Sinto na testa, na nuca o calor das Barrancas del Cobre e no corpo e mente a excitação de viajar a bordo de El Chepe, no México. Há muito tempo que tinha planeado viajar neste comboio – uma das viagens de comboio consideradas mais bonitas do mundo – em ritmo lento por 16 horas de percurso. Não é uma viagem para fazer apressada, é para aproveitar e admirar a Sierra Madre.
Este comboio de passageiros – o único no México – percorre 653 km entre as cidades de Chihuahua e Los Mochis. A viagem passa por 37 pontes e 86 túneis, subindo até 2400 metros acima do nível do mar, entre paisagens arrepiantes na região conhecida como a Sierra Madre – parte integrante da Cordilheira Americana.
A região é habitada desde há muito tempo pelas comunidades índias Tarahumaras ou Rarámuri – o que significa corredores a pé. E é, de facto, a pé que muitos ainda batem todo o território, embora veja alguns a bordo de El Chepe. Estes habitantes nativos da região das Barrancas Del Cobre são conhecidos pela resistência física e técnica de corrida que lhes permitiu obter os primeiros lugares em ultramaratonas.
Cerocahui – onde nada acontece
Parto a minha viagem em dois segmentos, para poder explorar a pé e de carro a Sierra Madre. Percorro, primeiro o percurso de comboio até Creel e, depois sigo de minivan até Cerocahui, onde previ ficar por dois dias para também espreitar a fantástica paisagem do topo do Mirador Cerro Del Gallego.
Seguimos nove pessoas numa velha carrinha, sem ar condicionado, pela estrada poeirenta. Uma estrada esventrada para facilitar o acesso às populações locais, mas com bermas de cortar a respiração. O calor supera os 35 graus, mas os passageiros locais não parecem importar-se demasiado.
Em Cerocahui, não se faz nada, absolutamente nada. Ouvem-se galos, ovelhas e alguns pássaros. Os relógios de pulso e sineiro não se atrasam, mas os ponteiros não rodam em corropio
Cerocahui é uma pequena população rural, com uma praça central onde pontifica uma pitoresca igreja de fachada castanha, em que o sino da torre anuncia vagarosamente o passar de cada hora. Vários vitrais coloridos nas janelas escondem o interior e nem mesmo pela porta entreaberta se consegue vislumbrar o altar.
Tinha previsto ficar aqui duas noites, mas perante a ausência de algo que me prendesse, decidi riscar um dia do roteiro e rumar a outras paragens. Consulto o horário de El Chepe e na tarde do segundo dia, despeço-me e corro à procura do comboio em Bahuichivo.
Armados até aos dentes
Depois de vários minutos de espera em Bahuichivo – El Chepe nem sempre anda a horas – sente-se o frenesim quando surge a locomotiva do Ferrocarril Chihuahua al Pacífico. Locais e turistas apressam-se a colocar às costas os pertences. A azáfama é enorme, mas não havia razão para tanta pressa, pois o comboio demorar-se-ia por largos minutos.
Ainda antes de entrar para umas das carruagens, deparo-me com vários polícias armados “até aos dentes” – incluindo metralhadoras. Estão ali para garantir a segurança de todos os que viajam em El Chepe, algo aliás habitual – militares e polícias são avistamento comum nas ruas e transportes mexicanos.
A paisagem, a partir de Bahuichivo, torna-se mais apelativa, entre viadutos pintados de amarelo, que quase se confundem com os pequenos arbustos e ervas que povoam as encostas e escarpas. Rios serpenteiam a Sierra Madre, os picos das montanhas aglomeram-se, como se estivessem em competição para ver quem chega mais alto.
Perco a conta ao número de pontes, viadutos e túneis que El Chepe atravessa. Várias das pontes erguem-se sobre leitos de rios completamente secos.
O calor diminui, o sol desliza lentamente pelo horizonte, as tonalidades ficam ainda mais douradas. Em breve, a noite cairá e enquanto contemplo as pinceladas finais deste cenário de beleza natural das Barrancas del Cobre, vislumbro a placa de uma localidade com um nome que me faz sorrir: “El descanso”…
Em Los Mochis, dezenas de taxistas esperam a chegada da longa viagem do Chepe e o desembarque dos passageiros locais e turistas (a maioria). Alguns cansados, outros ainda excitados depois do espectacular percurso pelas Barrancas del Cobre. A cada segundo, repete-se o ritual: desembarcar, arrastar as malas até à saída da estação de Los Mochis, negociar com os taxistas e entrar num carro para o destino final.
