na outra – que pintam a fachada de verde escuro. Tudo tem de estar, ou pelo menos parecer, imaculado antes da celebração. No lado oposto da Praça da Revolução, um pelotão do exército marcha em passo acertado para o interior das instalações militares.
A praça é enorme e enche-se de gente a cada aniversário da revolução. No entanto, no dia que visito, de manhã, figuram por ali apenas um par de turistas e dois carros ao estilo americano dos anos 50 ou 60 – um rosa-choque e outro azul escuro. Além destes, apenas aqueles trabalhadores no topo da fachada verde brilhante, e o pelotão do exército em marcha acelerada.
Em contraste com toda esta cor, num outro prédio, um enorme pano, a preto e branco, exibe a imagem de um imponente Fidel Castro, em uniforme militar, de olhar fixo no horizonte, de mochila às costas.
Presumivelmente, uma foto captada na Sierra Maestra – onde Fidel Castro orquestrou o movimento de libertação de Cuba da ditadura de Fulgencio Batista. É como se o tempo tivesse parado aqui na capital de Cuba. E a verdade é que, em muitos aspectos, parou de facto.
Sinto-me observado por aqueles rostos gigantes que pontificam em vários locais da Plaza de la Revolucion. Subo a escadaria até junto do icónico e gigante memorial em homenagem a José Martí – constituído integralmente em mármore polido.
José Martí, foi um jornalista e escritor, mas entrou para a galeria de heróis devido à sua incansável luta contra Espanha pela independência de Cuba. A sua persistência custou-lhe a vida no campo de batalha, mas o seu nome ficou para sempre associado à libertação de Cuba da colónia, assim como incentivou outras nações da América Latina, a seguir-lhe os passos.
El cambio em Havana
Bebe-se café (mesmo que seja meia-noite) e, também, rum. Bebe-se para esquecer a morte de El Comandante, bebe-se para celebrar a noite de Natal em família, bebe-se porque se gosta, bebe-se porque se bebe. O rum anima a conversa.
A mudança está vincada nas fachadas, são inúmeros os prédios a serem recuperados, incluindo, o capitólio, um dos mais emblemáticos edifícios de Havana – sede do congresso cubano durante vários anos e agora casa da Academia Cubana de Ciências e, desde 2010, declarado monumento nacional.
Por todas as ruas, os prédios crescem em altura – alguns com intervenção de fundo, outros com obras rudimentares – para acrescentar mais um piso, mais um espaço, mais um quarto, para a família que entretanto aumentou de tamanho.
Nas “calles” de Cuba, fazem-se filas para o pão, mas são duas filas distintas, uma para cubanos e outra para estrangeiros. E não é permitida a venda a estrangeiros na fila “nacional”, embora tenha conseguido furar essa regra com a ajuda de um simpático cubano.
A espera não é muito longa. Em alguns locais, o pão vende-se no mesmo local em que os cubanos recolhem a comida racionada. Uns metros à frente, outra fila para o talho – algo que em Cuba se caracteriza da seguinte forma: carne pendurada ao ar livre nos orifícios de uma janela, na fachada de um prédio.
Se como estrangeiro, sempre que se viaja, é importante transportar o passaporte, já em Cuba é vital, para os cidadãos nacionais, terem em sua posse o pequeno livro de senhas que lhes permite recolher os mantimentos das “tiendas”. Porém, pouco mais se vende aí do que feijão, arroz e alguns enlatados.
Havana está em renovação, mas há muito por acabar e ainda muito mais por começar. Havana não é só beleza pura, arquitectura colonial, salsa, rum e charutos. As ruas enchem-se muitas vezes de amontoados de lixo, mas nem todos vêem esta parte de Havana, pois limitam-se às zonas polidas para turistas.
Muitos locais necessitam de limpeza diária que não existe. O nível de poluição atmosférico é atroz, devido aos gases dos carros que, de forma incrível, sobrevivem há décadas com reparações em cima de reparações.
Venezuela e (as cuecas de) Cristiano Ronaldo
As noites são quentes em Havana, os dias escaldantes. Quase todas as janelas têm barras de ferro, mas não porque Havana ou Cuba sejam inseguras – ou necessitem de protecção extra. Havana está sempre de portas e janelas abertas, para que o ar circule – mesmo que este seja quente – e porque é esta a forma de estar da cidade.
Faz-me lembrar as noites do Alentejo de outrora, onde era comum ver as gentes sentadas à porta de casa para deixar entrar o ar fresco. Isto ainda sucede no Alentejo, mas em muito menor escala.
Muitos habaneros, no interior, estão sentados em velhos sofás e cadeiras que os embalam para os ritmos latinos, emitidos por um potente sistema de som.
