2013 ou 2014 terão sido os anos máximos das selfies e desde aí o fenómeno inundou as redes sociais, mas este tipo de fotos parece ter, agora, os dias contados. As últimas tendências nas publicações de celebridades e até na procura do termo nas pesquisas do Google estão em queda, havendo quem sugira que este ano seja o fim da linha para este movimento, também apelidado pela Times Magazine como “The ME ME ME Generation”.
Se efectuar uma pesquisa no Instagram, verá que o número de publicações com a hastag #selfie supera largamente os 300 milhões. As selfies tornaram-se indispensáveis no quotidiano de jovens anónimos e das celebridades. E o uso intensivo, excessivo, deste tipo de fotografia serviu para as figuras públicas mostrarem o seu dia-a-dia e as tornarem mais “humanas” e para esses famosos se aproximarem dos fãs.
Da mesma forma que a generalidade das redes sociais deram a qualquer cidadão uma voz, as selfies deram-lhes uma face. Políticos, desportistas, actores, em qualquer indústria ou actividade não ficaram à parte deste movimento.
E a imprensa sensacionalista também se juntou ao pelotão, tornando qualquer pessoa numa celebridade momentânea, um pouco semelhante aos “15 segundos de fama na televisão”.
Selfies – o último acto
De acordo com um estudo do All India Institute of Medical Sciences, entre Outubro de 2011 e Novembro de 2017, mais 259 mortes terão ocorrido em todo o mundo devido a acidentes para registar uma selfie. O relatório revelou que a principal causa de morte era afogamento, seguida de acidentes envolvendo transportes – como fotografar-se à frente de um comboio – e quedas de locais altos.
Outras causas de morte incluem animais, armas de fogo e eletrocussão. Mais de 85% das vítimas tinham entre 10 e 30 anos. A maior parte dos acidentes ocorreu na Índia, mas também nos EUA e Rússia, por exemplo. Portugal e Brasil também constam da lista de locais onde pessoas perderam a vida a tentar tirar uma foto deste tipo.
O relatório do All India Institute of Medical Sciences já está, neste momento, desactualizado, porque os acidentes continuam a registar-se e até a Wikipedia tem uma página com os últimos dados. À data em que escrevo, o último acidente mortal aconteceu com uma jovem da Índia nas Falésias de Moher, na Irlanda. A proliferação das selfies foi mais evidente na Índia e devido ao elevado número de acidentes, em Mumbai, foram criadas zonas de exclusão.
Esta celebração da própria imagem tornou-se tão popular que o Museu das Selfies foi criado na Califórnia para explorar o tema (e lucrar com isso). Trata-se de um local interactivo que documenta a ascensão da selfie e, quem sabe, o seu último acto. “Quer ame ou odeie selfies, depois de uma visita ao Museu das Selfies em Hollywood, nunca mais as verá da mesma forma!”, é o mote do novo museu.
A face negra das selfies
As selfies ultrapassaram o limite da auto-fotografia ou do auto-retrato. Exemplo disso, é a selfie dos líderes dos EUA, Reino Unido e Dinamarca, Barack Obama, David Cameron e a Helle Thorning-Schmidt durante a cerimónia fúnebre do líder sul-africano Nelson Mandela, em 2013. Ou no mesmo local, com o antigo presidente dos EUA, George W. Bush e Bono, vocalista dos U2.
Ou ainda mais recentemente, onde as regras do Parlamento britânico foram violadas pelos próprios deputados, durante uma votação história em que a primeira-ministra, Theresa May, foi derrotada de forma humilhante numa votação sobre o Brexit. A foto mostrava os deputados do partido Conservador a votarem ao lado dos Trabalhistas – algo extremamente raro.
A popularidade das selfies tornou-as quase obrigatórias e com imitações nos dois sentidos: fãs que copiam os ídolos e ídolos que também se viram forçados a seguir o movimento, numa aproximação entre as massas e as elites. O selfie stick ou pau de selfie tornou-se imprescindível, quase tanto como o próprio telemóvel.
O fenómeno das selfies foi tão avassalador que até as próprias redes sociais foram obrigadas a reagir e a bloquear conteúdo que apresente comportamentos pouco éticos. Um dos exemplos mais flagrantes foram fotos que mostram pessoas a fotografar-se ao lado de vida selvagem – golfinhos, coalas, mas também tigres ou leões.
Se efectuar uma pesquisa no Instagram por hastags como #lionselfie ou #tigerselfies, entre outras, irá ver um aviso a mencionar a crueldade para com os animais em risco de extinção. As imagens não foram totalmente bloqueadas, mas foi esta a forma subtil do Instagram ter acedido à pressão dos defensores da vida selvagem. O exemplo das selfies com animais selvagens é, na minha opinião, lamentável e o bloqueio subtil do Instagram não é resposta suficiente para exterminar selfies deste género.
A minha opinião sobre as selfies
Para mim, as selfies foram mais uma forma das redes “sociais” tornarem a maior parte dos cidadãos em vítimas da solidão colectiva, do isolacionismo civilizacional, da veneração de elites e dos próprios. Basta atentar ao número de seguidores de alguns famosos nas redes sociais.
No entanto, as selfies foram apenas mais uma (con) sequência de um fenómeno mais abrangente – o do imediatismo. Viajar, por exemplo, tornou-se para muitas pessoas apenas uma sequência de eventos: “picar pontos”, acrescentar carimbos no passaporte, fotografar os destinos de forma apressada, tirar auto-retratos (selfies) em situações insólitas, irresponsáveis e até perigosas.
Para depois, finalmente, partilhar no Facebook ou Instagram e contar o número de “gostos” e ficar radiante ou frustrado, consoante o volume de aprovação dos “amigos” nas redes sociais.
O fenómeno das selfies, contribuiu, do meu ponto de vista ainda para um outro problema que muitos locais agora enfrentam – o excesso de turismo. Diga-se que as selfies não são uma novidade dos tempos modernos, existem desde 1839, com uma ressalva: essas imagens ou pinturas eram, na esmagadora maioria, exclusivo dos próprios artistas.
Foram, todavia, as redes sociais que transformaram a selfie em algo mais genérico, menos criativo, mais banal e, em muitos casos, mortífero. E das selfies individuais passamos rapidamente para as selfies colectivas, enquanto jantamos, estamos no teatro, no estádio ou em qualquer outro local, para – de uma forma inequívoca – dizer aos seguidores ou amigos: “Sim, estou ou estamos aqui”.
Sou sincero e, se, as selfies tiverem mesmo o fim à vista, da minha parte não deixam saudades. Confesso que não tenho qualquer interesse em selfies, prefiro estar atrás da câmara e da objectiva e captar os momentos, monumentos, paisagens e pessoas que considerar interessantes. Prefiro usar o meio fotográfico para registar a beleza do mundo que nos rodeia, do que a minha própria imagem.
Claro que também quero ter algumas fotos minhas durante as viagens que faço, mas abdico fácil e totalmente da selfie. Prefiro solicitar a ajuda de quem viaja ao meu lado ou das pessoas que partilham o espaço comigo naquele determinado momento. Já perdi a conta ao número de vezes que outros viajantes me pediram para tirar fotos – algo a que acedo sem problema.
Se me encontrar por aí, faça o favor de me pedir para o fotografar. Terei todo o prazer e não lhe vou cobrar nada pelos meus serviços. O que é melhor do que um stick? Dois braços. Quem sabe se não ficamos amigos e vamos a seguir beber um copo e partilhar histórias de viagens.
PS – Se estiver à espera de ver selfies na minha conta de Instagram, vai ficar desiludido…
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