Repito, também eu, esses gestos e – depois de acertada a bandeirada – dou indicação ao taxista para me levar até ao porto, onde iria nessa noite viajar no ferry para Cabo San Lucas, na Baixa Califórnia.
Sinal (oa) inesquecível dos cartéis de droga
O estado de Sinaloa é um dos mais violentos do México e onde vários cartéis de droga mexicanos operam activamente. Aliás, a Sierra Madre, por onde passa El Chepe é um dos lugares predilectos para operações clandestinas dos cartéis. Este cartel é tão poderoso que é considerado pelos EUA como “a mais poderosa organização de tráfico de droga do mundo”.
O cartel – liderado até há pouco tempo por “El Chapo” (agora detido nos EUA) – é responsável por dezenas de mortos e domina o tráfico de marijuana, cocaína e heroína nos estados de Sinaloa, Durango e Chihuahua.
A informação que tinha recolhido sobre Los Mochis já me tinha convencido de antemão que a cidade iria ser uma passagem tão breve quanto possível no meu roteiro pelo México. Conversava de forma relaxada com o taxista sobre a viagem pelas Barrancas del Cobre, quando o bate-papo é interrompido pelas notícias às 22h00 na rádio local.
O taxista aumenta o volume e a história principal é anunciada: “Otro asesinato en Los Mochis”. Segue-se a ligação em directo ao local do crime e o jornalista relata com detalhe (mórbido) o sucedido.
Menos de um minuto depois, o trânsito – que fluía sem problema – abranda e vê-se um grande aglomerado de pessoas na borda do passeio. No alcatrão, vejo um homem de camisa branca ensanguentada no peito e o seu corpo, aparentemente, já sem vida.
O taxista não tem dúvidas: foi mais alguém que cruzou caminhos com o cartel e foi “eliminado”. Não sei se esta era a situação a que se referia o repórter nas notícias das 22h00 ou se “apenas” mais um crime promovido pelos cartéis de droga mexicanos.
Los Mochis é o final da linha para todos os passageiros do Chepe e, além de alguns cidadãos mexicanos, são poucos os que ficam nesta cidade do estado de Sinaloa. A minha passagem por Los Mochis foi curta, mas marcante.
Da ficção para a realidade num fechar de olhos
Em Bahuichivo onde voltei a subir ao comboio – dois dias depois da partida desde Chihuahua. Ainda antes de ver El Chepe de novo, um comboio de vagões passa a ritmo acelerado e entre cada vagão consigo vislumbrar várias pessoas que se tentam esconder à sua passagem.
Viajam de forma ilegal. Não sei para onde vão, ao que vão, mas talvez sigam para Norte, talvez fujam à miséria do seu país. Talvez venham de Los Mochis ou até da Guatemala ou das Honduras.
Um dos livros que li antes de chegar ao México – La Travessia de Enrique ou A Odisseia de Henrique – narra o inesquecível trajecto de um rapaz hondurenho à procura da mãe – onze anos depois desta ter sido forçada a deixar para trás a família faminta e a rumar aos EUA.
Este livro da jornalista Sonia Nazario, vencedora do Prémio Pulitzer, é o dramático relato da vida dos emigrantes ilegais que sonham com uma vida longe da miséria – um tema tão actual agora como em 2006, quando pela primeira vez foi publicada a obra literária.
E, naquele momento, que vejo aquelas pessoas quase esmagadas entre os vagões, com ar desolador, roupa suja e ar faminto, passa-me pela memória, o relato cruel, mas fiel, de Sonia Nazario.
Informação extra
Como chegar às Barrancas del Cobre
A forma mais fácil de chegar às Barrancas del Cobre é apanhar um voo interno, porventura desde a cidade do México para Los Mochis ou Chihuahua. Eu uso sempre o Skyscanner, para pesquisar de forma rápida os voos internacionais e internos.