Quando a noite chega, cada casa parece uma discoteca ou dance club, onde se compete para ser o “rei do décibel”. Outros seguem o enredo de uma qualquer telenovela importada do país amigo e aliado – a Venezuela.
As velhas televisões estão ligadas quase 24 horas por dia e não importa o que lá se exibe: uma telenovela, ou – por estas semanas que estou em Cuba longos – a recordação de longos discursos de Fidel Castro.
Havana, como qualquer capital, é por norma o motor da economia e ainda mais no momento de abertura ao mercado americano. Encontro de tudo em Cuba e, sem hesitação ou surpresa, o nome de Ronaldo salta da boca dos Habaneros quando lhes digo que sou português.
Um deles, no entanto, excede tudo o que já tinha visto pelo mundo fora quando se fala do melhor jogador português: carteira, porta-chaves, t-shirt e… cuecas. Estas, confesso, não vi, nem sequer pensei em pedir para ver! E, felizmente, também não se ofereceu para me mostrar como fez com tudo o resto…
Percorro a pé 15 ou 20 km por dia, por toda a cidade de Havana, sem nunca me cansar. Pausadamente, sem pressas, descubro pequenas ruelas, sento-me à conversa, oferecem-me rum, debato política, sinto o aroma dos charutos. Só não falo de baseball, um dos desportos favoritos dos cubanos.
É esta a essência de Havana, uma cidade que muitos desperdiçam num dia apressado de viagem desde os horríveis hotéis e bonitas praias de Varadero.
A recepção calorosa que recebi em Havana não é excepção, pois esta repete-se por todo o país. Não tenho dúvidas de que outros povos são igualmente calorosos, mas o facto de poder comunicar na sua língua ajuda a que conversa seja fluente e sem barreiras.
Sou mais apreciador de paisagens rurais ou selvagens, de montanhas, de lagos, de desertos, de áreas naturais do que zonas urbanas, mas Havana é um daqueles locais que me acolhe sem complexos de superioridade, que inspira, que se absorve e que me questiona: quando vais voltar?
Em breve, prometo.
Informação extra
Duas moedas em Cuba. Qual usar?
Cuba dispões de duas moedas oficiais, cujo valor é totalmente distinto: o Peso Cubano Convertible (CUC) e o Peso Cubano (CUP). Como turista terá acesso a ambas, embora a mais utilizada por estrangeiros seja o CUC, cujo valor é igual ao dólar americano.
Já os cidadãos cubanos utilizam, por norma, o CUP que vale quatro vezes menos que o CUC, ou por outras palavras: 1 CUC = 25 CUP. Talvez necessite do CUP para alguns bens de primeira necessidade. Eu utilizei-o, por exemplo, para comprar pão.
Visto para Cuba
O visto para Cuba é obrigatório. Pode obtê-lo na Embaixada de Cuba, em Lisboa, na Rua Pêro da Covilhã, No. 14 – aberta das 9h30 às 12h00 e das 15h00 às 17h00. No momento de saída do país, tem de pagar taxas locais (25 CUC).
O passaporte deve ser válido, pelo menos, até ao fim da estadia. Nenhum período adicional de validade é necessário. Um Cartão de turista é válido apenas para uma entrada e para uma estada de 30 dias em Cuba, extensível no país por mais 30 dias.
Como chegar a Havana
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Restaurantes em Havana
Em Havana, tem bastantes restaurantes por onde escolher, mas eu recomendo dois: Los Locos por Cuba. É um pequeno restaurante familiar, modesto, onde a comida é simples e o preço barato.
Se quiser algo mais “fashion” – ou se quiser impressionar o companheiro ou companheira de viagem – opte pelo restaurante El Biky. A comida é saborosa, com particular ênfase no polvo. O interior está bem decorado e o serviço é de qualidade, embora os preços sejam mais elevados.
Em qualquer dos casos, é melhor ir cedo, pois ambos são populares e as filas formam-se à porta.
Hotel em Havana
A oferta em Havana é tanta que é quase impossível recomendar um local para ficar. Eu optei por ficar na casa particular Viky, longe do centro histórico, mas mesmo assim em Havana Velha.
Optei por esta localização para poder caminhar até ao centro através de ruelas e zonas menos frequentadas por turistas, contactando com locais pelo caminho. Pode utilizar o Booking.com para escolher um dos muitos locais para dormir na capital de Cuba.
Seguro de viagem
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
Já estive em 60 países, por isso se tiver uma viagem em mente com um grupo de amigos, familiares ou colegas de trabalho, contacte-me e terei todo o prazer em planear, organizar e liderar a viagem que deseja. O roteiro poderá ser desenhado à medida, assim como o orçamento e actividades.
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