Das vezes que estive no México utilizei várias companhias aéreas para percorrer largas áreas do território mexicano, incluindo companhias como Volaris, Interjet ou Viva Aerobus.
Hotel nas Barrancas del Cobre
Não existem muitos hotéis nas Barrancas del Cobre, portanto se quer fazer esta viagem de comboio a bordo de El Chepe, recomendo que marque tudo com antecedência. E se quiser ficar num hotel especial ou quiser surpreender alguém com vistas de pasmar, escolha o hotel Hotel Divisadero Barrancas ou, em alternativa, o Hotel Mirador Posada Barranca. Em ambos os casos, as vistas panorâmicas são arrebatadoras e os hotéis também.
Estes são outros hotéis que recomendo nas cidades por onde passa o comboio El Chepe:
Hotel em Chihuahua
Recomendo o hotel Microtel Inn and Suites, bastante acolhedor e excelente para uma noite antes de embarcar bem cedo no comboio. Outra excelente opção é o Sheraton Chihuahua Soberano. O preço é semelhante para ambos os casos (60€). Se preferir algo mais básico e com um preço mais baixo (menos de 50€), aconselho o One Chihuahua Fashion Mall e o óbvio Ibis em Chihuahua.
Hotel em Los Mochis
Se não tiver outra opção a não ser ficar em Los Mochis, irá conseguir um hotel em conta e com boa qualidade. A opção mais simpática, no que diz respeito ao preço e qualidade, é o Hotel Fenix, com preços a partir de 27€.
O Ibis Los Mochis também tem óptimas referências e uma tarifa a condizer (37€). Outras excelentes opções para pernoitar em Los Mochis são o City Express Los Mochis ou Fiesta Inn Los Mochis, embora com tarifas superiores ao que recomendo acima.
Hotel em Creel
Com quartos que acomodam até oito pessoas, o Hotel Ecológico Temazcal é uma excelente opção. Fica a curta distância da estação de comboio e uma noite num quarto duplo custa apenas 28€.
Se quiser algo com um nível superior, opte pelo Hotel La Estacion, com decoração cuidada e de bom gosto. Se a sua bolsa permitir e quiser fugir ao calor e aproveitar um local ainda mais relaxante, então pode escolher o Best Western PLUS The Lodge Hotel & Spa.
Hotel em El Fuerte
O melhor hotel em El Fuerte é, sem dúvida, o Hotel Posada del Hidalgo. É que além de ser uma unidade hoteleira de requinte, incluindo piscina e spa, é supostamente, o local de nascimento de Zorro. O hotel, criado a partir de uma mansão do século XIX, é espectacular, bem decorado e serve comida que nos deixa a salivar.
Se pretender algo mais barato, recomendo o Hotel Rio Vista ou o Hotel El Fuerte.
Hotel em Los Cabos
Se por acaso decidir (como eu) apanhar o ferry para se banhar nas belas águas de Los Cabos, na Baixa Califórnia, então sugiro alguns hotéis onde dormir descansado.
Em Cabo San Lucas existem imensos hotéis por onde escolher e para todas as bolsas. Por exemplo, o Cabo Vista Hotel (a partir de 50€), o Marina View Villas (112€) ou até um hostel junto à marina, com óptimas opiniões dos clientes – Mayan Monkey Hostel Cabo – a partir de 18€ para cama em dormitório e 93€ para uma noite num quarto duplo.
Seguro de viagem
Foi no México que tive de activar o seguro de viagem, devido a uma emergência hospitalar, por isso digo-lhe o que sempre menciono aos meus amigos: é preciso viajar sempre com seguro de viagem. Recomendo a IATI Seguros (se usar este link tem 5% de desconto). São os melhores seguros de viagem e a preços competitivos.
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Organizo e lidero viagens em grupo para destinos que conheço bem. E só faço viagens com pequenos grupos (máximo de 12 pessoas).
Já estive em 60 países, por isso se tiver uma viagem em mente com um grupo de amigos, familiares ou colegas de trabalho, contacte-me e terei todo o prazer em planear, organizar e liderar a viagem que deseja. O roteiro poderá ser desenhado à medida, assim como o orçamento e actividades.
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